“CIP Eleições” revela o esquema para excluir
eleitores da oposição na Beira para beneficiar a Frelimo
A coordenação é feita no grupo do Watsaap
denominado “STAE Supervisor Beira”, administrado pelo director distrital do
STAE da Beira, Nelson Carlos do Rosário, cuja queixa-crime o MDM já deu entrada
na Procuradoria Provincial de Sofala. Nas mensagens trocadas entre os elementos
do grupo percebese que a morosidade no atendimento, algumas avarias de
máquinas, a rejeição de testemunhas e de outros documentos oficiais, como a
cédula ou declarações de bairros, são propositadas e fazem parte do esquema
para cansar o eleitorado da oposição e beneficiar a Frelimo. É um filme com
episódios grotescos.
O grupo de Watsaap foi criado pelo director
distrital justamente no dia em que iniciou o recenseamento eleitoral (20 de
Abril), mas só começou a adicionar os supervisores a partir do dia 24 de Abril.
A primeira medida de bloqueio aos eleitores
da oposição foi tomada às 13.46 horas do dia 25 de Abril, quando o director
distrital do STAE orientou aos supervisores para rejeitarem as reclamações dos
fiscais da oposição. “Não assinem nem aceitem as reclamações dos fiscais, não
podemos facilitar.” A orientação do director foi mesmo para dificultar, o
máximo possível, o recenseamento dos que apelidam de “inimigo”. “A missão”,
segundo Nelson Carlos do Rosário “é abater o inimigo”. O inimigo é o eleitor da
oposição.
“Bater forte no inimigo foram as palavras do
nosso chefe, estado-maior. Hoje estamos a aplicar”- comenta o supervisor Nhanombe
TF, que propõe aos colegas que usem o esquema que ele já vem utilizando para
bloquear aos que ele chama de “macacos”: “Para mim (é preciso?) reconhecer
cédula, cartão de eleitor de todos os camaradas com confirmação de um dos
fiscais da FRELIMO e dos membros da brigada. Dos macacos (oposição) um e outro,
para não bandeirar, aceita, mas a maioria Para subscrever a edição em Inglês
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https://www.cipeleicoes.org/ Eleições 2023-2024 - Boletim Sobre o Processo
Político em Moçambique 78 – 17 de Maio de 2023 2 não.” Ou seja, a sugestão de
Nhanombe (o nome dele é Gito Tomás Nhanombe) é no sentido de os brigadistas
apenas reconhecerem e receberem documentos provenientes da Frelimo e recusar os
que são apresentados pelos eleitores da oposição. Aliás, aos membros e
eleitores da oposição apenas se deve aceitar um e outro para não criar
condições de espaço para contestação e tumultos.
Um dos supervisores adoptou um sistema só seu
de bloqueio. O sistema consiste em exigir mais documentos aos eleitores do seu
posto de recenseamento, localizado na zona Industrial. “Tenho até exigido
cartão de trabalho para quem diz estar a trabalhar no Porto ou CFM” -
congratula-se pela estratégia e afirma com orgulho: “O cerco está apertado”
para oposição. A Gizela Patrício compara o método de bloqueio que usa às
interrogações do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC): “No meu
posto a entrevista fica a parecer que trabalhamos no SERNIC”.
Uma outra mensagem, escrita pela supervisora
Linete Ucama, dirigida ao director do STAE e aos colegas, refere que apareceram
no seu posto de recenseamento, “os ditos chefes de postos do MDM Manga sem
crachás” a procura de “três formados do INE que já iam ao internato. Andaram
com eles até no portão”. De seguida, acrescenta, “perguntaram: quem vos mandou
recensear”, “se não apareceu um carro com jovens de Buzi” e se os jovens
estavam hospedados no internato local. Nessa altura, vinha “um fiscal nosso
(Frelimo). Ligou para o comandante e assim estão detidos”. Não está claro se os
detidos são os chefes de postos ou os jovens.
A resposta do director distrital do STAE foi:
“Bem feito. Família, estamos de parabéns, o inimigo está aflito, mas precisamos
de continuar atacando” - e dá uma orientação: “aceitem testemunhas e cédulas só
se for para nos beneficiar, caso contrário, não”.
Um outro interveniente alerta aos colegas
para que estejam “sempre atentos e alinhados”, porque esta “é a nossa vez”.
João Ernesto, outro membro do grupo, aprova a ideia e aplaude: “Isssoooo
mesmo... Vamos a isso…na guerra não se atira rebuçados…pulga arranca-se e
sangra. Vamos extrair matequenha. Agora somos nós…a força da mudança”.
Numa das mensagens, a supervisora Gizela
Patrício manifesta preocupação por ter havido o recenseamento de um número
considerável de eleitores num dos postos e desabafa: “Espero que que pelo menos
90% sejam nossos cdas (camaradas), que se recensearam, se for o contrário
estamos lixados”.
Os supervisores e os respectivos directores
chegam a celebrar os bloqueios que fazem aos potenciais eleitores da oposição.
Um dos supervisores orgulha-se de ter devolvido cédula de um dos eleitores.
Paulino Tato Luís comunica ao Director Distrital do STAE que “Quero mandar
prender o secretário do 1º bairro Macuti. Está sempre a sondar o meu posto”. Em
resposta, Nelson Carlos de Rosário autoriza: “Faça isso chefe”.
https://www.cipeleicoes.org/wp-content/uploads/2023/05/Boletim-das-eleicoes-78.pdf