TRIBUNA DO EDITOR
Por Fernando Gonçalves
“O que é que põe os moçambicanos unidos?” é uma pergunta que aqui já foi colocada e que sugeria várias possibilidades de resposta. Nesse leque optamos por colocar no mastro que nos orienta, uma delas, isto é, “o apego à luta pelo desenvolvimento”. Como se manifesta esse apego na agricultura, na indústria, no comércio, etc.? Abordou-se, sucintamente, o estágio de desenvolvimento da agricultura e não foi avançado nada que constitua novidade, quer dizer, ela ainda não permite que Moçambique seja auto-suficiente em termos alimentares. Também foi tratada, ligeiramente, a questão do fomento pecuário onde, por maioria de factos no terreno, percebe-se que a aposta é ainda modesta. Na última parte concordamos que a agricultura é uma actividade de risco, entretanto, questionamos: o que fazer para que ela assim não seja? O que a nossa unidade nacional nos tem emprestado para responder a esta questão?
Pegando nesta última, de vibração assinalável, percebemos que a mesma nos remete a outras: é o desenvolvimento que reforça a unidade nacional ou o reforço desta condiciona a primeira? Os dois sentidos são válidos. Condicionam-se mutuamente. Mesmo assim, o que dizer, neste caso, se atendermos que Moçambique, no mapa global (sócio-económico e não só), é considerado um dos países mais pobres do planeta? O que dizer? Muito. Facto inegável é que ele não é desenvolvido! Logo, por hipótese, não são os nossos níveis de desenvolvimento que reforçam a unidade nacional. Então, como as hipóteses aqui não se esgotam, sobra-nos algo que deve ser acarinhado: o reforço da unidade nacional! É uma via para o desenvolvimento. Nesta ordem de ideias o que pode significar reforço da unidade nacional? É complexo. É, de facto, um processo. O mesmo acontece com o próprio desen¬volvimento. Há um sentido, olhando para estes dois, que dá luzes mais fortes ao outro.
Entretanto, continuemos a manter o que já assumimos: que quem dá luz para o desen¬volvimento seguir o seu complexo percurso é o reforço da unidade nacional. Estavamos em torno do que este podia significar. Sim, é preciso perceber, logo à partida, que não se reforça a unidade nacional com exclusões, seja esta positiva ou negativa, esteja esta mascarada sob a forma de quotas, etc. Ênfase necessária deve estar, sim, naquilo que é inclusão no verdadeiro sentido da palavra. Mas não é só a exclusão que mina a unidade nacional e, logo, o desen¬volvimeto. Os vários relatórios, estudos, etc., fazem perfilar uma série de entraves, referidos vezes sem conta, onde as teclas dominantes e repetitivas têm sido a corrupção, o compadrio, o nepotismo, os espíritos de “deixa-andar” e “não deixa-fazer”, a inércia do monopartidarismo, a confusão entre o partido e o Estado, a demagogia política, o populismo doentio, etc. A lista é enorme e, muitas vezes, positivamente redundante. Como resolver este leque de entraves numa paisagem económica dominada pelo dito “capitalismo selvagem”? Como contrariar todos esses aspectos negativos em benefício da unidade nacional? Como ver a questão da pobreza quando os que comandam o seu “dito combate” só se esforçam infrutiferamente em não pertencer ao “clube ostentação”. Por que razão os que podem ostentar estão preocupados em não o fazer quando a riqueza os empurra para esse facto? Reforça a auto-estima saber que um determinado conjunto de bens pertence ao fulano de tal, que é moçambicano e conhecido por uns tantos e outros. Parecendo que não, de facto, reforça. Ainda que não seja bem visto por um determinado sector político que prima por uma oposição ao pragmatismo.
A unidade nacional anda, de há uns tempos a esta parte, beliscada por todos esses entraves já referidos. É preciso soprar sempre que essa dor se apodera de cada um de nós. Mas, a melhor solução é não tê-la para não termos que, em algum momento, aliviarmo-nos dela. Alguns estão tão afectados por vários desses entraves que já não têm por onde começar a soprar! Mas, apesar de tudo, é numa situação de aflição, de luta pelo desenvolvimento, que é necessário reforçar a unidade nacional. Temos que estar sob efeito de um sonho mais concreto que nos faça procurar crescentemente sonhos maiores, temos que ser um poucos mais loucos, mais ambiciosos na prática. Ou, se preferirem, temos que ser loucos a falar, mas mais loucos a concretizar! É isto que poderá reforçar a unidade nacional e, consequen¬temente, promover o desenvolvimento. O que podemos concluir de tudo isto?
(Cont.)
Fonte: Savana - 04.06.2010