quarta-feira, agosto 08, 2012

“A mentira não faz História de uma Nação” Fanuel Guidion Mahluza, o homem que deu o nome “FRELIMO” ao movimento de libertação de Moçambique


SAVANA Maputo, Sexta-feira, 20.10.00, Ano VI Nº 353 - Editor: Salomão Moyana

Tema da semana

Por Salomão Moyana

O cidadão que aqui vou entrevistar é natural de Lhovukazi, distrito de Xai-Xai, província de Gaza. Tem 68 anos de idade, dos quais 40 foram passados fora de Moçambique, onde pertenceu a diversos movimentos de libertação nacional. Foi um dos fundadores e vice-presidente da UDENAMO, em 1960 em Bulawayo, foi a pessoa que sugeriu o nome “FRELIMO” ao movimento resultante da união entre UDENAMO e MANU, em 1962 em Acra, e foi adjunto de Marcelino dos Santos na chefia das Relações Exteriores da Frelimo, em Dar-es-Salaam, em Junho de 1962, foi secretário da Defesa do COREMO e foi secretário de Relações Exteriores da Renamo, já nos anos 80. Esteve em várias cadeias, incluindo na de Moçambique “D”, em Cabo Delgado, onde diversos compatriotas nossos foram executados nos anos 70 e 80.



Hoje, ele é um simples cidadão que nem casa tem para albergar a sua família, apesar de a sua cabeça transportar muita informação sobre a história deste País. As autoridades deste País são sempre assim: São capazes de dar casa a quem complicou a vida do País e negar a habitação a quem criou condições para a libertação nacional.

Trata-se de um homem que faz muitas revelações curiosas e tem posições firmes sobre factos históricos destorcidos e que se dão “por toma lá dá cá” ao consumo público nacional e internacional.

“Dizem que Eduardo Mondlane é que uniu os três movimentos antes da fundação da FRELIMO, o que é mentira. Eduardo Mondlane foi convidado por nós para vir a Dar-es-Salaam testemunhar a integração dos três movimentos de libertação, pois já tínhamos fundado a FRELIMO. Eduardo Mondlane não é o fundador da FRELIMO, ele é o primeiro presidente da FRELIMO”.

Diz ainda que Urias Simango nunca foi reaccionário, apenas foi vítima da “demagogia dos tsongas” que nunca aceitaram que um ndau os governasse por causa de contradições históricas existentes entre esses dois grupos filhos de Soshangane. Sobre essas questões, apenas na próxima edição é que vamos desenvolver, isto é, vamos contar como é que os dois filhos de Soshangane, Ndawe e Tsonga, se conflituaram até criar um complexo histórico entre tsongas e ndaus, que perdura até hoje.

Conversar com Fanuel Guidion Mahluza equivale a abrir um livro que nunca mais acaba sobre a história nacional. Nós fizemos mais de 16 horas de conversa com ele e gravámos meia dúzia de cassetes sobre o que ele sabe de Moçambique.

Excertos da conversa gravada:

Senhor Fanuel Mahluza, você é considerado por muitos moçambicanos um dos pioneiros da revolução moçambicana e conhecedor da sua História. Conte-nos lá como é que tudo começou até à fundação da Frelimo...

- Os moçambicanos encontraram-se na Rodésia. Cada qual fugiu para lá pelos próprios meios e pela sua vez. Eu, como Mahluza, fugi por minha vez e nem sabia de que havia moçambicanos lá. Fugi no dia10 de Junho de 1960, dia de Portugal e Dia de Camões.
Eu fui ajudado por um primo meu que era chefe da estação dos Caminhos de Ferro de Mapai, de nome Gomes Tchambale. Foi em casa de quem fiquei durante uns dois dias.
Ele tinha um seu amigo na fronteira, a quem me manda ter com ele munido de uma carta, facto que permitiu que no dia 10 de Junho ele me fizesse atravessar em segurança a fronteira.
É verdade que nessa altura as coisas não eram ainda assim tão complicadas, mas o certo é que ninguém podia atravessar a fronteira assim de qualquer maneira.
Então, atravessada a fronteira, chego em Bulawayo para onde viajei de comboio. Quando cheguei a Bulawayo levava comigo uma carta para Calvino Zaqueu Mahlayeye que é meu familiar e também família de Gomes Tchambale. Então, Zaqueu recebe-me e me hospeda em sua casa.
Acontece que um ou dois meses depois de chegar a Bulawayo eclode uma greve na Rodésia dos africanos pertencentes ao partido de Joshua Nkomo. E nós, como jovens, entrámos sem convite de ninguém nessa coisa da greve dos zimbabweanos. Andámos a lançar pedras aos carros do governo, dos brancos, etc...

