Por Adelino Evaristo Murimo*
Muitas vezes ouvimos em reuniões das escolas primárias, ou lemos em artigos e comentários de opinião de que uma das estratégias para melhorar a qualidade de ensino das nossas crianças é envolver mais e mais os pais e encarregados de educação. Ninguém contesta a esta ideia, mas de que forma os pais e encarregados de educação podem contribuir na educação dos seus educandos? Quase que é tomado como garantido (taken for granted) que os próprios pais e encarregados de educação sabem o que devem fazer para melhorar a qualidade de aprendizagem dos seus pais, mas isso pode ser um erro grave. É área do meu interesse a compreensão das formas pelas quais os pais e encareegados de educação, no contexto de Moçambique, influenciam as suas crianças, tanto positivamente, como negativamente, na aprendizagem. Interessa-me esta área porque todas as acusações vão sempre para o professor ou para o curriculum que foi escangalhado, etc., etc. Muito pouca atenção se dá ao papel dos pais e encarregados de educação neste processo. Mas os pais são um recurso educational natural que a criança tem. Pais são modelos e agentes socializadores da criança. Segundo estudos feitos noutros países, a intervenção dos pais e encarregados de educação não só melhora a qualidade de aprendizagem das crianças, mas também altera a atitude da criança em relação a escola. Por exemplo, a auto-confiança na escola, a autoridade, auto-afirmação na escola, a sociabilidade, a adaptabilidade, a persistência, melhoram bastante quando o pai chega na escola. Mas, envolvimento dos pais na educação dos filhos/filhas, segundo pesquisas internacionais, pode ser fragilizada devido a carência de recursos económicos (pobreza), falta de domínio da lingua que se fala na escola, falta de aspirações para com a criança, ou mesmo devido a atitude negativa das instituições que não estão preparadas a atender pais vistos como queixosos ou ignorantes.
O diagnóstico do envolvimento dos pais e encarregados de educação dos filhos nos países desenvolvidos tem sido medido usando três componentes: (a) Envolvimento em casa (Home-Based Involvement), (b) Envolvimento na escola (School-Based Involvement) e (c) Comunicações casa-escola (Home-School Communications). Cada uma destas variávies contempla uma série de acções que deveriam ser levadas a cabo pelos pais e encarregados de educação. Contudo, as tais acções não podem ser generalizadas de um contexto para outro, por exemplo, pais que residem na cidade de Maputo não se pode esperar deles um envolvimento da mesma natureza do dos pais residentes em Ampara. É que, enquanto pais em Maputo podem acompanhar os filhos a escola de carro, o mesmo é impensável e realisticamente desnecessário para crianças na vila de Ampara. Mas, em contrário, pais em Ampara podem gostar de fazer coisas criativas com as suas crianças, tais como jogar muravarava, construir galinheiros ou celeiro para secar o peixe. Tanto como o pai de Maputo como o pai de Ampara podem criar o hábito de perguntar a criança como foi o dia na escola, ver o que a criança escreveu nos cadernos, ou informar as suas expectativas académicas e profissionals com relação a criança no futuro. Desta maneira, os pais tranferem seus valores e aspirações educacionais e ocupacionais para as crianças.
O diagnóstico do envolvimento dos pais e encarregados de educação dos filhos nos países desenvolvidos tem sido medido usando três componentes: (a) Envolvimento em casa (Home-Based Involvement), (b) Envolvimento na escola (School-Based Involvement) e (c) Comunicações casa-escola (Home-School Communications). Cada uma destas variávies contempla uma série de acções que deveriam ser levadas a cabo pelos pais e encarregados de educação. Contudo, as tais acções não podem ser generalizadas de um contexto para outro, por exemplo, pais que residem na cidade de Maputo não se pode esperar deles um envolvimento da mesma natureza do dos pais residentes em Ampara. É que, enquanto pais em Maputo podem acompanhar os filhos a escola de carro, o mesmo é impensável e realisticamente desnecessário para crianças na vila de Ampara. Mas, em contrário, pais em Ampara podem gostar de fazer coisas criativas com as suas crianças, tais como jogar muravarava, construir galinheiros ou celeiro para secar o peixe. Tanto como o pai de Maputo como o pai de Ampara podem criar o hábito de perguntar a criança como foi o dia na escola, ver o que a criança escreveu nos cadernos, ou informar as suas expectativas académicas e profissionals com relação a criança no futuro. Desta maneira, os pais tranferem seus valores e aspirações educacionais e ocupacionais para as crianças.
