O nome do actual ministro da Defesa, Filipe Jacinto Nyussi, passou nas
últimas semanas a ser objecto de conjecturas, em meios do próprio regime, que o
apresentam como reunindo boas condições para vir a ser escolhido como candidato
da FRELIMO às eleições presidenciais de 2014; uma dessas condições é a de ser
favorito dos macondes.
O actual Presidente, Armando Guebuza, confirmou recentemente a intenção que
já se supunha ser a sua de se retirar da direcção da Presidência da República
no termo do segundo e último mandato, mas é notório que está determinado a
influenciar a escolha da personalidade a apresentar pela FRELIMO às próximas
eleições presidenciais.
As figuras até agora dadas como gozando da sua preferência eram Aires
Bonifácio Aly, actual Primeiro- Ministro, e António Sumbana, ministro da
Presidência (chefe da Casa Civil). José Pacheco também é indicado, embora se
reconheça que não dispõe de condições para se impor (sequelas do seu anterior
desempenho como ministro do Interior). Nyussi, maconde, é oriundo de uma
família que teve participação activa na luta da independência.
É engenheiro de profissão; teve um percurso fulgurante nos Caminhos de
Ferro de Moçambique. A sua nomeação para o cargo de ministro da Defesa já foi
reflexo de influências internas radicadas na sua origem maconde.
2 . O candidato da FRELIMO deverá ser formalmente dado a conhecer num
congresso anunciado para Setembro de 2012 – ponto culminante de um processo que
tem vindo a condicionar a política interna. Apesar de pouco perceptíveis, há
movimentações de sentido diverso por parte de figuras ligadas às alas da
FRELIMO.
As duas principais alas internas estão conotadas com Armando Guebuza e com
o antigo Presidente, Joaquim Chissano.
Têm dimensão equivalente (em termos de influência política e de base de
apoio), razão pela qual ainda se considera incerto qual das duas será mais bem
sucedida no forcing destinado a influenciar a escolha do candidato.
A influência de cada uma das alas depende da sua capacidade para captar o
apoio de figuras aparentemente neutras – Graça Machel, p ex. Informações
anteriores que a apresentavam como eventual candidata são minimizadas
internamente; apenas se reconhece que espera “ser ouvida” no processo de escolha
do candidato.
3 . António Sumbana, pertencente a uma das “famílias da FRELIMO” (um irmão,
Fernando, é ministro do Turismo), é mais próximo de Armando Guebuza do que
Aires Bonifácio Aly. Tem também a vantagem de ter estreitas ligações aos
chamados antigos combatentes, incluindo chefes dos mesmos como Alberto Chipande
e outros.
O facto de ser originário do Sul do território (Manhiça, etnia ronga)
coloca-o em desvantagem face a Aires Bonifácio Aly, que é do Niassa.
Nos últimos anos entraram no debate político interno questões consideradas
delicadas como a dos equilíbrios étnicos e regionais do partido e do regime –
cuja importância tende a crescer.
A origem dita sulista de todos os presidentes da FRELIMO e, por inerência,
da República, avivou uma sensibilidade, com repercussões na sociedade, que
julga chegado o momento de eleger um nortenho.
Armando Guebuza, apesar de nascido em Murrupula, Nampula, é de origem ronga
(os seus progenitores estavam ocasionalmente ali).
A aplicação do conceito de nortenho aos macondes baseia- se em factores
geográficos igualmente extensivos aos oriundos do Niassa; só os macondes,
porém, beneficiam de circunstâncias políticas que os valorizam especialmente,
como a da sua participação na luta de libertação.
4 . A nomeação de Filipe Nyussi como ministro da Defesa, em 2008, foi
especialmente ditada pela necessidade, sentida por Guebuza, de compensar a
saída, então ocorrida, do ex-Chefe do Estado- Maior General das Forças Armadas
(EMGFA), General Lagos Lidimo, um maconde, histórico da FRELIMO e também
próximo de Joaquim Chissano.
A atenção que na sua acção política Guebuza habitualmente presta à
preservação/ consolidação dos equilíbrios étnicos manifesta-se especialmente em
relação aos macondes – que em geral se queixam de marginalização social e
política, vista como “negação” do papel que desempenharam na luta da
independência.
Na cerimónia de posse do novo CEMGFA, General Paulino Macaringue, Guebuza
elogiou ostensivamente o antecessor, Lidimo; a seguir foi a Cabo Delgado
prestar homenagem a um dos guerrilheiros macondes da FRELIMO, Tomás Nduda; por
fim nomeou ministro da Defesa um maconde, Filipe Nyusi.
Fonte: Correio da Manhã in @Verdade – 06.07.2012
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