Fundação da UDENAMO em Bulawayo

E uma semana depois desse acontecimento, houve um comício onde nós os moçambicanos começámos a ver o branco a ser insultado e convidado a ir embora para a sua terra e deixar a terra dos negros para ser por estes governada.
E começámos a entender que afinal o branco também pode ser insultado e ainda por cima por homens negros. E isso fez-nos começar a pensar na nossa terra, Moçambique.
 Um mês depois viria a conhecer Adelino Chitofo Guambe, moçambicano natural de Massinga, província de Inhambane, que vivia em Bulawayo. Ele estava acompanhado de Aurélio Bucuane, outro compatriota nosso.
Então, estes dois, por causa do facto de todos os moçambicanos que tinham assistido ao comício terem passado a conversar abertamente sobre a situação no país, chamaram-nos a todos para nos reunirmos com eles.
No primeiro encontro estivemos a falar de coisas banais que aconteciam no País, tomando coca-cola e depois disso nos separámos. Passados dois meses, voltámos a ser convidados para um segundo encontro.
Nesse segundo encontro começava a se notar a mudança de atmosfera e algo parecia estar a tomar forma, embora houvesse ainda algo no ar porque não sabíamos quem era quem naquele encontro. Se de entre nós haviam homens honestos ou não, pois a PIDE estava infiltrada no seio dos moçambicanos na Rodésia.
Então, um moçambicano de nome Lourenço Matsolo levanta-se nesse segundo encontro e diz: “meus amigos, estivemos há dois meses no primeiro encontro e agora estamos a ter o segundo, mas não vejo nada de concreto”.
Era um fulano muito agressivo que parecia ser impaciente e que queria coisas concretas em pouco tempo.
E ele pergunta se os dois encontros teriam alguma coisa a ver com a formação de um partido político.
Naturalmente, os nossos hospedeiros ficaram intrigados e começaram a olharem-se um ao outro e Adelino Guambe levanta-se e diz: “ sim, estes dois encontros têm a ver com a formação de um partido político”.
Os nossos hospedeiros eram todos iguais, mas Aurélio Bucuane era um indivíduo que tinha o 2º Ano do Alvor, feito na Manhiça. Por isso, era um indivíduo que falava melhor português do que Adelino Guambe, que tinha apenas a 4ª classe do ensino primário. Mas, mesmo assim, Guambe era um indivíduo com quem se podia contar. Quanto a mim, nessa altura eu tinha o 4º Ano mal feito do ensino técnico que compreendia a Escola Industrial e Comercial.
Bucuane, porque se considerava muito instruído, era muito orgulhoso. Até eu que tinha o 4º Ano do ensino técnico, não passava por nada diante do nosso amigo Bucuane.
Mas, como tenho o complexo de igualdade, deixava-me calar quando ele assim se pavoneava, mesmo embora sabendo que eu tinha mais instrução e mais informação e formação que ele.
Repare que qualquer pessoa que aparecia diante de Bucuane ele tratava de chamá-lo de analfabeto. Falava o português dos Lusíadas feitos no Alvor, na Manhiça.
Todavia, Guambe não tinha muita instrução. Tinha apenas a 4ª classe. Mas penso que tinha o complexo de igualdade, pelo menos pela maneira como se comportava perante outros homens. E acima de tudo, apesar da sua 4ª classe era um homem muito inteligente e muito novo. Em 1960, quando nos conhecemos em Bulawayo eu tinha 28 anos e Guambe tinha apenas19 anos. Mas muito inteligente.
Então, Guambe, quando ouviu dizer que nós, os amigos, apoiávamos a ele como quem pudesse ser o nosso líder entre os dois nossos hospedeiros, aconteceu que num certo sábado, dia 18 de Outubro de 1960 reúne-nos a todos nós seus amigos em casa de um senhor chamado Mandlate que era nosso conselheiro e Guambe nos diz que todas as colónias portuguesas têm partidos políticos e que nós, os moçambicanos, não tínhamos nada. Insinuou que talvez nós não fôssemos tão homens como eram os outros...
Foi assim que um jovem dos seus 19 anos e com apenas 4ª classe se dirigiu a outros doze ou catorze compatriotas mais escolarizados e mais velhos que ele.
Considero isto muito interessante.
E, de facto, era só Moçambique. Toda a África tinha já movimentos de libertação nacional ou partidos políticos, à excepção de Moçambique.
E todos, naturalmente, respondemos em coro dizendo que nós também éramos homens iguais aos das outras colónias portuguesas que já tinham formado os respectivos movimentos de libertação nacional.
E como que para nos provar que o mais macho de entre todos nós ali presentes era ele, Adelino Guambe disse o seguinte: “Se vocês dizem que somos homens, então, eu declaro hoje, dia 18 de Outubro de 1960, a fundação da União Democrática Nacional de Moçambique (UDENAMO)”.
E assim ficaria registado para sempre na História da revolução moçambicana que Adelino Guambe, com a sua juventude e sem nenhuma escolarização avançada, declarava naquele dia para todo o mundo a criação do primeiro movimento de libertação de Moçambique.
É interessante isto. Um rapaz de dezanove anos de idade, com apenas 4ª classe do ensino primário, desafiando a seus compatriotas ali presentes, mais escolarizados e ainda por cima alguns dos quais, como eu, muito mais velhos a levantarem a cabeça e seguirem o exemplo do que ia acontecendo em todo o continente africano.
E diz ele mais adiante:nós sabemos que quando temos um movimento temos à nossa volta a morte e todo o tipo de ciladas. A PIDE estará à nossa volta procurando impedir as nossas acções. Portanto, vamos aceitar qualquer coisa que possa aparecer diante de nós, daqui para frente.
Podemos morrer amanhã, ou depois de amanhã, ou ainda podemos conseguir alcançar o que estamos a pensar.
Quem quer ir comigo nessa aventura de vida ou morte?
Depois desta pergunta, eu, Mahlayeye e mais o Sigaúque nos levantámos. Naturalmente que não deixaria de haver alguns que pensavam duas vezes, os que têm cobardia e outros que pensam que eu casei ontem, porque tenho família, porque tenho isto ou aquilo.
Mas nós os três dissemos logo imediatamente ao Guambe que estávamos prontos para tudo o que ele está a dizer.
Automaticamente, ele era o presidente da União Democrática Nacional de Moçambique (UDENAMO), por mérito próprio, porque ele é que estava a anunciar a existência do mesmo pela primeira vez naquela reunião.
Levanta o dedo após o anúncio da nossa aderência e diz o seguinte: Mahluza, estou a apontar a você como vice-presidente e em seguida aponta o mesmo dedo na direcção do Mahlayeye a quem nomeia como secretário-geral do movimento.
Repare que Mahlayeye era amigo pessoal de Guambe e eram da mesma idade, pois Mahlayeye tinha também 19 anos de idade.
E depois disso, o mesmo dedo indica Sigaúque como secretário da organização do movimento.
Por isso, nós os três aceitámos unirmo-nos com Guambe, morrer com o Guambe como o haviam feito séculos antes os Doze Apóstolos de Cristo.
Por isso, nós os três, contrariando os restantes companheiros que estavam naquela histórica reunião, aceitámos ir para onde fosse necessário ir com Guambe e a partir daquele momento, o movimento passou a ter quatro oficiais no dia 18 de Outubro de 1960.

Joshua Nkomo aconselha e apoia fuga para Tanganyika

Tivemos, naturalmente, muitas dificuldades, porque a PIDE estava à nossa procura depois de ter ouvido isto. Porque entretanto, houve um fulano, natural de Sena, de nome Fernando Chunga que esteve connosco no dia da fundação da UDENAMO e que trabalhava no Consulado de Portugal em Bulawayo, o qual, mal se concretizou a fundação do movimento foi transmitir a informação ao Consulado.
Então, nós, os oficiais da UDENAMO, passámos maus bocados. Vivíamos nos túneis e à noite é que podíamos ir aos nossos familiares buscar comida. Desde aquela data até finais de Janeiro de 1961a nossa vida era assim, porque a PIDE e a Polícia Política da Rodésia estavam permanentemente à nossa procura.
Entretanto, em Março de 1961, fomos a Salisbúria, hoje Harare, ter com Joshua Nkomo, a quem comunicámos que tínhamos formado um movimento político moçambicano, e como já tinha antes ouvido falar da nossa existência de surpresa confirmou a nossa presença.
E então, ele disse que havia membros do seu partido que estavam a trabalhar como homens da segurança do governo rodesiano. E ele acrescentou que nós éramos procurados como agulha no palheiro pela segurança rodesiana.
Dito isso, Nkomo meteu a mão no bolso e dele extraiu uma boa soma em dinheiro e nos entregou dizendo-nos para sairmos imediatamente da Rodésia com destino ao Tanganyika, onde existia um governo de Transição em preparação do país para a proclamação da sua independência.
“É exactamente aí onde vocês podem viver e não aqui”, explicou-nos Joshua Nkomo.
Mas, naquelas circunstâncias, em virtude de os nossos nomes já estarem espalhados pelas fronteiras, não podíamos partir em grupo, porque assim corríamos o risco de sermos todos presos e desmoronarmos por completo a ideia da existência do partido.
Assim, Guambe ofereceu-se como voluntário para seguir em frente como líder do movimento, explicando que mal conseguisse chegar transmitir-nos-ia instruções para o que se devia fazer em seguida.
E depois de distribuir o dinheiro necessário a cada um de nós para a viagem, meteu-se a caminho rumo ao Tanganyika.
Deste modo, nós continuámos na Rodésia a viver nos túneis como vínhamos fazendo desde Outubro.
Mesmo assim, Sigaúque, por vezes, ia trabalhar mas Mahlayeye e eu optámos por deixar de trabalhar por temer o que nos poderia acontecer.
Decorridas duas semanas após a partida de Guambe, recebemos uma carta sua reportando-nos ter viajado e chegado bem a Dar-es-Salaam e recomendando-nos o modo como deveríamos seguir os seus passos rumo às terras tanzanianas.
Mas para sairmos da Rodésia tínhamos que encontrar uma forma de contornar o obstáculo existente em Victória Falls na fronteira entre os actuais Zimbabwe e Zâmbia.
Como Sigaúque se encontrasse a trabalhar nos Caminhos de Ferro conseguiu arranjar cartões da sua companhia que nos identificavam como trabalhadores da mesma e nos permitiam atravessar a fronteira comum das duas Rodésias sem complicações de maior com a Polícia. E com esses cartões podíamos até ter possibilidades de ir até ao Malawi, antiga Niassalândia.
Nos nossos passes estava escrito que íamos à Rodésia do Norte passar a semana santa com as nossas famílias e de facto na fronteira comum daqueles dois países pudemos passar sem dificuldades de maior.
Atravessada a fronteira chegámos a Lusaka. Esta era apenas a primeira etapa, porque ainda estávamos no interior da Federação das Rodésias e Niassalândia.
A carta que nos fora enviada por Guambe indicava que chegados a Lusaka devíamo-nos dirigir para Kampiri Post seguindo a linha férrea que vai para as minas de cobre de Copperbelt.
Então, em Kampiri Post deixámos o comboio e apanhámos um autocarro duma companhia cujo nome não me ocorre presentemente, o qual nos transportou até à fronteira de Thunduma, entre Zâmbia e Tanganyika, viagem que durou dois dias.
Quando lá chegámos e porque ali éramos estranhos tivemos que fazer uma pausa para pensar sobre o passo que íamos tomar a seguir de modo a evitar qualquer complicação com a Polícia da fronteira. Eis que Sigaúque se recorda que na mala dele transportava consigo uma Certidão de Baptismo. Extraiu da mala o documento e depois de uma curta reflexão decidimos apresentar aquela Certidão aos oficiais da fronteira do lado zambiano, explicando que nós éramos estudantes enviados pelos padres moçambicanos para Uganda, para a Universidade de Makerere, para ali irmos continuar os nossos estudos e que aquele seria apresentado como nosso documento de identificação.