Inspirando-me no “Family Involvement Questionnaire (FIQ)”, um questionário elaborado para pais de crianças do ensino primário em grandes cidades, concebí um inventário que denominei de Inventário Sobre Envolvimento dos Pais na Educação das Crianças em Camunidades Pobres (ISEPEC–CP) que pode ser usado não só para diagnosticar o nível de envolvimento dos pais na educação dos filhos, mas também, para pesquisar e servir de instrumento de trabalho educar pais e encarregados de educação em socidades pobres. O questionário é do tipo Likert e contém 30 frases e quatro opções de resposta: NUNCA, POUCAS VEZES, MUITAS VEZES, e QUASE SEMPRE. A opção NUNCA vale 0 pontos e corresponde ao menor involvemento na actividade mencionada. QUASE SEMPRE, vale 3 pontos e corresponde ao maior envolvimento na actividade mencionada. O mínimo de pontos do inventário é de 0 e o máximo, 90 pontos. Da forma como a escala foi construída não á items cuja pontuação será invertida como seria abitual numa escala deste tipo, e quanto maior for a pontuação obtida pelo pai, maior é o seu envolvimento na educação do seu filho. De 0 a 30 pontos (excluindo 30) é um envolvimento baixo, de 30 a 60 pontos (excluindo 60) é envolvimento moderado, e de 60 a 90 é envolvimento alto. Pais e encarragados cuja a pontuação é baixa ou moderada deveriam ser convidados a participar em cursos de treinamento na escola. Conforme o meu inventário, um envolvimento moderado dos pais na educação dos filhos não requere grandes recursos materiais, pois os pais em si já são um grande recurso educacional natural que a criança tem a disposição. Parti da hipótese de que crianças que conseguem interpretar os gestos e as intenções dos seus pais, sem importar o tamaho do gesto, são capazes de mudar de atitude perante a escola e parante a sua própria aprendizagem. Quem desejar usar este inventário pode referir a este artigo.
Inventário Sobre Envolvimento dos Pais na Educação da Criança (ISEPEC- CP)
NUNCA (0) | POUCAS VEZES (1) | MUITAS VEZES (2) | QUASE SEMPRE (3) | ||
1. | Atende a reuniões convocadas pela escola. | ||||
2. | Assina a nota informativa contendo as notas da criança | ||||
3. | Fala com o director de turma acerca de questões disciplinares do filho. | ||||
4. | Gosta de fazer coisas criativas com o filho (por exemplo, construir coisas ou jogar) | ||||
5. | Sabe quando o filho não chega ou quando chega tarde a escola. | ||||
6. | Pergunta ao filho como foi o dia na escola. | ||||
7. | Liga para a escola para saber algo sobre a criança | ||||
8. | Abre os cadernos da criança para ver | ||||
9. | Assina as provas sempre que o filho recebe de volta. | ||||
10. | Sabe o que a criança estudou ao longo semana. | ||||
11. | Fala com outros pais ou encarregados de educação acerca dos problemas da escola. | ||||
12. | Tem informação acerca dos eventos sociais que se realizam na escola | ||||
13. | Vai a escola falar com o professor acerca das notas do filho. | ||||
14. | Gratifica o filho pelas boas notas. | ||||
15. | Ajuda o filho com o trabalho de casa (TPC). | ||||
16. | Conhece as pessoas com quem brinca o filho. | ||||
17. | Oferece dinheiro a criança para o lanche na escola. | ||||
18. | Pede informações ao director da escola acerca da maneira como a escola funciona. | ||||
19. | Repreende a criança pelas notas baixas que tira. | ||||
20. | Estabelece horário em casa para a criança brincar, estudar e fazer trabalhos domésticos. | ||||
21. | Fala com o ‘pai turma’ acerca das notas das crianças da turma. | ||||
22. | Conta a criança acerca de si quando era estudante (por exemplo, notas que tirava, disciplinas que mais gostava, chumbos que teve, etc.) | ||||
23 | Conhece o número de faltas cometidas pela criança durante o trimestre. | ||||
24. | Compra material escolar para a criança (por exemplo, cadernos, uniforme escolar, canetas, mochila, borachas, transferidor, etc.) | ||||
25. | Discute com o filho acerca da importância de estudar. | ||||
26. | Sabe quando a criança faz uma prova numa disciplina. | ||||
27. | Sabe quando a criança recebe uma prova de volta. | ||||
28. | Fala com a criança sobre níveis académicos e profissionais (por exemplo, Bacharelato, Licenciatura, Mestrado, Doutorado, Cientistas, Engenheiros, TIC) | ||||
29. | Limita os trabalhos caseiros da crianca (por exemplo, vender na rua, cuidar do irmão recém-nascido) | ||||
30. | Passeia com a criança em lugares académicos, históricos ou profissionais (bibliotecas, museus, universidades, fábricas, laboratórios, pontes, barragens) |
Pontuação:
0 – 30: Baixo (Low), 30 – 60: Moderado (Moderate), 60 – 90: Alto (High)
Referências
Eccles, J. S. (2005). Influences of parents’ education on their children’s educational attainments: The role of parent and child perceptions. London Review of Education, 3(3), 191-204.
