sexta-feira, julho 06, 2012

Zambézia – Mais vozes levantam-se contra fraude académica

Cresceram as vozes que protestam contra a falta de ética e deontologia profissionais dos funcionários do sector da Educação e Cultura, na Zambézia, envolvidos na venda ilegal no mercado negro, das avaliações do segundo trimestre que culminaram com a sua anulação devido a fraude.
Diferentes segmentos da sociedade civil, nomeadamente governantes, académicos e confissões religiosas, condenaram com veemência a falta de carácter e responsabilidade de todos maus funcionários que pretendem perpetuar a fraca qualidade de ensino, através de atitudes imperdoáveis, e exigem que os gestores do sector investiguem e punam exemplarmente os visados para moralizar o ensino.

O governador da Zambézia, Francisco Itae Meque, afirmou que deve ser instaurado um inquérito para investigar todos os passos que decorreram da recolha das propostas das avaliações nas escolas, as pessoas envolvidas na sua análise e distribuição dos enunciados nos diferentes circuitos. Francisco Itae Meque mostrou-se bastante agastado com o sucedido, por isso, afirmou que a equipa de inquérito deve estar imediatamente no terreno para averiguar, pelo facto de ser inconcebível que avaliações escolares tenham sido vendidas no mercado municipal e outros locais.

“Temos de apurar responsabilidades e isso não vai terminar assim”, prometeu perante os membros do seu executivo que também condenaram, a todos os títulos, a acção ora ocorrida.
A edilidade de Quelimane, através do seu chefe, Manuel de Araújo, distribuiu um comunicado à Imprensa no qual condenava, igualmente, o sucedido e pediu a criação de uma equipa independente para investigar o caso.

“O Conselho Municipal condena veementemente as fraudes detectadas nas provas realizadas semana passada, bem como a participação de todos os envolvidos no indecoroso processo, com particular realce para aqueles a quem o povo confiou a nobre tarefa de dirigir o sector da Educação”, lê-se no comunicado distribuído à Imprensa.

O mesmo documento refere ainda que os acontecimentos são motivo bastante e suficiente para que se exija a constituição imediata de uma comissão independente para o apuramento da verdade dos factos e o encaminhamento dos prevaricadores à barra da Justiça.

Para Gaudêncio Material, pedagogo e especialista em Politicas Públicas Sociais, os alunos estão no seu direito de se manifestar sobre a anulação das avaliações e isso é um direito constitucionalmente consagrado, uma vez que eles entendem que os seus direitos foram violados. Discorda, no entanto, com o facto de os estudantes, na sua acção de exigência para a restituição dos seus direitos, terem usado a violência como, por exemplo, derramar o combustível nas motorizadas, vandalizar os vasos de flores e quebrarem as grades das janelas e portas.

Segundo aquele docente da Faculdade de Ciências Sociais e Politicas da Universidade Católica de Moçambique (UCM), em Quelimane, ao anular as provas, o sector da Educação e Cultura seguiu o regulamento, visto que ficaria sem peso validar provas cujos alunos tinham enunciados e guias de correcção.

“Apercebi-me, igualmente, que haviam alunos que tinham provas e guias de correcção de testes posteriores. Ora, se esse modelo de avaliação provincial visa avaliar os professores no cumprimento do programa e alunos se conseguiram assimilar os conteúdos seria difícil porque seria uma autêntica cábula e não se mensuraríamos os reais resultados pretendidos”, disse o nosso entrevistado para quem fica igualmente difícil perceber se os resultados obtidos no primeiro semestre são ou não reais.

“Há uma fragilidade bastante acentuada na própria Educação e não há organização. Quem foi o fornecedor das avaliações, se algumas guias de correcção não tinham ainda chegado às escolas?”, questionou Gaudêncio Material para depois acrescentar que com as coisas a andarem assim, a Educação passará a ser visto por toda a sociedade, no futuro, como um sistema frágil e qualquer prova será brincadeira.

G-20 APONTA DEDO ACUSADOR

Entretanto, Amade Naleia, do G-20, considerou que o Departamento dos Recursos Humanos tem culpa no cartório pelo facto de não criar condições para o pagamento atempado de salários e providenciar os meios de trabalho aos professores e técnicos da Educação na cidade de Quelimane. Afirmou que, nos últimos tempos, os salários no sector a nível da capital provincial da Zambézia chegam tarde, o que pode propiciar desejos estranhos como, por exemplo, vender enunciado de provas para ter dinheiro para comprar energia, pagar água e outras despesas normais.

“Nós, como G-20, entendemos que o problema da fraude académica não veio de fora, está mesmo dentro da Educação onde não há sigilo profissional”, disse Amade Naleia para quem o G-20 elogia o posicionamento dos estudantes e chama atenção ao governo para reflectir sobre o problema, por forma a encontrar medidas correctivas. Aliás, na recente reunião do Observatório de Desenvolvimento da Zambézia, o G-20 já indicava alguns problemas que poderiam gerar tensões mas o executivo alegou que tudo estava controlado.

O G-20, pede à Assembleia Provincial da Zambézia, como órgão fiscalizador do trabalho do executivo para perceber o que está acontecer na realidade. “Só assim estará a cumprir com a sua missão. Já no segundo dia das manifestações, nós solicitamos um encontro com o director provincial da Educação e esse nos disse que só na próxima semana é que nos irá receber”, disse Amade Naleia.

Entretanto, o director provincial da Educação e Cultura, José Luís Pereira, disse na última terça-feira na sessão do governo da Zambézia que uma das soluções é reunir-se com os alunos, encarregados de educação e as direcções das escolas para explicar as razões da anulação das provas. “Houve fraude e o regulamento diz que quando assim acontece tem de haver uma segunda prova e os alunos sabem disso”, afirmou para depois reiterar que as provas foram anuladas e os alunos terão de fazer outras.

Há cada vez mais evidências de que as provas foram vendidas por tudo o que é canto, não só de Quelimane, como de Nicoadala. Os preços variavam entre os 15 e 30 meticais e as repostas em algum momento chegaram a ser vendidas a seiscentos meticais.

Os alunos acham que conseguiram boas notas porque alegam terem se preparado o suficiente para enfrentar os testes com sucesso, por isso, negam repetir esses testes e ameaçam voltar à rua caso as autoridades de Educação e Cultura mantenham a decisão de repetir as provas. (Jocas
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Fonte: Jornal Notícias – 06.07.2012

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