E estava escrito em português?...

- Exactamente. E eles que não toscavam nem uma palavra de português, olharam para a Certidão e para nós e, concluindo que fôssemos uns inocentes estudantes que nada tinham a ver com política, eles carimbaram a Certidão e devolveram-nos desejando-nos boa viagem.
Considero isso como milagre de Deus. Passámos aquela fronteira!
Não podiam ler aquilo porque estava em português, nem sequer descobriram que os nomes dos três não figuravam da Certidão e nem sobre isso nos perguntaram. Por isso, só um milagre de Deus é que nos podia tirar daquele aperto.
Do lado do Tanganyika já não escondemos a nossa identidade, mesmo perante os oficiais da polícia de fronteira brancos, porque refugiados de Moçambique, embora poucos, não éramos os primeiros e, ainda por cima, ali havia refugiados da África do Sul, da Namíbia e de outros países da África Austral.
E como refugiados meteram-nos num comboio que nos transportou da fronteira até Dar-es-Salaam onde encontrámos o Guambe à nossa espera. E ele ficou bastante satisfeito com a nossa chegada e levou-nos imediatamente para a sede do partido TANU (Tanganyika African National Union).
E nós éramos os primeiros refugiados políticos moçambicanos a chegarmos naquilo que pouco tempo depois viria a ser a República do Tanganyika. E este acontecimento se deu no dia 6 de Abril de 1961.
Recebemos as boas-vindas da TANU e nos ofereceu uma casa onde vivia já o Guambe. E nessa casa compartilhávamos a habitação com refugiados ruandeses, por causa da língua, pois pensavam que entre quem fala português e o que se expressa em francês se entendem perfeitamente, o que não é verdade.
E no dia 14, depois de uma semana, fomos à imprensa porque a UDENAMO estava apenas nas nossas algibeiras porque na Rodésia nada sobre a sua existência podia ser dito oficial e publicamente.
Por isso, no dia 14 de Abril de 1961 convocámos uma conferência de imprensa onde pela voz do nosso líder, Adelino Guambe, anunciámos o nascimento de um movimento de libertação moçambicano.
A primeira reacção foi esta: os angolanos, os guineenses, os cabo-verdianos e são-tomenses tinham sido aceites pelo Rei Hassan de Marrocos. Por isso, como as colónias portuguesas não eram assim muito conhecidas, estava-se a organizar uma Conferência das Colónias portuguesas conhecida pela sigla CONCP. De modo que a novidade da formação da UDENAMO chega exactamente naquela altura aos organizadores da CONCP, onde o moçambicano Marcelino dos Santos, natural de Nampula, era o secretário organizador da CONCP mas sem partido político.
Portanto, o primeiro apoio nos vem da preparação da CONCP, porque a partir dali muitos outros países e organizações anti-coloniais despertaram para a criação da UDENAMO.
E o Presidente do Gana, Kwame Krumah, que já de Bulawayo tinha correspondência com Adelino Guambe, estava, naturalmente, a par, da existência da UDENAMO.
E então, a CONCP manda um telegrama e manda uma carta e uma passagem de avião, porque, entretanto, a conferência estava prestes a realizar-se, para um membro da UDENAMO deslocar-se à Casablanca a fim de ir participar naquela Conferência das Colónias portuguesas.
É assim que Adelino Guambe, nosso presidente, vai para Casablanca. Voa pela primeira vez na sua vida, onde vai se juntar, também pela primeira vez, com outro moçambicano que é Marcelino dos Santos.
E como que por magia do destino, os dois moçambicanos representam o País naquela Conferência.
Portanto, nesta conferência Moçambique é representado pela UDENAMO, cujos membros são Adelino Guambe, presidente e Marcelino dos Santos, o qual a partir daquele momento é nomeado por Guambe para as funções de secretário das Relações Exteriores da UDENAMO.
Desde então, de quatro membros fundadores da UDENAMO passámos para cinco líderes do movimento com o envolvimento nele de Marcelino dos Santos.
E assim começámos a trabalhar forte aqui, acolá e em todo o lado, porque já éramos reconhecidos como um movimento de libertação que pretendia lutar pela independência de Moçambique, tal como ocorria noutras colónias africanas de Portugal.
Depois da Conferência, Adelino Guambe regressa a Dar-es-Salaam acompanhado por Marcelino dos Santos para este vir se identificar diante dos restantes membros do movimento.
Depois disso, Marcelino dos Santos retorna à Casablanca como representante do movimento para os países árabes, representando, obviamente, a UDENAMO.

Como é que era o clima de trabalho para vocês nesse Tanganyika de então?

- Era uma coisa difícil. Nós fomos criados na Rodésia. os futuros governantes do Tanganyika não estão nada satisfeitos com a nossa situação. Cada qual quer o seu satélite.

O que é que isso significa?