Manz, P. H., Fantuzzo, J. W., & Power, T. J. (2004). Multidimensional assessment of family involvement among urban elementary students. Journal of School Psychology, 42 (6), 461-475.
* Docente da Universidade Pedagógica, Delegação da Beira (PhD, Monash University, Australia)
8 comentários:
Com todo o respeito, não poderia haver uma coluna com o critério "SEMPRE"?
Na concepcao de escalas psicometricas do tipo Likert evitam-se sempre os extremos. Por exemplo, NUNCA e SEMPRE nao deveriam constar porque nao costumam ter pontuacao. Ninguem aceita que NUNCA fez ou que SEMPRE fez. Mas o INCLUI de proposito e contra a regra porque existem pais que na verdade NUNCA foram foram a uma reuniao na escola ou que NUNCA abriram o caderno da crianca patra ver o que escreve. Os melhores extremos seriam QUASE NUNCA e QUASE SEMPRE.
Um numero par de opcoes e melhor que um numero impar. Quando ha um numero impar, por exemplo 5, existe um no meio, a MEDIANA do continuum. Devido ao sindroma de tendencia central muitos respondentes vao escolher a opcao do meio. Mas concerteza existem muitas escalas com 5 e 7 opcoes.
Justamente! Tenho alguma noção sobre a escala Linkert, ainda assim não é nessa perspectiva que fiz o questionamento.
Se o que se pretende é obter dados sobre o papel de pais e encarregados de educação na melhoria da qualidade da aprendizagem das crianças e, estando eu nesse papel, de certa forma vejo-me prejudica pela escala.
Se vou a todas as reunioes porque vou responder QUASE SEMPRE? Com todo o respeito, melhores cumprimentos
As delimitacoes entre opcoes nao sao tao rigidas. Durante a analise de dados pode-se e deve-se amalgamar o SEMPRE e QUASE SEMPRE numa unica categoria. A diferenca entre eles nao e grande. Assim como entre NUNCA e QUASE NUNCA devem ser amalgamados. POUCAS VEZES pode ficar isolado. Isso acontece porque com poucas respostas numa opcao, ja nao pode usar certas medidas estatisticas particularmente as parametricas. O que nao esta indicado naquela escala sao as outras variaveis por exemplo caracteristiacas dos pais de tal modo que se entenda que tipo de pai tem certo tipo de envolvimento e porque. Mas esse tipo de dado recolhe-se separadamente e de forma qualitativa.
Como hipotese, é possivel. Usei o seu questionario com alguns encarregados de educação (sou mãe turma da minha filha) e questões nas quais queriam usar o critério SEMPRE prefiriram não faze-lo. Enfim, é dificil agradar a gregos e troianos.
Sucessos na pesquisa
Fiquei bastante alegrado em saber que tentou implementar o questionario. Poderia me contar um pouco mais qual era a tendencia dos resultados? Se nao se importar pode obter meu contacto via 'Reflectindo Mocambique'. De facto me interessa o constracto 'envolvimento dos pais e encarregados de educacao na aprendizagem dos filhos/educandos'. E uma area que acredito se saiba pouco quando se compara com o que se sabe do professor ou dos programas de ensino em si.
Perche non:)
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