A comunidade muçulmana desafia o Governo a “pedir desculpas (públicas)
aos muçulmanos pela ofensa, além de autorizar as mulheres muçulmanas o uso do
véu na imagem fotográfica de documentos de identificação, tais como (Bilhete de
identidade, passaporte, carta de condução, cartão de eleitor etc.)”
Está declarada a guerra! A Comissão
dos Álimos (teólogos) de Nampula emitiu, no passado dia 11 de Agosto em curso,
uma deliberação na qual não só desafia o Governo a “pedir desculpas aos
muçulmanos pela ofensa, via imprensa” como também ameaça cortar colaboração com
o executivo e com o partido Frelimo.
No dia seguinte (12 de Agosto),
elaboraram, em resposta aos referidos comunicados do Ministério da Educação
(MINED), atinente ao uso do véu nas escolas públicas, privadas e particulares,
uma exposição que foi encaminhada ao Conselho de Ministros, em que apresentam a
sua preocupação pelos “constantes pronunciamentos e decisões do Ministério de
Educação”.
Deliberação da sessão extraordinária
Os teólogos muçulmanos, reunida na sua sessão
extraordinária dos dias 10 e 11 de Agosto de 2012 na cidade de Nampula, para
analisar o teor das circulares nºs 1387/2012 e 06 GM/MINED/2012 do MINED, do
dia 31 de Julho e 10 de Agosto de 2012, respectivamente, deliberaram que o
Governo deve, além de pedir desculpas aos muçulmanos pela ofensa, via imprensa,
“autorizar, de forma documentada, o uso do hijab (véu Islâmico) nas
instituições públicas e privadas permanentemente”; autorizar também “as
mulheres muçulmanas o uso do véu na imagem fotográfica de documentos de
identificação tais como (Bilhete de identidade, passaporte, carta de condução,
cartão de eleitor etc.)”.
Na mesma deliberação, desafiam o Governo a incluir “mais
académicos e intelectuais muçulmanos nos diferentes sectores de actividades do
âmbito governamental” e “colaborar em matéria religiosa com os teólogos e
respeitar os princípios islâmicos”.
Os teólogos referem que os pontos apresentados são os que
“mais inquietam os muçulmanos de Nampula, em particular, e do país no geral”,
daí esperarem “a apreciação minuciosa e a resposta urgente” dos mesmos para
“tranquilizar o clima tenso instalado pela circular nº 1387/12, emitido pelo
MINED”.
Recado
eleitoralista
Na deliberação em referência, assinado pelo Sheikh Ismael
Abudo, os muçulmanos deixam um recado claramente eleitoralista: “com a
resolução das inquietações acima pela vossa parte, perspectivar-se-á uma boa
colaboração da Comunidade Islâmica no âmbito político”.
O documento foi enviado, não só ao
governador da província de Nampula, como também ao secretário do Comité
Provincial do Partido Frelimo e aos conselhos dos Álimos provinciais.
Repúdio
muçulmano em exposição
Num outro documento (exposição), encaminhado ao Conselho
de Ministros, os teólogos dizem que “volvidos 50 anos do partido Frelimo e 37
da independência, esperava-se um Moçambique melhor, de paz, tolerância e
respeito mútuo”, onde a prioridade de agenda “fosse harmonia social em todas as
regiões” do país.
“A Comunidade Muçulmana faz e
fará parte do povo moçambicano até ao dia em que se publicar o contrário; ela
contribuiu desde a fase pré-colonial, colonial e pós-colonial até aos nossos
dias, de grande forma para os diferentes aspectos de agenda do desenvolvimento
deste país sem necessidade de se especificar. Todavia, não faz sentido somente
ser utilizada e excluída”, refere aquela comunidade na exposição, esclarecendo
que “quem pensar que os muçulmanos são atrasados estará a trair a sua própria
consciência”. (Lázaro Mabunda)
Fonte: O País online – 21.08.2012
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