- Nós falávamos português e balbuciávamos, com dificuldade, o inglês. Agora, o quê que acontece? No Tanganyika havia moçambicanos emigrantes que viviam em grande número naquele país e que inclusivamente tinham tomado parte na luta empreendida pelo povo do Tanganyika pela sua libertação, como membros efectivos da TANU e, consequentemente, confiados pela TANU.
Tinham lutado lado a lado com a TANU e tinham feito tudo.
Por isso, um dia quando são consultados sobre a nossa identidade, os nossos compatriotas radicados há muito no Tanganyika dizem simplesmente que nós somos laurentinos, portugueses e somos do Sul.
E iam mais longe ao classificar-nos como sendo iguais a portugueses que colonizavam Moçambique. Diziam ainda que assumíamos esta identidade porque muito embora fôssemos negros vínhamos de Lourenço Marques onde estava estabelecido o poder central português em Moçambique.
Havia ignorância nos nossos compatriotas sobre quem era de facto português e quem não era. Ali estávamos perante a mesma ignorância que se assistia aqui em baixo quando se falava de um cabo-verdiano. Quando víssemos aqui um cabo-verdiano a trabalhar e ganhando como português considerávamo-lo igual ao nosso patrão colonizador.
Por isso, a nível do Norte do País, vivia-se naquele tempo esta ilusão. Isto porque no Sul ficava a capital de Moçambique, donde partiam as boas coisas, quer em termos de confecções do vestuário, objectos utilitários e acima de tudo a política de educação partia daqui e se expandia por todo o território nacional. Ai reparar que os enfermeiros de origem africana, os professores e alguns outros profissionais de profissões liberais iam para o Norte de Moçambique partindo da região Sul.
E quando os nossos compatriotas do Norte nos chamavam “mulandi” isso tinha a significação essencial de português de pele negra.
Devido exactamente a esta ignorância que tinham os nossos compatriotas de origem makonde que viviam no Tanganyika levou-lhes a que dissessem aos dirigentes políticos da TANU que nós éramos portugueses tal e qual o nosso colonizador.
E diziam ainda que nós, somos povo moçambicano. E quando o nosso Moçambique ficar independente - porque no seu entender Moçambique resumia-se apenas a uma certa parte da província de Cabo Delgado, limitado a Sul pelo rio Messalo e a Norte pelo Rovuma.
Eles não tinham a dimensão real do nosso Moçambique, como um grande país. Para eles Moçambique resumia-se àquilo a que já me referi.
Prosseguindo eles prometiam aos tanzanianos que quando Moçambique ficar independente graças à vossa ajuda, nós iremos unir as duas pátrias e formarmos uma grande Nação com o Tanganyika.
Por isso, dito isto a alguém do lado do Tanganyika que mal conhecia em detalhe o nosso País, ficava muito satisfeito.
E quando nos abordavam sobre esta mesma questão da possível união depois da Independência, nós dizíamos que o nosso mandato se resumia à libertação da pátria e que acerca da união é algo que requereria uma ampla discussão com os outros sectores de opinião. Já nessa altura tínhamos uma pequena visão sobre esta situação de uniões.
E dissemos que só se podia discutir essa possibilidade quando os dois países tivessem alcançado a Independência e não naquele preciso momento.

Assim eles entenderam que vocês eram mesmo portugueses, não é verdade?

- Exactamente, e a partir daí começaram a fazer chantagem connosco. Sem qualquer aviso prévio fomos escorraçados da casa que habitávamos e sem lugar fixo para nos instalarmos espalhámo-nos pelas casas de pessoas amigas como forma de garantir a nossa sobrevivência.
Entretanto, a UDENAMO, depois da Conferência da CONCP já tinha ganho uma projecção internacional o que de certa forma lhe trouxe algum apoio.
Com efeito, depois de regressar de Casablanca com Marcelino dos Santos, Guambe, pouco tempo depois partiria para Helsínquia, na Finlândia, participar numa conferência de jovens, razão que leva a que as suspeitas dos tanzanianos sobre o facto de sermos ou não portugueses cresçam e assim pensam em pegar nos nossos compatriotas ali radicados e formam uma outra organização com idênticos objectivos que os nossos. Só que estes moçambicanos não falavam português e nem inglês. Somente se expressavam em shimakonde e kiswahili. Mas, mesmo com estas limitações, estavam talhados à medida desejada pelos tanzanianos que sonhavam com a união dos dois países.
É assim que nasce a MOZAMBIQUE AFRICAN NATIONAL UNION, ou seja MANU, que é formada pela mão dos nossos hospedeiros tanzanianos.
Portanto, este era o movimento que na sua génese contava que logo que libertasse Moçambique do colonialismo português iria uni-lo ao Tanganyika, formando assim uma única Nação.
Assim, a UDENAMO com esta evolução dos acontecimentos, começou a perder toda a base de apoio no Tanganyika.
Entretanto, a UDENAMO já sabia que a luta de Moçambique não é a luta do Tanganyika, exactamente porque, contrariamente ao colonialismo britânico, os portugueses tinham vindo a Moçambique para ficar. E nós já tínhamos na ideia que a luta armada era a única coisa que podia salvar Moçambique. Isto começou a amadurecer nas nossas cabeças ainda quando estávamos na Rodésia.
Como antecedentes tínhamos o exemplo do Mau Mau no Quénia do Jomo Khenyata, onde a gente aprendeu que, afinal, o branco podia ser morto como qualquer outra pessoa.
Por isso, a ideia da inevitabilidade do desencadeamento da luta armada para a libertação de Moçambique, já vinha com a UDENAMO.

E a UNAMI de que tanto se fala estava onde?

- Espera aí, que ainda vamos percorrer alguma distância para falarmos disso.
O que é que acontece? Com estes acontecimentos que acabei de relatar, no Tanganyika, e com o nascimento da MANU e seus ideais de união com aquele país, nós, da UDENAMO, deixámos de ter campo de manobra e terreno para desenvolver as nossas actividades políticas naquele país vizinho.
O Adelino Guambe, na sua qualidade de presidente do movimento, é expulso do Tanganyika e transfere-se para o Gana onde reestabelece a nossa sede.

A visão estratégica de Adelino Guambe

O Gana já tinha começado a disponibilizar fundos para a nossa organização, o Reino de Marrocos, graças ao trabalho empreendido por Marcelino dos Santos, também nos dava um significativo apoio material, moral e financeiro.
Mas mesmo assim, as nossas actividades no Tanganyika eram superiores, uma vez que a MANU só dependia exclusivamente do apoio que obtinha da TANU.
Com a expulsão de Adelino Guambe do Tanganyika, a direcção provisória da UDENAMO no Tanganyika ficou nas minhas mãos, na qualidade de vice-presidente da organização.
Daí verificámos que não havia um outro país independente na região que pudesse servir de suporte efectivo à nossa luta de libertação, a não ser exactamente o Tanganyika que caminhava nessa direcção.
E do Gana vem a resposta da estratégia que devíamos seguir, pela carta escrita por Adelino Guambe para o movimento no Tanganyika. Guambe dizia que para continuarmos a contar com o apoio do Tanganyika independente como retaguarda segura da nossa luta devíamos tentar inverter a situação, conquistando para o nosso lado a MANU. Ele escreveu esta directriz directamente do Gana para nós que tínhamos continuado a residir em Dar-es-Salaam.

Que abordagem iriam fazer à MANU sem assustar os tanzanianos?

