Desfile de motorizada e bicicleta vindicam Aiuba
Por Nelson de Carvalho em Muecate
- Estávamos a espera desse sinal porque Moçambique de hoje é livre e ninguém deve e pode prender o outro por poder financeiro, nem governamental – Marcos Moisés, cidadão de Muecate
• O administrador negou receber o valor, porque está a se sentir à nora, muito antes já havia lhe dito para ele não avançar com o julgamento mas pela arrogância avançou e tudo esta atrás dele sem saber como sacudir– delegada do IPAJ em Muecate, Mariamo Braimo
- Aiuba recebeu 10.000,00 Mt. em ofertas, o montante porque queria vender a sua palhota
Motas e bicicletas assinalaram a chegada a Muecate do dinheiro para salvar o mecânico Aiuba Assane de nova prisão, depois de ser condenado sumariamente por ter dado a sua opinião sobre o desempenho do administrador local, Adelino Fábrica.
Logo que a última edição do SAVANA chegou às ruas, vários cidadãos indignados com os arbítrios cometidos num simulacro de julgamento em Muecate e os 22 dias de prisão impostos ao mecânico Aiuba, declararam a sua disponibilidade para pagarem as custas judiciais e a indemnização arbitrada a favor do “ofendido”, o administrador Fábrica.
Um conhecido jurista e elementos ligados a uma das universidades privadas sedeadas em Maputo prontificaram-se a fazer os pagamentos a favor de Aiuba. Num processo intermediado pelo jornal, o jurista transferiu esta segunda-feira 6.000,00 meticais para uma conta no Namialo, pois não há banco em Muecate e a universidade juntava mais 4.000,00, quarta-feira.
Terça-feira, Aiuba Assane e os seus familiares foram ao banco no Namialo para levantarem a primeira tranche das contribuições. De regresso a Muecate, os populares concentrados junto à oficina pediram para ver “a cor do dinheiro”. A salvação do desafortunado mecânico gerou uma manifestação espontânea, daquelas que não é preciso a burocracia de pedir autorização policial.
Na presença do colabora¬dor do SAVANA em Nampula, cerca de cinquenta ciclistas e quinze motociclistas fizeram-se às ruas poeirentas da vila para dar um sinal de agradecimento ao gesto feito para o jovem Aiuba Assane. Houve gritos “Aiuba salvou das garras do Fábrica, Aiuba salvou das garras do Fábrica” e uma parte dos funcionários da administração local estiveram presentes como sinal de repúdio do comportamento déspota Adelino Fábrica.
Quando questionámos os presentes da causa da marcha soubemos daqueles num coro que “o distrito está salvo”. “Todos estávamos aflitos pela detenção do jovem mecânico de motorizadas que muito tem feito para erradicar a pobreza no seio dos seus familiares”, disseram-nos. Aliás falaram-nos que quando ele estava na cadeia o distrito sentiram a sua falta porque a maioria dos professores tinha armazenado as suas motorizadas devido a avarias.
Momade Araújo, de 45 anos de idade, natural de Muecate, disse não saber como agra¬decer ao jornal e às pessoas que tiraram o valor para salvar o jovem mecânico que estava nas mãos do tribunal e do administrador de Muecate - “eles mereciam a salvação de um anjo que fosse convidado pelo jornal” – disse para depois afirmar que a partir de agora o distrito está a salvo das arrogâncias do admi¬nistrador de Muecate, “ porque nós não estamos com objectivo de ele deixar de governar o distrito mas sim deixar de lado a arrogância que tem, ou deixar de desprezar a população em que ele confia para governar” – adiantou
“O que nós não queríamos era voltar a ter o nosso mecânico nas celas da cadeia civil, porque ele tem família por cuidar, para além do combate à pobreza que ele tem feito todos os dias da sua vida” – avançou António Sacramento.
Sacramento, de 29 anos de idade, pai de seis filhos e natural de Muecate, disse que olhou a atitude como não sendo má nem boa - “no meu ponto de vista estou a aplaudir a salvação do Aiuba porque ele não merecia estar preso e nem em julgamento”.
“Vejo que era um assunto a ser tratado entre a pessoa do senhor administrador e o mecânico, sem no entanto alguém estar detido” – senten¬ciou.
Sacramento foi mais longe ao afirmar que o administrador queria chamar atenção à população que está acos¬tumada a “falar mal” das pessoas, principalmente, as figuras do administrador e secretários permanentes que são escalados para o distrito, mas ele agiu “como uma pessoa singular e não como pai do distrito”.
Disse ainda que as pessoas do distrito de Muecate vão continuar a festejar a salvação do jovem mecânico que por pouco não voltou de novo às celas da cadeia civil do distrito por não ter dinheiro para pagar a pena imposta pelo tribunal.
