Lideres religiosos em Manica, centro de Moçambique, condenam a
"degradação moral" da população, que dizem ter resultado em
"crimes hediondos", o que contrasta com o aumento no número de
igrejas na região.
"O evangelho está a crescer, no número de igrejas, mas o cumprimento
da mensagem não está a crescer. A mensagem de Deus diz ouvir e cumprir, mas são
muitos crentes que não cumprem, daí os crimes hediondos contra um ser
igual", disse à Lusa José Madeira, pastor da Igreja Evangélica Assembleia
Livre de Moçambique.
Nos últimos dias, vários crimes, raptos e homicídios, sobretudo contra
crianças e mulheres, têm chocado as comunidades dos distritos da província de
Manica, o que leva as igrejas a clamarem por um rápido trabalho social sob o
risco de se chegar a um "fosso sem saída".
Na semana passada, um casal matou um filho de três anos em Dacata, distrito
de Mossurize, sul de Manica, quando tentava extrair sangue, através de uma
veia, para alegadamente ser usado num ritual satânico.
Na mesma altura, em Dombe, distrito de Sussundenga, um homem matou uma
mulher à paulada, para depois lhe extrair o lábio superior da boca, dedos da
mão esquerda e os órgãos genitais. Segundo a polícia, os órgãos seriam usados
para "ritual e enriquecimento ilícito".
O Tribunal Judicial Provincial de Manica julgou até junho deste ano pelo
menos dois casos de rapto e tráfico de menores, com homicídio. Em 2010 o mesmo
tribunal julgou sete processos em que 17 pessoas ficaram condenadas, entre
empresários e curandeiros.
"As pessoas querem um enriquecimento rápido sem trabalhar e isso é
contra os princípios religiosos. Precisa-se ensinar o amor ao próximo, para que
as pessoas se convertam de verdade e sejam humildes", disse à Lusa Jonh
Moyo, pastor da igreja Assembleia de Deus.
Para José Madeira a situação representa um desafio, porque "a igreja
como comunidade deve trabalhar para ser salva, não haver ações estranhas e
pecados dentro da igreja - corrupção, prostituição, casamentos prematuros e poligamia
- para que os criminosos não se disfarcem de crentes".
Estatísticas indicam que 257 igrejas estão registadas oficialmente em
Manica, com mais de cinco mil templos distribuídos pelas filiais e sucursais
nos 10 distritos da província que conta com 1,7 milhões de habitantes.
As autoridades religiosas também admitem que os crimes estejam aliados ao
obscurantismo e exortam os praticantes da medicina tradicional a evitarem o uso
de "sangue e ou órgãos humanos".
O presidente da Associação dos Médicos Tradicionais de Moçambique
(AMETRAMO) na província de Manica, Adelino Mutata disse que são frequentes as
acusações sobre envolvimento de médicos tradicionais na prática de extração de
órgãos genitais para a atividade tradicional, mas "nenhum foi apanhado".
"A força satânica será mais forte na medida que aumentarem as igrejas
para pregar a palavra de Deus. É contra essa força que as igrejas precisam
trabalhar e censurar a atitude da comunidade na prática do crime. Realmente os
crimes hediondos precisam acabar e isso precisa unificação das mensagens e
postura (das igrejas)", disse à Lusa Saimon Ukossimuni, da seita
Joanhmarrangue, que autoriza poligamia e proíbe a medicina convencional. (André Catueira)
AYAC
Lusa/Fim
Fonte: Notícias Sapo – 15.07.2012
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