TEM graça. Certos deputados da
bancada da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) não concordam com
determinadas alíneas do Programa Quinquenal do Governo (PQG) mas são incapazes
de apontar dedos e requerer a correcção àquilo que entendem não estar bem no
documento.
O medo de serem confundidos com a
oposição lhes invade a mente de tal modo que até se ressentem de coceiras
nalgumas partes do corpo.
Há, pelo meio, militantes
frelimistas corajosos que ao jeito de manipulação vão dando azo à sua graça.
Estes, estrategicamente vociferam contra a bancada da Resistência Nacional
Moçambicana (RENAMO) e só depois se concentram ao essencial.
Esta roda que os deputados dão
atacando a oposição antes de enumerar o que pretendem ver modificado no PQG,
tem por objectivo evitar que os colegas ou as chefias os classifique de
intrusos dentro do grupo; feitos com os outros, e outros são indivíduos da
RENAMO e um bocadinho os do Movimento Democrático de Moçambique (MDM).
E na sexta o PQG voltou a não ser
elevado à votação, muito por mérito da presidente da Assembleia da República,
Verónica Macamo, que tratou de empurrar a discussão até à exaustão, permitindo
que as bancadas esgotem os seus argumentos e Carlos Agostinho do Rosário tome
nota do essencial das discussões, independemente de onde vierem as propostas e
do modo como forem explanadas. Jerónimo Malagueta, RENAMO, esclarecera na
quinta- feira que o voto contra o PQG em sede plenária, não tinha nada a ver
com o ‘SIM’ declarado na comissão especializada, onde alinhou com os colegas do
sector.
Na comissão, o homem não
concordou com o documento, mas a maioria acabou dando aval positivo com o qual
o PQG foi estampado na síntese, o que não quer dizer que ele (Malagueta) esteja
totalmente em concordância com o projecto governamental.
De resto, nas discussões
plenárias, o PQG aparece no seu todo, não em forma especializada
sector-a-sector.
Ainda Esperança Bias da
quinta-feira. A antiga ministra vagueou, vagueou pelas ‘matas’ das províncias
de Maputo, passando pelas de Gaza, Inhambane, Manica, Sofala, Zambézia,
Nampula, Niassa, Tete, entre elogios aquí e acolá a Filipe Jacinto Nyusi e à
gloriosa FRELIMO, até se estabelecer no essencial, o que mais interessava o grupo
de ministros e vice- -ministros encabeçado por Agostinho do Rosário: sugestão
para a atenção que deve ser dada ao acesso à água potável e ao saneamento do
meio em Pemba, província de Cabo Delgado. Caraça. Tanto desgaste para
alertar o Governo a correcções.
É nisto que a nossa bancada acha
haver, ainda, muito medo dentro da FRELIMO de se apontarem críticas
construtivas e até propostas de melhoria nas mais variadas frentes. E é mau
para o desenvolvimento.
Não menos importante é o modo
didáctico com que a bancada do MDM apresenta as suas ideias. Aprecia com lupa
os dados do PQG para chegar a conclusões alarmantes sobreas estatísticas que o
documento nos apresenta.
Se calhar o Governo achava que os
deputados são míopes para não verem com os olhos de ver os numerous (alguns)
perfilados no documento.
Pena que o MDM tenha pouco tempo
de antena. Se os minutos esbanjados pelos frelimistas fossem transferidos
alguns para o MDM, muita coisa mudaria.
Por entre-linhas, Nyusi e
Agostinho do Rosário terão já dado a entender que o mais importante são ideias
válidas para o enriquecimento do Governo, independentemente de onde elas
venham.
Algumas mentes, no entanto, ainda
não estão seguras disso, muito por culpa de um passado recente (Salvador
Raimundo)
Fonte: Expresso – 13.04.2015