sábado, agosto 18, 2012

Polícia sul-africana alega autodefesa em maior massacre desde o Apartheid

A polícia sul-africana alegou nesta sexta-feira ter agido em legítima defesa numa operação repressiva - a mais sangrenta desde o fim do Apartheid, em 1994 - que causou, segundo o seu próprio registo, 34 mineiros grevistas mortos e cerca de 80 feridos.


"O grupo de militantes atacou a polícia, disparando e brandindo armas perigosas", sustentou a chefe policial, Riah Phiyega, ao se referir aos confrontos ocorridos na quinta-feira em Marikana (noroeste) com os grevistas na mina de platina Lonmin. "A polícia retirou-se sistematicamente e viu-se forçada a recorrer à força máxima para se defender. O registo é de 34 mortos e mais de 78 feridos", assim como de 259 detidos, acrescentou.

Este é o primeiro balanço oficial dos confrontos. Uma fonte do sindicato havia informado anteriormente a morte de 36 mineiros.

O movimento, considerado ilegal, começou com uma reivindicação de um grupo de mineiros que exigia que o seu salário, actualmente de 4.000 rands mensais (cerca de 14.600,00 Meticais)), fosse triplicado. O massacre provocou comoção mundial, já que muitas redes de televisão cobriam as negociações com os grevistas quando a operação teve início.

As imagens mostram os agentes a abrir fogo contra os manifestantes, que caem no meio de uma nuvem de poeira. Phiyega mostrou outros vídeos, nos quais é possível ver polícias esforçando-se para dispersar os mineiros, negociando com eles e recorrendo a armas convencionais de dispersão de manifestações, como canhões de água e balas de borracha.

De qualquer forma, esta foi a intervenção policial mais sangrenta desde 1985, quando a polícia matou 20 manifestantes negros que protestavam contra o regime segregacionista do Apartheid. Desta vez, foram polícias brancos e negros que abriram fogo contra os mineiros, cujas condições materiais de vida sofreram escassas melhorias desde a instauração de uma democracia multirracial, há 18 anos.

A greve de Lonmin, que começou há uma semana, já havia causado dez mortos antes de quinta-feira, em supostos confrontos entre dois sindicatos: o Sindicato de Mineiros e Trabalhadores da Construção (AMCU, radical) e o Sindicato Nacional de Mineiros (NUM), um poderoso aliado do Congresso Nacional Africano (CNA), o partido no poder.

O presidente sul-africano, Jacob Zuma, que participava na Cimeira da SADC aberta hoje em Maputo, Moçambique, regressou às pressas nesta sexta-feira ao seu país, num voo que o levou directamente a Rustenburg, a cidade mais próxima da mina. Ele anunciou a criação de uma comissão para investigar os factos.

"Devemos tentar esclarecer a verdade do que ocorreu aqui, por isso decidi instaurar uma comissão de investigação para descobrir as causas reais deste incidente", declarou o chefe de Estado, num discurso transmitido ao vivo pela televisão.

Nesta sexta-feira, no meio de casas de madeira e depósitos da riquíssima mina, cerca de cem mulheres denunciavam a violência policial, com os cantos e danças utilizados há duas décadas para acusar o Apartheid. "A polícia veio aqui para matar os nossos maridos, os nossos irmãos. Nossos filhos!", gritava uma delas, Nokuselo Mciteni, de 42 anos.

Cerca de 2.000 mineiros voltaram a reunir-se, alguns com barras de ferro e paus. Um imigrante de Moçambique, Luis Macuacua, de 35 anos, deu a sua versão dos incidentes da véspera. "Estávamos reunidos, e a polícia chegou para nos expulsar. Era uma guerra".

Antes dos episódios de quinta-feira, a direcção da mina havia intimado os grevistas a retomar o trabalho na sexta-feira, sob pena de demissão. A Lonmin afirma que a greve a impedirá provavelmente de alcançar aa sua meta de produção anual de 750.000 onças de platina.

A tensão social na África do Sul levou nesta sexta-feira o preço da platina ao seu nível máximo em um mês. No London Platinum and Palladium Market, às 10h00 GMT (12h00 de Moçambique) a onça era negociada a 1.460,99 dólares, em alta de 60 dólares (+4%) em comparação com o meio-dia de quinta-feira.

Fonte: Rádio Moçambique – 18.08.2012

2 comentários:

Anónimo disse...

Nguiliche

Nao sei quantas cabecas já teriam rolado num país do primeiro mundo, mas como cá nestas terras infelizmente há mistura de poder e dinheiro, todos aguardam pelas últimas consequencias, com justificacoes esfarrapadas.

Anónimo disse...

Caro Reflectindo,

Acho que por detrás da tragédia sul-africana estão os interesses económicos do fundador da União Nacional de Mineiros (NUM), Cyril Ramaphosa que se tornou empresário. Ramaphosa é igualmente membro do Conselho Executivo do Congresso Nacional Africano (ou ANC) e beneficia da protecção de altas figuras do ANC e do presidente Zuma. Segundo Malema, Ramaphosa participa do capital da mina de platina da empresa Lonmin em Marikana, onde os agentes abriram fogo contra mineiros armados com machetes e paus. “A Lonmin tinha fortes relações políticas e é por isso que nosso povo foi morto. Eles foram mortos para proteger as acções de Cyril Ramaphosa," disse Malema ontem.

Em 2010, a empresa britânica Lonmin plc nomeu Ramaphosa como director não-executivo. No mesmo ano a empresa de Ramaphosa, a “Shanduka Resources”, assumiu o controle da maioria dos acções da empresa Incwala Resources (50,03%), que anteriormente foi na posse inteira dos Ingleses. A Incwala por sua vez possua de 18% do capital de subsidiárias da Lonmin, a Western Platinum e a Eastern Platinum, e de 26% da “Akanani Platinum Project”. O que mostra que Malema tem razão.

Oxalá