- Exactamente. Uma aproximação com a MANU para ver se podemos estabelecer uma plataforma de união de modo a que pudéssemos continuar no Tanganyika. Isto porque não poderíamos conduzir a luta a partir do Gana e nem sequer podíamos contar com a colaboração do Malawi ou da Zâmbia porque aqueles países ainda não estavam independentes.
Por isso, nós começámos a trabalhar nesse sentido visando atingir a directiva emanada do nosso líder a partir do Gana.
Custou-nos, mas como tínhamos dinheiro no bolso arrepiámos o caminho, beneficiando do facto de que a maior parte dos compatriotas a quem tínhamos que convencer eram trabalhadores das plantações de sisal no Tanganyika e passavam muitas privações e tinham necessidades em dinheiro.
Quando concluímos que a possibilidade de se realizar uma reunião com a direcção da MANU estava assegurada, escrevemos para Marcelino dos Santos o qual veio a Dar-es-Salaam ao nosso encontro com quem nos reunimos com a MANU, porque tendo Guambe sido expulso do Tanganyika, em nenhuma circunstância ele podia vir.
É neste momento que chega Hélder Martins com a sua esposa a Tanganyika. Tratava-se de um moçambicano branco que se vinha juntar ao movimento que pretendia lutar pela libertação do País.
Só que custa-nos receber o Hélder Martins porque o cônsul português acabava de ser expulso do Tanganyika.
E a chegada de Hélder Martins aumentou ainda mais a nossa dificuldade de nos relacionarmos abertamente com a MANU para podermos continuar a ter a nossa sede em Dar-es-Salaam porque, como disse antes, os membros da MANU nos consideravam iguais aos colonos portugueses que subjugavam o nosso País.
Por isso, para amenizar um bocado a situação, decidimos mandar Hélder Martins com Marcelino dos Santos para Marrocos, onde foi fixar a sua residência.

A traição começou cedo

Entretanto, antes da expulsão do cônsul português do Tanganyika, Aurélio Bucuane e Tchambale que tinham continuado indecisos em aderir ao movimento aquando da sua criação em Bulawayo vieram juntar-se a nós em Dar-es-Salaam.

Vieram ter convosco no Tanganyika?

Sim, no Tanganyika.

Qual era o primeiro nome do Tchambale?

- David Tchambale.

Qual era o relacionamento entre vocês que já se encontravam no Tanganyika e esse grupo que tinha permanecido na Rodésia?

Era de suspeita mútua.
Mas nós segregávamos aqueles dois nossos compatriotas pela maneira como antes de deixarmos Bulawayo se tinham comportado.
Primeiro, porque ao escolhermos Guambe para presidente do movimento estávamos a contrariar claramente os intentos do Bucuane que julgava que tendo o 2º Ano do Alvor, na Manhiça, reunia excelentes condições para ser líder, o que claramente rejeitámos.
Portanto, as nossas relações com Bucuane já não estavam boas desde então, pior quando suspeitámos que ele tivesse algumas ligações com a PIDE.
Nisto, acontece que Bucuane vai pedir emprego no Consulado português no Tanganyika, antes que o respectivo cônsul fosse expulso.
E ele consegue ali empregar-se. Só que mal ele consegue uma colocação no Consulado de Portugal em Dar-es-Salaam ele já não regressa à residência comum para dormir. Começa a passar noites noutro lugar, que entretanto nós não sabíamos aonde.
Por outro lado, o David Tchambale, amigo de peito do Bucuane também não o deixámos ir até ao escritório da UDENAMO e mal acorda vai directamente ao Consulado ter com Bucuane.
Nestas circunstâncias, a dupla Bucuane-Tchambale traça um plano secreto de roubar documentos secretos da UDENAMO.
No dia planeado para executarem a operação, quando eu e o Mahlayeye regressámos para o dormitório pusemo-nos a dormir. Eis que regressa David Tchambale que dormia connosco, acompanhado do Bucuane e do Cônsul português no Tanganyika, os quais ficam do lado de fora, deixando que David se introduzisse dentro da residência.
Como ambos nos encontrássemos a dormir, Tchambale introduz a mão no bolso das calças do Mahlayeye, o Secretário-Geral da UDENAMO, e saca as chaves do escritório e retira-se indo se juntar ao grupo lá fora com quem entra no carro do cônsul e conduzido por este e dirigem-se para o escritório da UDENAMO, donde retiram toda a correspondência enviada e recebida e entregam ao cônsul português.
De regresso depois desta façanha, Tchambale regressa ao nosso encontro e apanha-nos profundamente adormecidos e devolve as chaves para o bolso das calças do Mahlayeye e dorme também.
Foi de facto uma operação bem urdida, não restam quaisquer dúvidas.
De manhã, quando chegámos ao escritório e abrimos as portas tudo estava conforme, menos os documentos que tinham desaparecido miraculosamente e sem deixar rasto. Quem é o autor desta façanha?, eis a pergunta que cada um de nós se fez, mas sem lograr obter resposta.
Naturalmente que eu logo comecei a suspeitar do Mahlayeye, porque as chaves todas do escritório estavam sempre em seu poder.
Só que quando nós estávamos atrapalhados na tentativa de esclarecer este mistério, o guarda do edifício apercebe-se da nossa aflição e aproxima-se para dizer que um de nós havia lá estado no dia anterior à noite e abriu com as chaves a porta, entrou dentro e pouco depois saiu com um embrulho e juntando-se a outros dois homens, um dos quais branco retiraram-se.
Foi assim que começámos a suspeitar que tivesse sido de facto o Tchambale e fomos imediatamente participar a ocorrência à Polícia.
Naquela noite e depois de terem sido notificados pela Polícia sobre o roubo, o cônsul pagou caução e transportou o Tchambale e Bucuane para a fronteira de Mombassa e eles apanharam no dia seguinte um barco e vieram para Moçambique. Isto em 1961 e fizeram aqui uma grande festa de confraternização por terem desferido à UDENAMO este golpe tão baixo.
De entre a correspondência recebida que nos foi roubada havia lá uma carta vinda do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, na qual aquele país nos garantia o seu apoio e isso constituiu um rude golpe para nós e um forte trunfo para os portugueses.
Logo em seguida, Portugal condenava publicamente o Brasil, acusando-o de estar a ajudar os rebeldes exibindo aquela carta assinada pelo ministro das Relações Exteriores, o que valeu a demissão daquele governante como forma de o Brasil lavar a face.
É assim que, em 1961, Tchambale e Bucuane regressam para Moçambique?
- Exactamente. Tinham cumprido a sua missão de impedir a luta pela independência de Moçambique.
Então, continuámos a trabalhar. Já tínhamos um magazine chamado “Combate” que se publicava regularmente em Dar-es-Salaam, porque embora algumas figuras importantes da TANU não nos quisessem ficava feio atirarem connosco dali para fora.

E isso é que fez com que o cônsul português fosse expulso?

- Creio que sim, embora uma das razões tivesse sido a missão de sabotagem que fizeram no nosso escritório.
Continuámos a trabalhar e a tentar ganhar muitos membros do MANU para os nossos ideais.
Nessa altura, a UDENAMO já contava no seu seio com muitos membros do movimento oriundos do Norte de Moçambique, principalmente makondes e nyanjas de Cabo Delgado e Niassa, respectivamente.
Continuámos, entretanto, a enfrentar muitas dificuldades no Tanganyika porque o rótulo que nos tinha sido posto de não alinharmos na ideia da união entre Moçambique e o Tanganyika antes da libertação do País fazia com que as autoridades emergentes daquele país vivessem sempre numa desconfiança.
Chegámos a ter mais de cinco reuniões com a MANU na presença dos representantes da TANU em que as coisas que pretendíamos ver regularizadas eram sempre muito difíceis. Quer dizer, a TANU não nos deixava falar com a MANU sozinha, sempre que marcássemos um encontro com a MANU vinham também representantes da TANU para ouvir o que nós queríamos dizer à MANU e para controlar como é que a MANU respondia às nossas intenções.
Mas enquanto nos defrontávamos com estas dificuldades ao nível do Tanganyika, em contrapartida, a nossa aceitação internacional ia crescendo cada dia que passava, razão porque em todas as conferências internacionais das mais importantes nós éramos convidados quando a MANU era sempre marginalizada.

