O
cientista político Jaime Macuane diz que as reivindicações da Renamo são
reflexo da ausência de democracia efectiva, restrições no exercício das
liberdades políticas, sobretudo o direito à manifestação pacífica e a
oportunidades económicas, problemas esses que afectam a maioria dos
moçambicanos.
Segundo
afirmou, neste exercício a Renamo chega a arrastar outros cidadãos que não se
identificam com ela, mas que igualmente sentem as disparidades, entre elas, a
partidarização do Estado, “a qual se o Governo não tomar medidas para
estancá-la nos próximos anos poderá mergulhar o país numa situação idêntica ou
pior a que ocorreu durante a guerra dos 16 anos”.
Na sua óptica, o argumento de que o
diálogo deve ocorrer dentro da Constituição da República é mister, mas não deve
ofuscar que sejam reflectidos aqueles aspectos tidos como cruciais para a
preservação da paz e democracia.
“A
ideia de que o debate deve ocorrer dentro do quadro legal não é correcto porque
as leis são criadas para regular ou responder a vontade dos cidadãos, da
sociedade e dos actores políticos. O outro aspecto que até é recorrente é dizer
que o AGP está reflectido no quadro legal, o que é correcto, mas é preciso
reflectir se isso está a ser cumprido escrupulosamente”,disse Jaime Macuane,
sublinhando que a Constituição da República deve ser usada de forma
interpretativa e não para ofuscar o debate.
No seu
entender, em vez de se cortar a discussão recorrendo a aspectos legais,
devia-se apostar mais na interpretação de alguns aspectos reivindicados no
âmbito da construção de um diálogo frutífero.
“Quer dizer, as leis são mudadas em função
da vontade política e da sociedade, pelo que é importante que esse espírito
seja trazido para o diálogo, uma vez que o argumento de que todas as
reivindicações devem ser dentro do quadro legal são importantes, mas seriam
mais valiosas se nós tivéssemos um Estado democrático eficaz, em que há
cumprimento escrupuloso da Constituição da República”,disse Macuane.
Questionado sobre se é oportuno a perdiz recorrer ao AGP nas suas reivindicações, Macuane referiu
que tudo se resume à ausência de uma democracia efectiva.
“Ao recorrer ao acordo, a Renamo quer
ajustá-lo aos seus interesses específicos, assumindo-se que muitos dos pontos
reivindicados estão contidos na Constituição da República, pelo que não há mais
nada a fazer a não ser revisitar a lei fundamental”,disse Jaime Macuane,
sublinhando que mesmo que as partes entrem num acordo, os problemas não serão
resolvidos enquanto não se expandir o discurso restrito aos dois antigos
beligerantes para outras forças políticas, incluindo a sociedade civil.
“Devo repisar que o mais importante não é
saber se o acordo está ou não incorporado na lei fundamental, porque isso está
claro, mas, sim, se avaliar se esse quadro legal está a ser cumprido
escrupulosamente.A Renamo pode até estar a fazer aproveitamento político, uma
vez que já se percebeu que a democracia ainda não é efectiva”.
Em relação aos aspectos económicos, o
nosso interlocutor afirmou que a Renamo está a puxar a brasa para a sua
sardinha, com intuito de acomodar a sua liderança política e parte dos seus
correligionários.
“A Renamo neste processo está a colocar à
frente os seus interesses, quer dizer, numa situação em que a maioria das
oportunidades de negócios pertence à nomenclatura ligada à Frelimo, ela
pretende resolver os seus problemas, daí esta agenda obscura, que deve ser
entendida como particular mas que arrasta outros cidadãos que não se
identificam com a partidarização do Estado”,afirmou.
Fonte:
Jornal Domingo (05.05.2013)
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