A Tanzania está preparada para uma eventual guerra com o Malawi
em torno das disputas fronteiriças sobre a linha divisória do
Lago Niassa.
A ameaça foi feita
pelo presidente da Comissão Parlamentar da Defesa, Segurança e
Relações Exteriores da Tanzânia, Edward Lowassa (na imagem).
A Tanzania exige
ao Malawi para parar imediatamente com as pesquisas de gás natural
e petróleo no Lago Niassa, considerado o terceiro maior da África, mas o
governo de Lilongwe rejeita a exigência tanzaniana, alegando que a
prospecção está a acontecer dentro das fronteiras legais.
Lowassa
declarou que se o cenário de guerra for necessário, a Tanzânia está pronta
para “consentir sacrifícios e derramar o sangue dos seus melhores filhos”
e as forças armadas tanzanianas estão psicologicamente preparadas e
equipadas para fazer face à situação.
O parlamentar
tanzaniano foi mais longe, ao dizer que o exército do seu país
está entre os mais modernos do mundo, para além de viverem um ambiente
estável em termos político-militares.
Em
conexão com esta crise, circulam informações, ainda não confirmadas
por fontes independentes, segundo as quais, a Tanzania estaria já a movimentar
tropas para a fronteira com o Malawi.
Cerca de trinta
por cento das exportações e importações malawianas dependem do
porto tanzaniano de Dar-es-Salam e outra parte, a mais significativa, se
desenvolve através dos portos moçambicanos da Beira e Nacala.
Em caso de eclosão
de uma guerra, o Malawi perde a rota de Dar-Es-Salam e fica parcialmente ou
totalmente bloqueado em termos logisticos.
Mais grave ainda,
o Malawi nunca teve experiência de guerra, enquanto a Tanzania já
enfrentou no passado o regime de Idi-Amin Dada do Uganda e efectivos
tanzanianos apoiaram o exército governamental em Moçambique durante a guerra de
desestabilização.
Os dois países
voltam a reunir-se no próximo dia vinte deste mês, em Mzuzu, no
extremo norte do Malawi, com vista a procurar uma solução diplomática em torno
da linha divisória sobre o Lago Niassa.
Observadores acreditam que, tal como aconteceu no passado, a
próxima ronda negocial poderá redundar num fracasso, tendo em conta as
profundas diferenças entre as duas partes, e também todo um ambiente envolvente
e sobretudo a animosidade que antecede as conversações do próximo dia
vinte de Agosto.
O presidente
da Comissão Parlamentar da Defesa, Segurança e Relações Exteriores da
Tanzânia, é citado a dizer ainda que o seu país também está interessado em
ver este conflito resolvido através de canais diplomáticos, usando se
necessário uma mediação internacional.
Lowassa destacou
que o Malawi é um país vizinho, e dai que “não gostaria que os dois
países se envolvessem numa guerra. Mas caso seja necessário, a Tanzania
não descarta essa hipótese”.
O governo
malawiano assumiu semana passada que aposta numa solução diplomática com a
Tanzania em torno do Lago Niassa, também partilhado por Moçambique.
O ministro
malawiano dos Negócios Estrangeiros e Cooperação Internacional, Emphraim
Chiume, disse que não há motivo de ansiedade ou de alarme devido
à crise fronteiriça entre os dois países.
De acordo com
Chiume, a fronteira Malawi/ Tanzania foi definida através do Tratado
Anglo-Germânico assinado a um de Julho de 1890, que estabelece a linha
divisória na margem oriental do lago Niassa.
Além disso,
os chefes de Estado e de governo da extinta Organização da Unidade
Africana assinaram uma resolução em 1963, segundo a qual os Estados
africanos deverão reconhecer e aceitar as fronteiras que herdaram aquando das
suas independências.
Emphraim Chiume
acrescentou que a União Africana assumiu a mesma posição em 2002 e
em 2007.
Mas o ministro
tanzaniano dos Negócios Estrangeiros e Cooperação Internacional,
Bernard Membe, disse que o conflito começou em 1960 quando o
primeiro presidente do Malawi, Kamuzu Banda, reivindicou que o Lago
Niassa e o distrito tanzaniano de Mbeya eram parte do Malawi, usando como
pretexto o Tratado Anglo-Germânico de 1890.
Posteriormente, as
conversações sobre este diferendo foram interrompidas numa altura em que Kamuzu
Banda alinhava abertamente ao lado do regime racista da África
do Sul, enquanto a Tanzania era à favor dos movimentos de libertação da
África Austral.
Recorde-se que o
falecido Presidente Kamuzu Banda viria a reivindicar também um pouco
depois de 1965, no Congresso do seu partido, o MCP, que todo o norte do Rio
Zambeze em Moçambique até ao Oceano Indico e alguns distritos
da Zâmbia também eram parte do seu país, naquilo que ele chamava o “Grande
Malawi”.
Bernard
Membe anunciou que o diálogo Tanzania/Malawi viria a ser retomado em 2005
entre os Presidentes Jakaya Kikwete e Bingu wa Mutharika, este último já
falecido, que decidiram criar um comité ministerial envolvendo os dois
países países para a resolução da disputa em torno do lago Niassa, baptizado
pelos malawianos como Lago Malawi.
O comité reuniu-se
em 2010 e 2012 para analisar uma série de questões, entre as quais, a alegação
do governo tanzaniano segundo a qual algumas aeronaves
supostamente pertencentes a companhias envolvidas na pesquisa de
hidrocarbonetos estão a sobrevoar ilegalmente o seu espaço aéreo nacional,
o que representa uma ameaça a segurança e a soberania estatais.
A Tanzania exige
ao Malawi para parar imediatamente com as pesquisas de gás natural
e petróleo no Lago Niassa, considerado o terceiro maior da África, mas o
governo de Lilongwe rejeita a exigência tanzaniana, alegando que a
prospecção está a acontecer dentro das fronteiras legais.
Em Outubro de
2011, o governo do falecido Presidente do Malawi, Bingu wa Mutharika concedeu
uma licença a empresa britânica Surestream Petroleum para a
pesquisa de petróleo e gás natural no Lago Niassa, nos blocos dois e
três, o que corresponde a uma área combinada de vinte mil quilómetros
quadrados, em águas disputadas.
O Malawi
alega ainda que todo o lago pertence ao seu território, enquanto a Tanzania
reivindica que cada país tem apenas direito a cinquenta por cento.
Presume-se que o
lago Niassa, para além de rico em peixe, tenha algumas reservas de petróleo e
gás natural.
Nalguns
círculos restritos, circula informações segundo as quais, o Malawi alega
que a Tanzania não deveria se preocupar pelo Lago Niassa, porque para além
deste, tem os lagos Tanganhica e Vitória e o Oceano Indico, também partilhado
por Moçambique.
Fonte: Rádio Mocambique – 08.08.2012
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