Adelino Guambe, arquitecto da unidade nacional

Quando somos convidados a participar na “All Freedom fighters Conference” em Acra, capital do Gana, que teria teria lugar a partir do dia 30 de Maio de 1962, já havíamos sofrido muito com o Tanganyika.
Mas nessa ocasião, antes dessa Conferência de Acra, o Guambe escreve-nos e comunica também a Marcelino dos Santos que aquela era a oportunidade que nós tínhamos de nos fazer representar em Acra não como UDENAMO mas como representantes de todo o Moçambique. Com isso ele queria dizer que na nossa delegação deviam estar representados os membros da MANU. Ele explicava ainda que aquela situação iria nos dar a oportunidade de conversar no Gana a sós, nós os moçambicanos, sem a interferência indesejável dos membros do governo do Tanganyika e nem do partido TANU.
Ele orientou ainda que a UDENAMO devia levar quatro delegados para aquela conferência, enquanto a MANU far-se-ia representar por três membros do seu movimento. E dizia que no caso de não nos entendermos através das discussões, a decisão seria alcançada por meio do voto, estando à partida garantida a vitória da UDENAMO na votação.
Por isso, com esta estratégia, no dia 30 de Maio de 1962 voámos rumo a Acra para irmos tomar decisões que viriam a ser cruciais na vida da libertação deste País.
Em Acra, enquanto o período diurno de 1 e 2 de Junho estava plenamente dedicado aos debates da Conferência, à noite desses mesmos dias nos encontrávamos como representantes dos dois movimentos, UDENAMO e MANU, para discutir os nossos problemas.
Começámos a discutir os nossos problemas de união sem a presença dos tanzanianos, sem a interferência da TANU.
No primeiro dia não chegámos a nenhum entendimento. No dia seguinte, 2 de Junho, depois da conferência internacional em que estávamos a participar, à noite voltámos a nos encontrar.
Finalmente, naquela noite de 2 de Junho, concluímos com satisfação que um novo movimento para libertar Moçambique tinha que aparecer.
Portanto, os delegados da UDENAMO foram os seguintes: Adelino Guambe, Fanuel Mahluza, Calvino Mahlayeye e Marcelino dos Santos. Pela MANU estiveram Mateus Mhole, Samuli Diankali e Daúd Atupale.
Foi no dia 2 de Junho que foi selado o acordo da união dos dois movimentos de libertação nacional.
E então, dissemos o seguinte: “estamos todos satisfeitos porque conseguimos a nossa união. Agora, vamos pensar o nome pelo qual será conhecido o nosso movimento. E o Guambe como presidente, fez a sua proposta primeiro, sugerindo que o movimento se chamasse “Frente Democrática de Moçambique, FREDEMO”.
Eu, Fanuel Guidion Mahluza, dei a seguinte sugestão: “Frente de Libertação de Moçambique, FRELIMO”.
Marcelino dos Santos diz: Frelimo soa melhor. E todos concordámos que o novo movimento se chamasse Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), isto na noite do dia 2 de Junho de 1962, em Acra, capital do Gana, onde nos encontrávamos a participar na conferência de todos os movimentos de libertação de África, convocada por Kwame Krumah.

Então, foi o senhor que deu nome à Frelimo?

- Não fui eu que dei o nome, mas fiz uma sugestão e depois Marcelino dos Santos considerou que FRELIMO soava melhor do que FREDEMO. E então, a nova organização que resultaria daquela união se chamaria FRELIMO.
Esta decisão foi tomada no dia 2 de Junho de 1962. Sublinho isto porque tem havido muita distorção da História afirmando-se que a Frelimo foi inventada doutra maneira.
Temos já a FRELIMO a partir daquele dia, resultado de uma reunião de sete moçambicanos na capital do Gana, Acra.
E nessa noite, tentámos escrever um discurso que seria enviado à imprensa, no dia seguinte para declarar o nascimento da FRELIMO.
e facto, o anúncio desta decisão viria ao conhecimento da opinião pública no dia 3 de Junho de 1962, pela voz de Adelino Guambe, portanto, Adelino Guambe é o primeiro moçambicano a falar publicamente do nascimento da Frelimo.

Então, naquela noite vocês decidem mandar à imprensa um comunicado?

- Sim. Nós decidimos mandar um documento para a imprensa para ser publicado no dia 3. Então, no dia 3 fomos à imprensa e Adelino Guambe, que é o chefe de tudo, vai ler à imprensa o nascimento de um novo movimento, de uma nova frente decidida a lutar de forma unida pela Independência de Moçambique. Acabava de nascer para Moçambique e para o mundo a FRELIMO, Frente de Libertação de Moçambique.
Portanto, toda aquela Conferência apoiou o moçambicano porque os angolanos tinham dois movimentos, que não se quiseram unir\; os zimbabweanos tinham dois movimentos que também não quiseram unir-se\; a África do Sul tinha dois movimentos e não havia nada.
Só o moçambicano é que tinha conseguido uma união. Os angolanos tinham dois movimentos, UPA e MPLA e não quiseram unir-se, mas os moçambicanos uniram-se e a FRELIMO teve um grande apoio.
Havia o problema de Tanganyika agora, em que a UDENAMO devia sair. Mas tendo conseguido constituir um único movimento, uma única frente, as autoridades de Tanganyika não podiam dizer que não, não nos apoiam. O que foi anunciado no Gana já não era UDENAMO e MANU, era a FRELIMO.
Então, a partir de então o quê que ficava? Era naturalmente, a integração dos dois movimentos, os membros e as propriedades deveriam vir para a FRELIMO. Com uma urgência marcámos para o dia 23 de Junho, como o dia da integração dos dois movimentos, o dia em que iríamos fazer uma cerimónia para integrarmos as propriedades e os membros dos dois movimentos.
Foi o dia marcado para não demorarmos, para não dar mais chance ao Tanganyika de nos dividir mais. Portanto, voltámos para Dar-es-Salaam o que deve ter acontecido entre os dias cinco ou seis. Quando chegámos em Dar-es-Salaam encontrámos o senhor Baltazar Chagonga ou melhor, José Baltazar Chagonga de seu nome completo, que disse ter um movimento chamado UNAMI (União Nacional de Moçambique Independente).

Onde é que estava este senhor?

- Este senhor Baltazar Chagonga estava, na altura, no Malawi. Mas, nessa altura, o Malawi não estava independente. Portanto, o movimento dele estava no bolso, porque não se podia anunciar.
Por isso, ele sai do Malawi quando ouve a notícia da união entre a UDENAMO e MANU nascendo a FRELIMO.
Então ele sai do Malawi e vem para Dar-es-Salaam.

Então a FRELIMO não é produto da fusão de três movimentos como se diz por aí? M

- Oiça de mim. Eu estou a dizer aquilo que de facto aconteceu e porque eu estava presente. Eu era vice-presidente da UDENAMO.

Mas eu estava à espera de encontrar os três movimentos reunidos a fundar a FRELIMO sob a direcção de Eduardo Mondlane...

