União Africana (UA) versus Democracia
David Aloni
Quer-me parecer que o que há de mais
violento e dramático, na vida de um ser humano, é pensar e ter que pensar,
queira ou não; porque o simples facto de viver a isso o obriga,
imperativamente. E toda a problemática se resume no simples facto de o homem
ser um animal, não só racional, como também político, como nos ensina o
estagirita, Aristóteles.
Por conseguinte, pensar e ter,
necessariamente, que pensar é, também, o drama do articulista
destas linhas sobretudo quando, por amor, que presume
sentir pela sua pátria e pelo seu Continente, o Continente Negro,
é obrigado a ter que pensar e reflectir sobre a
diversidade e multiplicidade de factos e fenómenos sociais,
económicos e políticos que ocorrem e acontecem em África. Por isso,
seria caso e motivo suficiente para se vociferar e
gritar: Quem
me dera não poder pensar, para não sofrer tanto! ...
Só que o meu fado é que tenho mesmo que pensar,
por causa da minha racionalidade, que me distingue dos irracionais.
O Kenya de Nzee Jomo Kenyata
fez-me pensar muito, nos últimos meses. O Xenofobismo
negro contra outros negros, na África do Sul,
perturbou-me a mente e deixou-me confuso e desorientado. Seguiu-se
o Zimbabwe. Uma autêntica paranóia de descalabros
políticos, sob a liderança déspota de um psicopata, que se chama Robert
Gabriel Mugabe, menino bonito de Angola e da Namíbia;
menino bonito das lideranças políticas da África do Sul, de Moçambique,
países esses que morrem de amores por aquele presidente
negro-africano. Um verdadeiro fora-da-lei que não quer saber
absolutamente nada da Democracia, porque não lhe interessa, da
mesma maneira que parece não interessar mesmo à
maioria esmagadora dos actuais Presidentes e Chefes de
Governo com direito a assento nas Cimeiras da (UA).
Depois de uma precipitada
palhaçada e trágico-cómica tomada de posse, domingo à noite,
29/06/2008 do psicopata presidente, “reeleito“(?) na farsa
eleitoral de 27 de Junho de 2008, e sob inspiração do
espírito das trevas, na manhã de 30 de Junho de 2008, segunda-feira,
inaugurava-se a XI Cimeira da UA, na famosa estância turística
egípcia de Sharm El-Sheik com uma agenda muito ambiciosa e
cujos objectivos, só por milagre do Alto, é que os
Líderes africanos poderiam cumprir e realizar com
êxito.
E como em África tudo é
possível, até o inverosímil acontece. Lá estava (e porque não) o maníaco
presidente que acabava de tomar posse a escassas horas da
abertura da Cimeira, no Egipto. Com muita naturalidade (?), própria
de um cara-de-pau ocupou o assento reservado ao legítimo presidente do
Zimbabwe. Ninguém tugiu nem mugiu. Mugabe apresentou-se como um
herói e “campeão do Estado de Direito ( Rule of
Law).
Por isso, ninguém o incomodou. Antes pelo contrário. É que, por
estranho e incrível que possa parecer, o que se está a passar no
Zimbabwe é natural e normal. É uma questão de soberania. Só
que se está a esquecer ou ignorar, por conveniência política, que a
soberania reside no povo”, e nunca nos líderes e dirigentes políticos.
Nos discursos de abertura (da
praxe)
da XI Cimeira da UA, nenhum presidente ousou condenar o
Zimbabwe, a violência, a intolerância e a tirania
prevalecentes, naquele país vizinho de Moçambique, também ninguém se
atreveu a propor qualquer sanção contra o Zimbabwe. É tudo muito estranho
e misterioso, e não admira. São todos uns bons comparsas, nunca podem ter
a consciência tranquila. Por isso, e que se saiba, democracia é um projecto
adiado para África. Portanto “For the time being” (para
já) não interessa aos actuais líderes Africanos.
Estou desiludido com a liderança
africana da actualidade, mas não estou desesperado, porque as
jovens gerações saberão como dar-lhe a volta e
não tardará muito que isto aconteça. O Botswana e a Zâmbia já fazem
a diferença, na África Austral, e o Líder da Renamo trouxe na sua
bagagem, de regresso de Paris uma boa mensagem, que deveria constituir um TPC
para todos os moçambicanos, que nutrem algum sentimento genuíno e
sincero de solidariedade para com o povo irmão do Zimbabwe, o qual, hoje, mais
do que nunca, necessita de libertação, porque só com essa
segunda libertação é que se lhe poderá restituir, não
só a dignidade como seres humanos com direitos, deveres e obrigações
sociais, morais, cívicos, políticos e patrióticos, como também usufruir
do bem-estar material e espiritual que o regime
ditatorial de Harare, sob a liderança de Robert Mugabe, lhe tirou e
privou, deixando-o na miséria, sem precedentes na história do
Zimbabwe.
Afonso Dhlakama propõe, sem
pestanejar nem gaguejar: uma das medidas para pôr o Ditador e
sanguinário Robert Mugabe na linha e restituir a dignidade
aos zimbabweanos seria encerrar a Embaixada (Alto Comissariado) do
Zimbabwe, em Maputo e correr com o respectivo Embaixador. Depois,
interditar a passagem de mercadorias e outros itens do e para
Zimbabwe, pelos portos moçambicanos, nomeadamente, de
Maputo, Beira e Nacala.
O regime de Harare precisa de uma boa
lição para deixar de brincar com o povo. Urge pôr-se Mugabe de joelhos!
Com as palmadinhas nas costas,
Mugabe até se sente aconchegado e acarinhado pela
solidariedade ideológica dos camaradas, tanto da SADC, quanto da
UA.
Esta é a liderança que os
povos africanos têm. Urge inverter-se a situação! Já chega de
vergonha para os africanos dignos deste nome.
Infelizmente, e para desgraça de África a
fórmula política do Kenya já pegou moda !.....
Matola, Julho, de 2008
SAVANA – 22.08.2008