O governador da Zambézia, Itai Meque e o novo edil de
Quelimane, Manuel de Araújo, que no passado se desentenderam, mesmo antes da
eleição autárquica de Dezembro, acabaram sendo protagonistas de um novo
mal-entendido, que resvalou em pronunciamentos do cunho tribal, por parte do
presidente do Conselho Municipal eleito pelo Movimento Democrático de
Moçambique (MDM).
As celebrações do 70º aniversário da elevação de Quelimane à categoria de cidade, assim, acabaram por ter essa nódoa, aparentemente em conexão com a reivindicação de protagonismo político.
De Araújo até teve que se socorrer da sua língua materna, “chuabo”, para dar ênfase às suas expressões que, de simples disputas políticas, ganharam contornos tribais.
De Araújo introduziu-se em chuabo, vilipendiando o governador de mal-educado, depois que, este último, proferiu um discurso, considerado pelo edil de provocatório.
“Queremos avisar aos hóspedes para que sejam educados, porque um hóspede, quando é servido água, depois de beber, não pode abusar o seu hospitaleiro”, disse, nas suas palavras introdutórias da longa intervenção em língua local chuabo e em português.
Assim, prosseguiu, afirmando: “A nós não intimida porque realmente a terra é nossa, há muito tempo pisavam-nos, agora que a cidade é nossa, não permitimos que hóspedes venham fustigar a nossa cultura e abusar-nos”.
“Agora diz que ele é que tapou os buracos, mas quando Quelimane estava cheio de buracos diziam que eram buracos de Pio Matos (o primeiro edil da cidade de Quelimane, que assumiu a liderança depois de instituição dos órgãos de poder local em Moçambique). Agora que tapamos, dizem que foram eles. Será verdade?”, dirigiu-se aos populares, que assistiam ao evento oficial, ao que responderam em coro “não…”
O edil, que é amplamente digno de respeito por ostentar o título académico mais elevado, de Professor Doutor, acabou por ir para além do que se pensava no seu discurso, ao deixar transparecer, num outro desenvolvimento, que Zambézia é só para os zambezianos, afirmando que os dirigentes naturais de outras regiões do país, que impostos pela necessidade de unidade nacional, trabalham naquela província central do país, sairão um por um.
Assim questionou, a título de exemplo, onde parava uma série de directores provinciais, com a excepção do das Obras Públicas e Habitação, que, apesar de fazer parte da lista dos dirigentes recém-exonerados, é natural da Zambézia.
Assim, começando pela antiga directora das Finanças, mencionou a lista dos dirigentes que vieram de fora e não ficaram: “Pergunto-vos e vocês respondam: Onde é que está a directora das Finanças?, o director da Juventude e Desportos?, o director provincial da Saúde?, o comandante Provincial da PRM?, e o director do Trabalho?”, disse, em alusão aos dirigentes que assumiam pastas no Governo provincial da Zambézia, naturais de outras regiões do país, que recentemente cessaram as funções, regressando à sua proveniência.
Numa afronta directa ao governador e dirigindo-se à população nos seguintes termos: “Querem que eu continue?”, ao que responderam de imediato, “sim…”, deixou uma pergunta ao ar: “Agora quem será o próximo a sair da Zambézia…?”, sem resposta, foi acolhido por aplausos dos munícipes, numa tentativa de humilhar o elenco do governador, entrando depois para outro capítulo, do seu discurso, em que prometeu mudar radicalmente Quelimane, cidade que ele, trata por região de “Bons Sinais”.
Ele garantiu que para concretizar as suas promessas não precisará de mais tempo, afirmando que ao longo deste curto mandato que termina no próximo ano, proporcionará para a sua cidade natal, acções inéditas, que muitos dirigentes decanos não lograriam.
DISCURSO DE MEQUE MAIS POLÍTICO MAS CONOTADO COMO PROVOCAÇÃO
O governador da Zambézia, Francisco Itai Meque, convidado ao evento com o respectivo elenco de dirigentes na tribuna de honra, desceu praticamente humilhado, com a reacção hostil que teve depois de um discurso, no qual praticamente reivindicou o protagonismo na maioria das acções em curso em prol do desenvolvimento da cidade de Quelimane.
Ele mencionou, com algum realce, que na área de reabilitação de estradas degradadas, por exemplo, ele próprio, na qualidade de governador, indignado com a gravidade da situação, quando assumiu as pastas em 2010, ordenou mexidas com vista a superar os problemas de buracos.
“Se lembram bem, quando cheguei aqui, em 2010, andávamos de cova em cova. Eu que estou aqui a falar é que mandei reabilitar”, disse, numa pausa que decidiu dar à leitura do seu discurso oficial, para detalhar em improviso, a sua abordagem às obras do Governo em prol do desenvolvimento do Município de Quelimane.
Ele tentou distanciar-se das “guerrinhas” tribais. Assim, deixou assente que independentemente das suas origens, os dirigentes nas suas acções devem manifestar-se comprometidos apenas com o desenvolvimento de qualquer cidade moçambicana, salientando que o que a população deseja dos governantes é qualidade e mais competência na prestação de serviço público.
“A política deve ter nos seus protagonistas mais convergência, mais responsabilidade, mais vontade afectiva de prestigiar as instituições e menos conflito ocasional de circunstâncias e de resultados inúteis”, disse, depois de ter alertado, em improviso, que se o conforto que o actual elenco da edilidade ostenta, for resultado de donativos, deveria ter muita cautela, sob o risco de alienar-se.
“Nós é que decidimos sobre o nosso destino. Pessoas de fora não devem decidir sobre nosso destino, podemos receber muito apoio, mas os nossos amigos só vêm ajudar, não podem decidir sobre nosso futuro”, aconselhou, para num outro desenvolvimento referir que: “Qualquer oferta em excesso até o pobre desconfia, por isso, devemos controlar as nossas ofertas, porque até o pobre suspeita quando vê que a oferta é demasiada”.
Mas o governador viria a deslizar no final da sua intervenção, quando alegadamente teria dito para encerrar o seu discurso, já em improviso, que “agora podem fazer barulho”.
Fonte: Diário de Moçambique – 22.08.2012
Sem comentários:
Enviar um comentário