- Calma aí! Quando chegámos em Dar-es-Salaam, encontrámos Chagonga com os elementos que constituíam o seu movimento. E ele disse-nos que tinha ouvido a notícia da união dos dois movimentos e que não queria que o seu movimento ficasse de fora da união.
E nós, grupo que já constituía a FRELIMO nessa altura, fomos reunir e concluímos que não tínhamos outra alternativa senão deixar aquele homem vir assinar perante nós o compromisso de que ele e os membros do seu movimento passavam a fazer parte da Frente de Libertação de Moçambique, FRELIMO. Chamámos o senhor José Baltazar Chagonga e ele assumiu por escrito o compromisso de se filiar, com os seus seguidores, na frente de Libertação de Moçambique.
Foi a partir daí que a FRELIMO passou a ser constituída por três movimentos.
Eu não estou a sonhar. Estou a falar da História que ajudei a construir.
O senhor Moyana está a ter a História real do surgimento da Frente de Libertação de Moçambique. E o livro que eu tenho está a dizer tudo isto que estamos aqui a falar.

Mas, então, onde é que está o Dr. Eduardo Mondlane quando vocês fundam a Frelimo?

- Quando nós fundámos a Frelimo o Dr. Mondlane estava nas Nações Unidas, como funcionário sénior. E, já em 1961, estávamos em contacto, via correspondência, com o Doutor Eduardo Mondlane. Quando veio para aqui, para a ex- Lourenço Marques, de férias e voltou para os Estados Unidos ele nos disse: eu quero participar, mas sou funcionário das Nações Unidas. Não posso estar nas Nações Unidas e ao mesmo tempo estar no movimento de libertação nacional. Guardem o meu nome clandestino. Isso na UDENAMO e não no MANU. Ele reiterou isso dizendo que guardem o meu nome clandestino porque ainda sou funcionário das Nações Unidas. E então ficámos assim, porque nós queríamos o Dr. Mondlane como um grande homem e um primeiro Doutor moçambicano.
Mas, então, nessa altura não podíamos fazer nada porque ele estava engajado em funções nas Nações Unidas. É nisto que avançámos para a integração de todos os três movimentos na criação da FRELIMO.
O quê acontece, Simango e o grupo dele de intelectuais já tinham chegado, nessa altura, a Dar-es-Salaam.

Mas antes eles estavam onde?

- Estavam no Zimbabwe, mas já eram membros da UDENAMO. Só que quando no Bulawayo forma-se a UDENAMO, Urias Simango era presidente de African Society, uma organização mútua. Tinham muitos membros.
Portanto, nós entrámos em contacto depois da formação da UDENAMO com Urias Simango e ele passa a ser um membro da UDENAMO clandestino, mas estando naquela associação e ao mesmo tempo quadro.
Urias Simango e Paulo Gumane chegaram ao mesmo tempo a Dar-es-Salaam. Até porque algumas reuniões que tivemos com os membros do MANU em Dar-es-Salaam já estiveram presentes Urias Simango e Paulo Gumane...

Paulo Gumane vinha da Rodésia também?

- Não!... Ele vinha da África do Sul. Era membro de um movimento trabalhista da África do Sul.
Era um dos oficiais de um partido Trabalhista da África do Sul e membro do Pan African Congress da África do Sul.
Mas quando ouviu da formação da UDENAMO, a Pan African Congress ajuda o Paulo Gumane para sair daquele país e vir juntar-se a nós, porque ele era moçambicano. E Urias Simango também conseguiu se deslocar naquele mesmo mês que me parece ter sido em Dezembro de 1961, para a cidade de Dar-es-Salaam, capital do então Tanganyika. Então, o grupo do Simango chega acompanhado de Filipe Samuel Magaia, Silvério Nungo, Machava e mais este Gundana, o Feliciano Gundana.
Este foi o grupo que veio juntar-se a nós em Dar-es-Salaam trazido por Urias Simango, e é um grupo que grosso modo saía da Escola Comercial da Beira, um pouco intelectual, porque a maioria dos seus membros já tinha o 2º Ano.

E Filipe Samuel Magaia saía dessa escola, também?

- Saía dessa escola, depois de ter sido um soldado colonial.
Então, o quê acontece aqui? Guambe tinha 21 anos de idade nessa altura, Simango tinha 27 anos e ele tinha um curso teológico e já era um padre e ignora Guambe que já nessa altura era um membro da liderança. Guambe era um rapaz pequenino que muitos ignoravam que pudesse estar à frente do movimento. E ele estava a viver com um grupo de semi-intelectuais que o apoiavam e que, por consequência disso mesmo, reputava-se como bom grupo.

Mondlane não é arquitecto da unidade entre os três movimentos

Agora Urias Simango sente que tem de levar a liderança da Frelimo porque Guambe não tem escolarização suficiente nem idade para ser líder, segundo o pensamento de Simango e seu grupo.
É aqui onde se revela, pela primeira vez no movimento de libertação, o problema entre changane ndawe e changane tsonga. É aqui que o grupo de Guambe se opõe instintivamente à possível liderança de Urias Simango, um changane ndawe. O grupo de Guambe era maioritariamente dominado por changanes tsonga. É aqui que nasce o problema de Mondlane.
Eu e Mahlayeye decidimos escrever a um outro mutsonga, Mondlane, com o pensamento de que mesmo que ele não viesse a ser um líder do movimento de libertação, mas que pelo menos viesse participar na integração oficial dos movimentos. Então, uma carta em tsonga é escrita a Eduardo Mondlane por nós, convidando-o a vir a Dar-es- Salaam para assistir à cerimónia de integração dos três movimentos, marcada para o dia 23 de Junho. Não posso esconder isto.

E porque é que escreveram em tsonga?

- Para ele compreender melhor o nosso pensamento. Porque queríamos que ele entendesse a essência cultural do problema que lhe colocávamos. Trata-se da afirmação de um grupo sobre o outro. Tratava-se já de luta pelo poder. É o mesmo conflito que houve séculos atrás entre os filhos de Soshangane: Ndawe e Tsonga e que deram origem aos ndaus e tsongas, sendo ambos os grupos filhos de Soshangane.
Esta era a essência da nossa mensagem, partindo do princípio histórico do relacionamento entre o tsonga e o ndau.
Então, Mondlane, no dia 16 de Junho de 1962 chega a Dar-es-Salaam a convite da UDENAMO.
Exactamente porque nessa altura ainda não havia a integração formal dos movimentos que viriam a constituir a Frente de Libertação de Moçambique, porque como disse esta estava marcada para o dia 23 de Junho de 1962.
Portanto, no dia 17 de Junho daquele ano, a Mondlane é dado um cartão de membro da UDENAMO, para poder participar na reunião da integração dos três movimentos, como membro de um deles que era a UDENAMO.
Depois disso, no dia 23 do mesmo mês, começam as conversações da integração, na presença de Eduardo Mondlane. No dia 24 as conversações prosseguiram e precisamente no dia 25 tinha ficado estabelecido na agenda dos trabalhos que seria o dia da escolha de novos líderes da FRELIMO.
Eduardo Mondlane era um dos candidatos da UDENAMO à liderança da FRELIMO. Urias Simango e Paulo Gumana eram os outros dois candidatos da UDENAMO ao mesmo cargo.
O MANU apresentou como candidatos à liderança da Frelimo Mateus Mhole e um outro de apelido Milingo.
Mondlane, como intelectual, e como conhecido de todos nós e como primeiro Doutor moçambicano de raça negra, ganha a presidência da FRELIMO, Urias Simango ganha a vice-presidência, isto para não falar das posições alcançadas pelos outros, apenas para destacar estes dois.
Entretanto, Eduardo Mondlane ainda tinha um contrato nas Nações Unidas, para além de que não vinha para ficar, mas apenas para participar testemunhar a integração dos três movimentos que deram origem à Frente de Libertação de Moçambique. Mas mesmo assim é apanhado de surpresa pela escolha dos moçambicanos.
Entretanto, mesmo assim ele tinha que voltar aos Estados Unidos por um ano a fim de ir terminar o seu contrato com as Nações Unidas, deixando Simango a presidir. Mas devido à muita pressão da Frente, Mondlane acabou ficando nos Estados Unidos apenas seis meses e cancelou o resto do contrato e veio para Dar-es-Salaam para presidir a FRELIMO.

