quinta-feira, julho 05, 2012

A DESCONFIANÇA COMO RECEPTORA PASSIVA DA MANIPULAÇÃO

Por Américo Matavel

Quando se desconfia de alguém, tudo que se atribui a essa pessoa, cola que nem superglue e sem qualquer chance de se dar um benefício de dúvida. O desconfiado é sempre o mau da fita, e sempre que calhamos com o nome dele nos jornais, procuramos nas entrelinhas algo que lhe diminua e que confirme o que sempre temos em mente e desconfiamos.

A desconfiança é como uma bússola, e o seu norte é a negatividade e a falta da dúvida metódica cartesiana, aliás, perante o desconfiado não há ciência ou religião que valha para que se olhe ao tal com olhos de ver.

Esta introdução vem a propósito do que quero hoje aqui trazer para reflexão, que é a criação de lugares-comuns e de mitos que suplantam a mais pura análise.

Há uma febre desusada de que o Governo não é lá flor que se cheire, e que ele está cometendo gafes atrás de gafes, e que está a fazer as coisas às avessas, aliás, ele não está a fazer NADA!

Isto (a febre) pode ter sido produto de um começo mal sucedido; de uma falha de um servidor público ao atendê-lo; de uma percepção de injustiça no local de trabalho ou das dificuldades de vida do dia a dia! E é a partir desta premissa (de que o Governo não faz NADA), que muita gente recorre á desconfiança, acarinha-a, rega-a e canta músicas para ela dormir (se é que dorme).

Estas pessoas depois juram fidelidade à desconfiança, e procuram provar que eles não são cegos, não; e que a sua visão não é parcial, mas o Governo é que não joba lá nada, daí que armam-se de Hubbles pesados e Royal q.b, pesquisando incansavelmente deslizes do Governo, e quando estes aparecem, logo aplicam uma dose letal de Royal e aquilo fermenta quem nem ximbvemo, e fica um escândalo “inaceitável”, como diria um brada daqui do Facebook.

Esta atitude faz com que haja um terreno fértil para a manipulação e posterior controlo das pessoas, alegando-se que “nutrem” o mesmo sentimento de revolta perante tanta “injustiça” que se está a passar no país. O controlo é feito através de criação de um grupo, normalmente é inconsciente, que tem uma identidade comum inequívoca, e que, quando se encontra, e logo à priori, e muito antes de se começar a bater papo, o ambiente fica impregnado de uma irmandade periférica, pois cada ego sabe que “manhana” é um anti-regime, logo é dos meus.

Desta forma, formado este grupo inconsciente, vem a fase de aparecerem os ideólogos e pensadores para alimentar este grupo, e é aí que entram alguns jornais que não vou aqui mencionar; alguns analistas que nem conheço, e alguns “colunistas”, tanto desses jornais, como daqui desta social network. Esses estão aqui para fortificar estes grupos inconscientes através deste tipo de manipulação, fornecendo-lhes “casos” e epítetos de momentos, redigindo longas cartas de lamentação e, sobretudo, mostrando aos vários grupos inconscientes que estes não estão sozinhos, mas há “gente grande” que também é parte do grupo, como que legitimando-o!

Nestes grupos, claro que há hierarquias, afinal é uma instituição, mesmo informal que é, por isso precisa de pelo menos um comando. O comando é donde partem as balizas e os “casos” do momento. Estão no comando, os Jornais (editores, repórteres, etc, menos o contínuo); os articulistas de cá e dos tais jornais, com direito a páginas em branco (estilo cheque em branco); os analistas sabichões e cheios de gráficos e estatísticas.

Na intermediária estão os pedacistas (os que tiram excertos dos “casos” descobertos pelos Hubbles; dos epítetos produzidos, e tornam isso numa verdade cimentada e irrefutável, reproduzindo-os para o consumo dos iletrados); e lá na cauda estão os que, aqui no Facebook só sabem dizer: “Lamentável isso”. “O que se esperava destes gajos”, epa, essas cenas por aí.

Engane-se quem pensa que estes não tem nenhuma importância! Estes é que são os verdadeiros mensageiros, pois para além da desconfiança, ausência da dúvida metódica, eles são os que espalham os tais “casos” pelos outros que não têm acesso aos “retalhos” e ou aos enunciados dos principais pensadores, recrutando mais para o grupo inconsciente.

Assim, e resumindo, a partir de uma desconfiança, pode-se criar grupos inconscientes e dormentes que partilham o mesmo sentimento, controlados pela manipulação de informação que alimenta-lhes os egos, fazendo com que haja espaço para a sua fortificação. A desconfiança é uma vulnerabilidade perigosa pois tem o dom de afastar as pessoas do centro, manipulando a consciência, que de uma visão geral, passa a ser detentor de uma parcialidade espantosa.

Finalmente, revelar que não há nenhuma sede física para este grupo, pois é inconsciente, e luta nas horas vagas e na presença de “casos”, por isso que os do topo devem sair decadavezequando fornecer matéria para manter os níveis de manipulação sempre ON.

Eh eh eh eh eh... Tu és um manipulado?

In mural de Américo Matavel (Facebook)

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