Por Pedro Nacuo
EXTRAS - As bandeiras...
NAS vésperas das últimas eleições legislativas e presidenciais, em 2004, o Partido Independente de Moçambique (PIMO), veio a Cabo Delgado, sob direcção da sua principal testa, Yá-cub Sibinde, em viaturas e algumas dezenas de litros de tinta branca e uns tantos pincéis, para colocar o seu nome em quase tudo o que fosse fixo.
Paredes, estradas nacionais, árvores de reconhecida exuberância e pedras à beira da estrada em todo o corredor para o norte da província, distritos de Macomia, Mocímboa da Praia, Mueda, Muidumbe e Nangade, e para o sul, Chiúre até atravessar o rio Lúrio, nos distritos de Eráti e Nacarôa.
Tudo pela estrada era PIMO e, na véspera da visita do então, Presidente da República, Joaquim Chissano, a ECMEP recebeu ordens de se munir com a mesma capacidade que o PIMO tinha, desta feita para ir apagando todo o PIMO pela estrada. Parecia brincadeira, uma viatura com tinta preta e pincéis para ir apagando o que a branco estava escrito. E a ECMEP esqueceu-se (não conseguiu ver) em pelo menos duas pedras depois de Chiúre e igual número entre Ancuabe e cruzamento de Meluco...
Na cidade de Pemba, o delegado político do PIMO acabou sendo intimado para responder em tribunal por haver colocado a sua propaganda em locais “não próprios” e sujado a cidade com a sua tinta.
Isto nos vem à memória por causa das bandeiras (políticas) da Beira, sobretudo porque as análises que estão a ser feitas são-no no sentido de que estão na Beira, uma forma distorcida que, infelizmente, os cientistas e comentaristas da actualidade encontraram para serem úteis. É como me dizia, em 1985, Kurt Madorim, um holandês que “numa sociedade de muita preguiça todos correm para a política, a única forma de ser importante, muitas vezes sem fazer nada...”
Nos tempos que correm ainda se pretende confundir a política com algumas leis, interpretadas, como é lógico, ao sabor dos respectivos protagonistas, daí que “lugar impróprio” tanto pode ser perceptível como não significar quase nada.
Ora, não sendo só das leis actualmente em vigor que nós vivemos, vamo-la perceber como, e muitas vezes, vivemos também das normas éticas e morais, não previstas em algum instrumento legal e assim fazemos a convivência democrática, consolidamos a paz e fazemos a unidade nacional.
Comecemos pelos símbolos do PIMO pelos locais e estradas de Cabo Delgado, que tiveram que ser apagados. Deviam sê-lo? Não deviam? A imprensa escreveu inclusive quando foi para o município de Pemba processar judicialmente o representante daquele partido...
Não havia analistas, comentaristas e o Ministério da Administração Estatal (MAE) estava? Estava claro que ninguém, à luz da lei, poderia proibir aquele partido de fazer o que fez, mas que ficava feio, também é verdade! Todo o lado PIMO, PIMO, PIMO... estava em demasia em locais “impróprios”, impróprios não por lei, mas do ponto de dista ético e moral saía muito mal.
Ninguém já ficou preso, na Beira, Pemba, Ilha de Moçambique e outras cidades, principalmente costeiras, por prática de fecalismo a céu aberto, simplesmente porque nada está legislado contra esse procedimento. Mas há que reconhecer, pelo menos em relação à Beira e Pemba, que o fenómeno tende a diminuir e no caso de Pemba está quase no fim.
É porque as normas éticas, o dia-a-dia e a mensagem da municipalidade foram mais fortes que a lei que não existe, “que não se deve defecar em lugares impróprios”. Se se apanhar a fazê-lo ninguém te leva à prisão, mas fica feio!
Também por lei todos podemos colocar as bandeiras onde quisermos. Mas não me dirão que fica bonito o que vejo pelas matas da minha província, Renamo e Frelimo em cima de árvores de florestas liana, estepe ou de savana, onde ninguém vive... pelas bermas das estradas, bandeiras em quase todas as casas, outras a confundirem-se com aquelas que identificam casas de curandeiros ou aquelas de onde saíram crianças para ritos de iniciação...
Em Pemba, jovens organizados por quem (não sei), sempre que há uma visita alguém abastece de combustível as suas motorizadas, das tantas “Xintians” que há por aí e vão ao aeroporto, como se de batedores se tratassem, receber a ilustre visita.
Se calhar, conforme a origem do patrocínio, os jovens amarram bandeirinhas nas motorizadas para a recepção. E quiseram fazer isso com Jaime Gama, presidente da Assembleia da República portuguesa e viriam a piorar com a Sua Alteza, príncipe Aga Khan. Receber visitas com bandeiras partidárias! Bonito? Era local próprio?
A nossa desatenção levou-nos a que, como não somos proibidos de fazer e as normas éticas e morais estão a ser subalternizadas, as nossas cidades virassem verdadeiras “mó-mó-mós” em termos de cores. Aceitamos que cada inquilino aceitasse o amarelo e o azul das nossas duas empresas de telefonia móvel e hoje as cidades moçambicanas, principalmente a Beira, Tete e agora Pemba viraram cidades de cores que em criança tinha aprendido serem de mulheres ciumentas e más.
Em Pemba, até os transportes públicos urbanos, que traziam aquelas suas cores, que temos ainda nas outras cidades, viraram de cor amarelada e com desenhos que só quando os autocarros estão próximos te sentes próximo de um “mó-mó-mó”. São muito feios!
Agora, bandeiras! Se só forem bandeiras, não outra coisa, na verdade, durante muito tempo têm lugares próprios, de respeito, que quando alguém passa diz “aqui é a sede deste partido” e se calhar até passa com um respeito à medida da consideração que tem por ele.
Esse respeito não está em alguma lei, mas existe da mesma forma que não se pode levar alguém à prisão por não ter estado em sentido quando a Bandeira Nacional está a ser içada ou arreada. Mas fica feio ser-se indiferente. São outras normas, muitas vezes com mais valor do que as leis propriamente ditas.
No dia em que, com as bandeiras do Costa do Sol, Chingale, Ferroviários, também levarmos as dos nossos partidos, diremos todos que as levamos para local impróprio. Ou não é?
É dizer a beleza das cidades ou o seu contrário nunca serão legislados e é por aí que elas são diferentes, como pode ser verdade o que uma professora de Economia Doméstica dizia em Chibututuíne, na Manhiça, “a casa tem a cara de quem a habita”.