Então, Mondlane não é arquitecto da unidade nacional, como se diz por cá desde há vários anos? Quer dizer, pela sua explicação, não foi Mondlane que juntou os três movimentos para formar a FRELIMO, ele encontrou os movimentos já unidos?

- É uma grande mentira que se propala por este País e se ensina a mesma mentira nas escolas. Não sei o que é que custa dizer a verdade. É mentira, Mondlane não uniu nenhum movimento. Mondlane foi convidado por nós da UDENAMO para vir testemunhar a integração dos três movimentos, já unidos por nós na ausência de Mondlane. A união dos movimentos foi um trabalho aturado de vários meses e Mondlane apenas chegou a Dar-es-Salaam no dia 16 de Junho de 1962 para no dia 25 de Junho ser eleito presidente da FRELIMO. O sr. acha que em uma semana que Mondlane esteve em Dar-es--Salaam é possível unir algum movimento? Para já fomos nós que apresentámos Mondlane aos líderes doutros movimentos que estavam para assinar o compromisso de integração a 23 de Junho.
É mentira dizer que Mondlane foi o fundador da Frelimo. É mentira. Ele foi apenas o primeiro presidente da FRELIMO. Há diferença entre ser fundador e ser primeiro presidente da Frelimo. É que nós, quando fundámos a FRELIMO, Mondlane ainda não estava em África, estava nas Nações Unidas, em Nova Iorque.
 Estou a repetir três vezes que isso é mentira. E escreva isso mesmo: é mentira... Mondlane não foi fundador da Frelimo, Mondlane foi o primeiro presidente da Frelimo, o que é bem diferente.
Pergunte bem a Marcelino dos Santos, que ele, se quiser, lhe contará toda a verdade.
Eu estou a dizer isto com autoridade. Eduardo Mondlane não foi o fundador da FRELIMO. Ele foi um convidado, mas devido à sua intelectualidade, nas eleições onde foi proposto por nós veio a ganhar a presidência da Frente de Libertação de Moçambique.
Repare que quando ele veio nem vinha sabendo o que iria acontecer. Não esperava ser presidente da FRELIMO.
Eduardo Mondlane nem sequer funda a UDENAMO.
Portanto aqui, há um erro grande de nós moçambicanos de criar histórias inexistentes e inventadas. Somos, por isso, uma nação muito chata, muito mentirosa que quer criar coisas que não existem. É por isso que nós não somos uma boa nação.
Esta independência foi plantada numa pedra. Em cima da pedra onde dificilmente vamos viver. Estamos a sobreviver, sim senhor, mas até aqui não existe mão do piloto que venha publicamente dizer isto não está bom, isto não está bom, isto não pode continuar assim e isto não quero neste país.
Precisamos muito desse piloto neste País.
Joaquim Chissano apareceu em Dar-es-Salaam, nos princípios de 1962, antes da fundação da FRELIMO e veio identificar-se com a UDENAMO. Ele encontrou-nos a batalhar para termos a FRELIMO. Ele estava a estudar na França e voltou para lá como membro da UDENAMO e nomeado nosso representante para a Europa.
Pascoal Mocumbi não veio, foi representado por Chissano e esses dados estão neste livro de que lhe falei.

Adelino Guambe e Marcelino dos Santos são heróis nacionais
Exacto, esse é um outro ponto importante. Quem são, afinal, os verdadeiros heróis da nossa libertação?

- Olha, Guambe, aos 19 anos, levanta a cabeça e forma um movimento. Este devia ser o Pai da Nação. Não tenho medo de dizer isto. Escreva isso.
Guambe é o pai desta Nação. Não é o Dr. Mondlane o Pai desta Nação. Eu respeito o Dr. Eduardo Mondlane como um grande estadista, mas não que se lhe atribua o título de Pai desta Nação.
O outro herói, antes de muitos heróis e heroínas, e começando por Guambe, o outro herói deste País é Marcelino dos Santos que escreve os estatutos do primeiro movimento que dá a este país a promessa de se vir a libertar, que é a UDENAMO. Quem escreve isso foi Marcelino dos Santos.
Nós fundámos a UDENAMO e sabíamos que era difícil escrever os seus estatutos. Marcelino dos Santos, quando entra na UDENAMO e constata que o movimento não tinha estatutos, escreve os seus estatutos, os Estatutos da UDENAMO.
Portanto, Guambe e Marcelino dos Santos são os primeiros heróis do nosso País. Mas quando você olha para aqui, nem há uma estrada de sete metros que se chame Adelino Guambe e outra de cinco metros com o nome de Marcelino dos Santos.

Fomos ensinados que Adelino Guambe foi um dos reaccionários do processo revolucionário. Que mal é que ele fez à FRELIMO?

- É como Urias Simango, é reaccionário porquê? Simango não é nenhum reaccionário. Simango só pode ser visto como reaccionário devido à demagogia do tsonga. Mas eu vou ter que chegar até aí.

Vamos, então, fechar o capítulo Mondlane?

- Mondlane assume a presidência da FRELIMO como candidato da UDENAMO. A UDENAMO candidata para a presidência da FRELIMO três homens, nomeadamente Eduardo Mondlane, Urias Simango e Gumane, enquanto os outros candidatam outras personalidades. Mas são os candidatos propostos pela UDENAMO que ganham a presidência e a vice-presidência da FRELIMO, nomeadamente Mondlane e Simango, ficando assim constituída a direcção da Frente de Libertação de Moçambique, uma organização já criada e que nos dias 23, 24 e 25 de junho de 1962 se tratava apenas da sua constituição oficial através da integração dos três movimentos que lhe deram origem, designadamente, UDENAMO, MANU e UNAMO.
Esta é a história da fundação dos movimentos de libertação deste País.
Voltando ainda aos heróis nacionais, devo dizer que depois de Adelino Guambe e Marcelino dos Santos entrámos na fase dos membros fundadores da Frente de Libertação de Moçambique. Os que fundaram a FRELIMO deviam constituir a segunda etapa dos heróis moçambicanos. E tais fundadores são Adelino Guambe, Mahluza, Mahlayeye, Marcelino dos Santos, Mateus Mhole, Samuli Diankala e Daúd Abdala.
Portanto, esta, tirando os dois que já estão no primeiro grupo de heróis, ficam cinco que constituem a segunda etapa dos heróis deste País...

SAVANA – 20.10.2000

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