Por: Gento Roque Chaleca Jr., em Bruxelas
Durante as lições caseiras aos meus sobrinhos, não falta o seguinte aviso: Em política como na vida em geral, apoiar uma determinada posição ou ser panegirista desta, deve ser antecedido de um exercício mental profundo e exaustivo. Por isso importa, acima de tudo – e no meio de todo este terror social que vivemos –, conhecer o outro lado da moeda (o que se opõe).
Não está a revelar-se tarefa fácil, para mim, agradar a todos os leitores d’ O AUTARCA. Um leitor assíduo do jornal, literalmente indignado, fez-me chegar o seu descontentamento classificando os meus débitos como sendo uma cruzada pessoal contra o partido Frelimo.
Além do mais, devo dizer que a arte de escrever não difere tanto do amor, quando as coisas correm bem, sentimo-nos realizados. Mas quando começam a azedar, assistimos um autêntico festival de acusações. Seja como for, a conclusão a que chego é que em matéria da escrita não há catálogos que agrade a todos.
É mesmo assim: um articulista por mais imparcial que tente ser, dificilmente há-de conseguir agradar a todos.
Veja-se o caso particular de José Craveirinha, de Arrone Fijamo, de Heliodoro Baptista, enfim, verdadeiras bandeiras das culturas moçambicanas, e de valores indescritíveis; por expelirem os seus débitos à plateia do social (muitos desses débitos escritos a quente) resultam de batalhas que cada um deles travou contra as injustiças sociais do seu tempo, infelizmente igualados pelos seus detractores, à Judas Iscariotes. Que injustiça!
Os detractores de coisas alheias são sempre os melhores jogadores, não fazem absolutamente nada, mas também deixam que os outros façam. São definitivamente os fiscais do débito alheio.
Ao contrário destes, tenho o maior apreço pelos literatos da gramática portuguesa. Com os olhos de águia (louvados sejam) procuram, sem fatuidade, corrigir o que está mal. É preciso não esquecer nunca que são os escritores, articulistas, jornalistas, ‘amadores das letra’ – se preferirem – que fabricam as opiniões de um determinado país.
Por isso, modéstia à parte, toda a vénia a esses profissionais, é merecida.
Retomando o fio à meada, o leitor em referência se me ler com alguma ponderação espiritual ou até mesmo religiosa, perceberá que não há, da minha parte, nenhuma cruzada contra o partido Frelimo. Não é cultura do autor destas linhas expor diferenças pessoais nos meios de comunicação social. Creio seguramente que o editor do jornal, o meu amigo Falume Chabane (verdadeiro pilatos da imparcialidade jornalística, mas sobretudo guardião de honra alheia) não me permitiria tal ousio. É certo que não se pode agradar a todos, - verdade que mais uma vez ficou evidenciada.
Apesar de carregar na mente um passado doloroso que a Frelimo ajudou a criar com a sua fenomenal ‘bíblia sagrada’ (o marxismo-leninismo) entendo, ainda assim, como historiador, que para cada tempo há sempre um manifesto político diferente.
O que seria deste mundo se o perdão não existisse?
Os alemães seriam eternamente condenados pela bárbara acção do lorpa, Hitler, que de forma impiedosa e cruel, mandou chacinar milhares irmãos nossos, os judeus! O que seria dos americanos hoje, caso o perdão não existisse, pela bomba atómica que lançaram sobre o Japão? E muito recentemente à destruição do Iraque pelo escroque do Bush?
Não, nada disso, o perdão aplaca a qualquer tipo de ódio.
Voltando ao descontentamento do leitor. Julgo acreditar que Moçambique não é propriedade de nenhum partido político, religioso ou desportivo. Não obstante haver moçambicanos de primeira, segunda e terceira categorias (divisão que é observada em catadupa face à distribuição da riqueza nacional por regiões) o país (Moçambique) é de todos e para todos os moçambicanos. A forma como o vejo crescer pode não ser a mesma que vê o Malizane, o Salicuchepa, o João ou a Maria.
A missão de cada moçambicano é de velar pelo património nacional, independentemente do local geográfico onde se encontrar. Um observador atento do património público não pode cegar o seu olhar crítico quando o país é mal governado. É preciso colocar a boca na ‘vuvuzela’ e denunciar o mal. Já aqui, neste espaço, em tempos idos, me referi que o vedetismo e a complacência não ajudam em nada. Mas também não é dizendo asneiras que a roleta muda de direcção.
O discurso de que o país vai bem, ao contrário dos relatórios oficiais divulgados recentemente pelo INE (Instituto Nacional de Estatística) colocam o país à rastejar, e à majestosa Zambézia, fazendo lembra-me a célebre frase do académico David Aloni (já falecido) que classificou de “discursos longos e envenenados cujo termo de comparação só se pode encontrar na arenga de quem prega no deserto com efeitos da semente que caiu sobre pedras.”
Tenho estado a acompanhar com alguma atenção os governos europeus, em particular o caso de Portugal, da Bélgica, da França, da Inglaterra, da Espanha, da Grécia e da Alemanha, para fazer face à crise, mundial, adoptaram medidas sérias e concretas de austeridade, nomeadamente cortes nos salários dos funcionários públicos, à redução de viagens dos altos dirigentes dos Estados, cisão e/ou extinção de ministérios com pouca actuação social, corte nos gastos em combustível, telecomunicações, etc.
Quando se esperava que o governo do nosso país fosse adoptar as mesmas medidas, nas mesmas circunstâncias (de crise) adoptadas por estes países, passando do papel para a prática, quão aspirina fora do prazo deu, de ‘mahala’, ao povo! Não se combate dores de dentes com paliativos como a aspirina.
Esta semana, em Nampula, o Ministério da Ciência e Tecnologia sob aval do governo, com certeza, pariu mais uma instituição pública do ramo. Já lá existem duas ou três do género, ligadas às tecnologias de informação e comunicação.
No fundo o que é que isso significa? Significa que mais dinheiros drenados, mais benesses aos novos ‘bosses’, mais gastos sobre a “calva” da economia moçambicana.
Tudo isto e mais alguma coisa leva-me a questionar, se não estamos perante um governo de ‘Tiriricas’? O tão famigerado Tiriricas do Brasil, de palhaço, virou político.
Tarde ou cedo, ainda neste mundo de coisas desajustadas, vamos ouvir-lhe presidente do Brasil. É tudo uma questão de tempo. Nesse tempo (espero não estar), para o caso de Moçambique, a bendita geração da viragem não tardará em mudar de nome para a geração de vira-vento! A ver vamos. As coisas más, diz o ditado, cria contágios.
Respondendo directamente ao leitor de que tenho estado a citar, devo dizer, ironicamente, o seguinte: Durante as lições caseiras aos meus sobrinhos, não falta o seguinte aviso: Em política como na vida em geral, apoiar uma determinada posição ou ser panegirista desta, deve ser antecedido de um exercício mental profundo e exaustivo.
Por isso importa, acima de tudo – e no meio de todo este terror social que vivemos –, conhecer o outro lado da moeda (o que se opõe).
Fonte: O AUTARCA – 25.10.2010
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