Marta Joaquina, disse que a iniciativa do jovem mecânico, em colocar a sua desgraça nos órgãos de informação “foi muito boa, porque antes José Amade, o administrador ces¬sante fazia as mesmas coisas, agora que as coisas saíram acho que estamos salvos”.
Administrador recusa indemnização
O valor para o pagamento das custas e caução foi já depositado quarta-feira, pelas 9:26 horas na conta 175109833 do bim, e pertencente ao tribunal judicial do distrito de Muecate.
Aiuba pagou 3.400,00 meti¬cais o tribunal, mas foi infor¬mado que o administrador declarou ao tribunal não querer receber a quantia de 1500,00 meticais que lhe foi atribuída pelo “julgamento”. A defensora oficiosa vai receber do mecânico 100,00 meticais.
A importância remanes¬cente por sugestão do jornal e acordo dos contribuintes vai servir para melhorar o tecto da oficina e a palhota de Aiuba que esteve à venda até à semana passada por 10.000,00 meticais.
“O dinheiro que sobrou vou comprar chapas de zinco, barrotes e blocos para me¬lhorar a minha oficina”, disse muito emocionado ao SAVANA.
- Terça-feira, a modesta oficina de Aiuba, depois da festa deixou de atender bicicletas. Ali mesmo foi montado um posto de venda de jornais que vieram de Nampula trazendo como tema de capa a triste sina do mecânico de Muecate.
- Disse ao administrador para não avançar com o julgamento, ele não ouviu
- delegada do IPAJ
Num breve contacto que o jornal manteve com a dele¬gada do IPAJ(Instituto de Patrocínio e Apoio Jurídico) em Muecate, Mariamo Brai¬mo, disse que as coisas começaram a amargar para o administrador Adelino Fábrica, que já começou a apontar certas pessoas como culpados na divul¬gação da informação aos jornais.
“Antes do caso começar a ser divulgado e muito antes do jovem Aiuba Assane ter entrado nas celas do comando distrital, eu fui ao gabinete dele para ele parar com o caso, porque a qualquer momento a coisa poderia amargar para ele, mas como sou muito pequena ele não quis ouvir. Hoje já começou a apontar pessoas, por isso não sou culpada se a situação virou o cano para ele porque eu avisei”- disse Mariamo Braimo, o mesmo que dizer que quem mexe trampa aguenta com cheiro.
Braimo foi mais longe ao afirmar que toda a população está revoltada com Fábrica porque não esperavam aquele comportamento do admi¬nistrador.
A nossa fonte disse em termo de fecho e desabafo: “meu irmão eu estou mal, não sei o que fazer, acredito que ao longo do tempo ficarei sozinha e nenhum do grupo daqueles da administração estará a falar comigo, porque não defendi, o administrador Fábrica”.
Também tenho direito a livre expressão e ao bom nome - administrador Fábrica
O administrador do distrito de Muecate em contacto com o repórter, primeiro disse que apesar de ser um administrador ele também tem direito ao bom nome, à livre expressão, por ser um cidadão moçambicano.
“Olha eu sou um cidadão apesar disso que dizem sobre a minha pessoa, fiz isso para que as pessoas deixem de injuriar a pessoa pública como aconteceu com outros administradores que aqui passaram”, defendeu-se Fábrica.
Num outro passo fez-nos saber que tudo pode vir a cair de novo no tribunal porque um grupo de pessoas está a tentar denegrir a sua imagem, “ mas não poderão aguentar porque o senhor Jesus Cristo protege as suas ovelhas”.
- Soubemos do administrador de Muecate que está a fazer um exposição para o gabinete do governador da Província de Nampula, para protestar ao que chama de calúnia popular que igualmente está a ser levada avante com alguns media.
Os remorsos do pequeno ditador
Depois do grande alarido que suscitou o caso do mecânico de Muecate, o tristemente notório administrador Fábrica dirigiu o seguinte requerimento ao tribunal local, prescindindo da sua indemnização.
Requerimento do administrador
Meritíssimo Juiz Presidente do Tribunal Judicial Distrital de Muecate
M u e c a t e
Autos de Polícia Correccional nº 18/TJDM/2010
Adelino Fábrica Roihiua, melhor identificado nos autos à margem, tendo constatado que na respectiva sentença não está expressa a sua comunicação feita ao Ministério Público, segundo a qual a intenção do ofendido não era que lhe fosse pago, mas que “o arguido trouxesse ao seu conhecimento os demais difamadores ou a fonte segundo a qual o ofendido está transferido do distrito e não entrega as pastas por lhe faltar a vergonha”, vem reiterar que tal indemnização não lhe seja paga por constituir mais um vexame à sua honra, pelo que
Pede deferimento.
Muecate, aos 11 de Março de 2010
Reflectindo: Parabéns a Imprensa: Savana, Wamphula Fax, Notícias e Rádio Mocambique, que publicaram continuamente sobre o assunto. Parabéns ao IPAJ, o jurista. Viva a solidariedade!