A o fim de três audições dos polícias envolvidos no assassinato de Anastácio Matavele, parece mais ou menos claro o cenário traçado por quem nos bastidores comanda o julgamento dos agentes de uma das mais temidas unidades paramilitares de Moçambique. Dado que há um agente foragido e dois que foram para o reino dos mortos no próprio dia do assassinato, a táctica é passar tudo para os ausentes. Foi Agapito quem escolheu os homens para a missão, foi Nóbrega quem trouxe a viatura e Martins quem disparou a AK47 conjuntamente com Agapito. Uma táctica ilusória uma vez que a culpa não se dissipa pelo facto de não se disparar.
Uma segunda linha de argumentação é restringir a participação no homicídio ao “grupo dos cinco”, os ocupantes do Mark X. A ideia é afastar responsabilidades acima no comando da companhia do GOE, na sub-unidade da UIR e ainda mais acima, pois é pouco provável que a decisão operacional tenha partido das casernas da unidade paramilitar em Xai-Xai.
Na estratégia encenada não se poupam argumentos. Prestigiados comandantes na UIR acompanham revoltados uma descrição de operacionais temidos e bem treinados envolvidos em rotineiras “sessões de copos” entre a barraca Xirico na cidade alta e as barracas do mercado Lafamba bicha, na baixa. Numa promiscuidade pouco comum no meio castrense em que guardas partilham rodadas de cerveja com os seus oficiais de comando.
A ideia é afastar qualquer participação institucional da polícia, como se desconfia, ou o cenário de “um Estado dentro do Estado” que acolhe o formato dos “Esquadrões da Morte” e a “indústria dos raptos”. Falar em Frelimo no julgamento parece heresia. Nestes cenário, faz sentido “efeito Sheltox” do advogado Elísio de Sousa. Esperemos pelos próximos episódios. F. L.
In Savana, 15.05.2020