Por Custódio Duma
A terceira parte desta série, vai servir para discutir de forma mais prática duas técnicas da Propaganda Política usadas de forma apaixonada no nosso contexto: a repetição de ideias e a criação de bodes expiatórios.
Os partidos políticos mais alinhados à extrema-direita tendem muitas vezes a reproduzir técnicas de propaganda que a priori mostram-se aliados aos princípios fundamentais como a soberania, a independência, o nacionalismo e a patriotismo e que entretanto, ao evocarem essas ideias, procuram esconder interesses que poucos cidadãos conseguem perceber.
Segundo Robert Slater, autor da biografia de George Soros: “Soros, o investidor mais influente do mundo”, este “pai” das Sociedades Abertas, achava em 2008, enquanto Barack Obama lutava para sua eleição como Presidente dos Estados Unidos, que a máquina de propaganda da direita constituía um grande perigo para as sociedades abertas, por na sua grandeza, ser o motor de um sistema de manipulação da verdade.
Os partidos de extrema-direita tendem a ganhar o seu protagonismo em momentos de grandes crises nacionais ou internacionais, não é de admirar que hoje a Europa e a América estejam numa situação em que esses partidos se fortaleçam cada vez mais. Em África, curiosamente, uma boa parte dos partidos políticos identificam-se como sendo de esquerda, o que contradiz as suas próprias características, pois, a maioria já não o é.
É a extrema-direita que prega o nacionalismo, que prega a auto estima, que prega o patriotismo e que ao mesmo tempo repudia o estrangeirismo, o comunismo e o liberalismo. É a extrema-direita que hoje, estranhamente, acarinha o liberalismo económico.
Já a esquerda, tende a ser aquele lado cujos partidos simpatizantes parecem estar mais interessados com a igualdade social, propagam uma grande aliança com as massas e principalmente com a maioria trabalhadora ou a maioria empobrecida. Parecem ser o inverso dos “direitistas”, amam os estrangeiros e pensam na sociedade de uma forma mais aberta e global.
O cronista António Prata, de forma sarcástica, considera a diferença entre a esquerda e a direita nos seguintes termos: “A esquerda acha que o homem é bom, mas vai mal – e tende a piorar. A direita acredita que o homem é mau, mas vai bem – e tende a melhorar. Direita e esquerda são uma maneira de encarar a vida e, portanto, a morte. Diante do envelhecimento, os dois lados se dividem exactamente como no urbanismo. Faça plásticas (pontes), diz a direita. Faça análise, (discuta o problema de fundo) diz a esquerda. (“filosofar é aprender a morrer”, Cícero). Você tem que se sentir bem com o corpo que tem, diz a esquerda. Sim, é exactamente por isso que eu faço plásticas, rebate a direita. Neurótica! – grita a esquerda. Ressentida! – grita a direita.”
Como se consegue perceber, tanto a direita como a esquerda, nos seus extremos ou nos seus moderados, não passam de faces diferentes da mesma moeda, sendo por isso que os dois lados usam as mesmas técnicas de propaganda para engrandecerem as margens em que se encontram.
A repetição como um método de propaganda, (é mais usada pelos partidos no poder, por serem eles que geralmente controlam a mídia. E a mídia, é fundamental para este tipo de propaganda) serve para transformar os modelos e para criar novas e inesperadas formas de ser e de estar.
A repetição é usada para inverter os valores e romper com as primeiras convicções no sentido de aprimorar novas. Normalmente, o emissor da nova mensagem a publica e, todos os órgãos de comunicação social e agora, também as redes sociais, a repetem. É aqui que entra o papel dos analistas Papagaios e dos analistas Fantasmas, que devem, usando todos os meios disponíveis, repetir, propagar e difundir para o mais distante e abrangente possível a ideia lançada pelo “emissor”.
Ao analista Papagaio e ao analista Fantasma, não interessa a veracidade ou não da ideia a propagar, não interessa os efeitos a serem produzidos por ela. O que interessa é que essa ideia seja o mais propalada possível e a todos os níveis. Porque quanto mais repetida, aos poucos ela se enraíza nas “cabeças e nos corações” das massas, passando imediatamente a ser a mais pura e a mais justa verdade, mesmo que na sua essência não o seja.
Esta forma de propaganda é também conhecida por “Argumentum ad nauseam” que quer dizer: “ argumento para enjoar; repetir até cansar, ou até enjoar”. Na essência significa que “uma ideia suficientemente repetida, rápido se torna verdade”.
A criação de bodes expiatórios como uma técnica de propaganda, (sendo esta, uma técnica auxiliar a da repetição e que usa os mesmos canais) visa de antemão, desacreditar aqueles outros analistas que de alguma forma aparecem tentando questionar a dignidade, a legitimidade e a veracidade da ideia ou informação que se está a repetir.
Normalmente, criam-se bodes expiatórios através da atribuição de rótulos reducionistas, vexatórios, humilhantes e desabonatórios aos críticos das ideias repetidas. Seriam esses, considerando os princípios da extrema-direita, aqueles anti nacionalistas, aqueles que não são patriotas, aqueles que pretendem vender a pátria ou simplesmente aqueles que estão ao serviço das mãos e interesses alheios. São os tais desgraçados, os apóstolos da desgraça, entre outros.
A criação de bodes expiatórios, também acontece através da inversão ou destroção das palavras ou opiniões dos tais que tentam questionar determinadas ideias, ou seja, a técnica da criação de bodes expiatórios normalmente apoia-se nas regras do Judô: “usar a força do oponentes para derrubá-lo.”
Através desta técnica, se desvia a atenção do problema e se focaliza na pessoa. Atribui-se culpa dos problemas a todos aqueles que de alguma forma questionam a ideia a ser repetida, pois, afinal, são os tais que pretendem viver à custa de discursos contra a nação e contra o Governo do dia. Esses cidadãos, são e sempre serão, pela propaganda, apresentados como aqueles que não amam a pátria.
Nisto, o ponto importante é que embora o centro de comando das ideias não seja a priori identificado, por muitas vezes ser virtual ou secreta, o ridículo se manifesta quando os Papagaios e os Fantasmas, como moscas voando à podridão, se atropelam para serem cada um deles o primeiro ou o melhor a propagar a ideia a ser repetida. O emissor é sempre apresentado como um messias e o receptor como o redimido. Afinal, onde há apóstolos da desgraça, há apóstolos da boa nova não é?
E sem que se perceba, a repetição passa a estar na moda. Ninguém quer estar contra, sob pena de ser rotulado e ninguém quer deixar de repetir, sob pena de não ser aceite. Alias, todo o cidadão sensato nunca deve estar contra a sua pátria, não deve deixar de ser nacionalista. Questionar, no contexto da propaganda, mesmo com a mais pura das intenções, torna o sujeito, automaticamente, um bode expiatório.
Continua…
In mural de Custódio Duma (03.07.2012)
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