Por Pedro Nacuo
É VERDADE que a hora esperada, mais que o anúncio dos resultados eleitorais, que todos adivinhavam, não era a tomada de posse do Presidente da República, porque esse acto era também inevitável, mas sim, ouvir os nomes de quem iria dirigir os diferentes ministérios e províncias, na qualidade de cidadãos confiados pelo Chefe do Estado, que já estava a usufruir do facto de ter sido preferido pela maioria dos moçambicanos.
A razão está no facto de que, ao contrário da figura do Presidente da República, no grupo desses cidadãos, encontram-se as diferentes identidades e afinidades dos outros pelo Moçambique fora. O poder fica mais próximo, quando se sabe que o primo foi nomeado ou reconduzido, o filho já é gente grande, o antigo colega de escola tem Ajudantes-de-Campo (AdC), a nossa divorciada conseguiu um cargo, o nosso antigo aluno já é ministro ou governador. O Governo do dia fica, no fim de contas, o espelho aonde todos se olham e quando viram as costas murmuram ou se exaltam de alegria.
Também a partir daí fica a sorte dos directores provinciais, dos administradores distritais, chefes de posto, das localidades, por aí além. Quer dizer, desde o dia 28 de Outubro que esperávamos mais este poder aqui em baixo, onde anima mais, porque exercido numa situação em que as diferenças são práticas, elas não existem em função das estatísticas, mas a olho nu, quando uma pessoa em todo o distrito é a única com carro!
Desta vez também houve muitos comportamentos estranhos por parte de quem pensava fizesse parte do referido grupo. Como das outras vezes rumores à volta de algumas figuras desfilaram. Os que tinham sido, directa ou indirectamente consultados pelo Presidente da República, já não conseguiam disfarçar, através duma mudança repentina de hábitos e costumes. Deixaram as barracas à nossa mercê. Transformaram-se, cedo em gente estranha aos seus ambientes normais. Outros recolheram os filhos da sua convivência habitual, as esposas desapareceram da circulação, para não comentarem patavina, alguns casamentos ficaram momentaneamente fortificados, para evitar a vergonha de todos os dias, outros, que se achavam solteiros, imediatamente começaram a encetar negociações para enlaces de logo a seguir.
Desapareceram os amigos de sempre, ora porque um sicrano da nomenclatura telefonou para desenvolver uma conversa que tudo indicava tivesse um mandato de especular as suas capacidades e a possibilidade de aceitar um cargo, em nome da confiança partidária ou competência profissional, ora porque beltrano terá sido perguntado se confirmava ou não a biografia de outrem, ou se era verdade que alguma entidade, em conversa, quis ouvir de novo que o camarada, apesar de tudo, é mais competente nos copos do que no que parece, etc.etc.
Apareceu a equipa. É óbvio, apesar de não parecer, que na província o mais importante é saber quem vai ser o governador. O ministro é esperado não pela província como território, mas a nível do respectivo sector, onde tudo se diz e desdiz em relação a quem já o era.
Desta vez, três governadores mantiveram-se nas províncias onde estiveram no lustro passado. Quando se anunciavam as continuidades houve quem repetiu uma frase não muito nova “ a incompetência premeia-se”. Chegou a nossa vez, o nosso governador volta a ser o nosso governador!
Primeiro deveria que vir ser apresentado. Depois deveria tomar a palavra como anterior governador. Depois voltaria a falar como o novo governador. É o problema de protocolo! Mas à mim não ficou só esta dificuldade, pois a grande está por vir, já que na verdade não vai ser novo perante a população. Acho que os administradores ao apresentarem-no, desta vez, não vão repetir o rosário da apresentação que nos habituaram a governador. É o mesmo! A dificuldade vai ser assumir todo o rol das actividades não realizadas.
Eliseu Machava terá que dizer à província por que é que Cabo Delgado manteve-se com sérios problemas de abastecimento de água durante os últimos cinco anos. Vai ter que dizer que não conseguimos resolver esse problema no mandato anterior. Provavelmente dirá mais: que neste vamos conseguir! Vão acreditar?
Vai ter que aceitar que a província está sem investimento sério nos últimos seis anos. Por outras palavras, dirá que não houve nenhum investimento novo que se preze, desde que Pacheco saiu de Cabo Delgado, se bem que a história dos petróleos não depende da capacidade local de montar os jazigos nem de negociar a sua prospecção e/ou exploração.
O novo governador de Cabo Delgado vai ter que desfilar as empresas que faliram no último mandato: IOA, Marmonte, vem aí a Plexus, apenas como exemplos, deixando milhares de trabalhadores sem emprego. Vai ser difícil dizer que isso aconteceu durante a minha governação e que neste mandato vou corrigir. Será difícil assumir que a exportação da madeira em toro não parou nos últimos cinco anos, tendo mudado apenas as tácticas dos operadores estrangeiros, já que agora quase nenhum nacional se mete em tal negócio, por mais promissor!
Dizer que nos últimos cinco anos fizemos apenas seis quilómetros dos cerca de 27, que separam, há 13 anos, a sede de Macomia à aldeia 5º Congresso, pode ser difícil, assim como pode não ser fácil o passo seguinte, prometer que havemos de concluir nos cinco anos presentes!
Será dificil visitar Balama, porque lá irá a mesma pessoa que no mandato anterior bastas vezes falou da possibilidade de por ali passar a esperada estrada asfaltada que vai ligar a provincia de Cabo Delgado a Niassa, assim como o discurso quando for para a inauguração da ponte sobre o rio Rovuma, terá que ser, certamente, o outro, não aquele que se poderia proferir se tal cerimónia não tivesse dois anos de atraso.
A vantagem, porém, está no facto de que o novo que é velho dirigente, vai evitar aquele exercício de primeiro perceber os diferentes “dossiers”, porque tem a história de todos os projectos falhados, outros em estado de coma, outros ainda dormentes e aqueles que ainda esperavam o seu posicionamento definitivo, como é o caso da produção de biocombustíveis em Ocua, distrito de Chiúre e Chipembe, em Balama…