sábado, julho 07, 2012

Nyussi entra na lista de sucessores de Guebuza

O nome do actual ministro da Defesa, Filipe Jacinto Nyussi, passou nas últimas semanas a ser objecto de conjecturas, em meios do próprio regime, que o apresentam como reunindo boas condições para vir a ser escolhido como candidato da FRELIMO às eleições presidenciais de 2014; uma dessas condições é a de ser favorito dos macondes.


O actual Presidente, Armando Guebuza, confirmou recentemente a intenção que já se supunha ser a sua de se retirar da direcção da Presidência da República no termo do segundo e último mandato, mas é notório que está determinado a influenciar a escolha da personalidade a apresentar pela FRELIMO às próximas eleições presidenciais.

As figuras até agora dadas como gozando da sua preferência eram Aires Bonifácio Aly, actual Primeiro- Ministro, e António Sumbana, ministro da Presidência (chefe da Casa Civil). José Pacheco também é indicado, embora se reconheça que não dispõe de condições para se impor (sequelas do seu anterior desempenho como ministro do Interior). Nyussi, maconde, é oriundo de uma família que teve participação activa na luta da independência.

É engenheiro de profissão; teve um percurso fulgurante nos Caminhos de Ferro de Moçambique. A sua nomeação para o cargo de ministro da Defesa já foi reflexo de influências internas radicadas na sua origem maconde.

2 . O candidato da FRELIMO deverá ser formalmente dado a conhecer num congresso anunciado para Setembro de 2012 – ponto culminante de um processo que tem vindo a condicionar a política interna. Apesar de pouco perceptíveis, há movimentações de sentido diverso por parte de figuras ligadas às alas da FRELIMO.

As duas principais alas internas estão conotadas com Armando Guebuza e com o antigo Presidente, Joaquim Chissano.

Têm dimensão equivalente (em termos de influência política e de base de apoio), razão pela qual ainda se considera incerto qual das duas será mais bem sucedida no forcing destinado a influenciar a escolha do candidato.

A influência de cada uma das alas depende da sua capacidade para captar o apoio de figuras aparentemente neutras – Graça Machel, p ex. Informações anteriores que a apresentavam como eventual candidata são minimizadas internamente; apenas se reconhece que espera “ser ouvida” no processo de escolha do candidato.

3 . António Sumbana, pertencente a uma das “famílias da FRELIMO” (um irmão, Fernando, é ministro do Turismo), é mais próximo de Armando Guebuza do que Aires Bonifácio Aly. Tem também a vantagem de ter estreitas ligações aos chamados antigos combatentes, incluindo chefes dos mesmos como Alberto Chipande e outros.
O facto de ser originário do Sul do território (Manhiça, etnia ronga) coloca-o em desvantagem face a Aires Bonifácio Aly, que é do Niassa.

Nos últimos anos entraram no debate político interno questões consideradas delicadas como a dos equilíbrios étnicos e regionais do partido e do regime – cuja importância tende a crescer.

A origem dita sulista de todos os presidentes da FRELIMO e, por inerência, da República, avivou uma sensibilidade, com repercussões na sociedade, que julga chegado o momento de eleger um nortenho.

Armando Guebuza, apesar de nascido em Murrupula, Nampula, é de origem ronga (os seus progenitores estavam ocasionalmente ali).

A aplicação do conceito de nortenho aos macondes baseia- se em factores geográficos igualmente extensivos aos oriundos do Niassa; só os macondes, porém, beneficiam de circunstâncias políticas que os valorizam especialmente, como a da sua participação na luta de libertação.

4 . A nomeação de Filipe Nyussi como ministro da Defesa, em 2008, foi especialmente ditada pela necessidade, sentida por Guebuza, de compensar a saída, então ocorrida, do ex-Chefe do Estado- Maior General das Forças Armadas (EMGFA), General Lagos Lidimo, um maconde, histórico da FRELIMO e também próximo de Joaquim Chissano.

A atenção que na sua acção política Guebuza habitualmente presta à preservação/ consolidação dos equilíbrios étnicos manifesta-se especialmente em relação aos macondes – que em geral se queixam de marginalização social e política, vista como “negação” do papel que desempenharam na luta da independência.

Na cerimónia de posse do novo CEMGFA, General Paulino Macaringue, Guebuza elogiou ostensivamente o antecessor, Lidimo; a seguir foi a Cabo Delgado prestar homenagem a um dos guerrilheiros macondes da FRELIMO, Tomás Nduda; por fim nomeou ministro da Defesa um maconde, Filipe Nyusi.

Fonte: Correio da Manhã in @Verdade – 06.07.2012

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