Por Tomás Queface
Agradeço pela publicação da minha carta na página dedicada aos leitores deste jornal. Sempre que um ministro, deputado, PCA ou uma figura pública nacional vai fazer um discurso quer seja numa conferência, no Parlamento ou num “workshop”, de uma coisa estamos certos: Ele vai ler no papel.
A prática de se fazer discursos sem recorrer ao rascunho remonta dos tempos do presidente Samora, que em comícios populares e na Assembleia Popular processava o seu discurso no momento da fala. Infelizmente esta prática já não existe, salvo raríssimos casos. Isto numa era onde os nossos líderes se julgam doutores e excelências.
Antes os discursos tinham como principal destinatário o povo. Isso fazia com que todos se convencessem de que os políticos estavam sim para servir o povo, porque prestavam contas ao povo, na língua do povo. Hoje ambos os destinatários e o vocabulário dos discursos proferidos pelos nossos políticos mudaram, passando a ser a comunidade internacional, os doadores, ONG's, etc. Talvez seja por isso que as palavras que compõem os discursos dos nossos políticos passam antes de uma selecção antecipada.
Isto faz-me crer que a ligação entre o povo e o Governo se vai desfazendo. Isto porque o meio de comunicação entre ambos praticamente já não existe. E se alguém ainda se pergunta por que é que os jovens perderam o interesse completo pela política, esse é o principal motivo.
Os políticos devem provar-nos que não chegaram ao nível em que estão por uma mera causalidade. Fazer uma leitura até as crianças do ensino primário são capazes. Queremos ver os políticos a desenvolverem os seus raciocínios, argumentarem os seus pontos de vista e a exporem as suas ideias sem a necessidade de recorrerem a um caderno de apontamentos.
Temos muitos exemplos de individualidades ligadas à política além-fronteiras que se expressam da maneira mais natural sem ser por via de páginas. José Sócrates, de Portugal, Lula da Silva, do Brasil, Barack Obama, dos EUA, Nicolas Sarkozy, da França e por aí em diante.
Este é um assunto que os nossos líderes, presidentes, ministros, directores e demais personalidades devem repensar. Nós queremos ter a certeza de que os discursos por vós proferidos são fruto do seu próprio intelecto e não uma ideia elaborada por outros e lida por vós.
Fonte: O Jornal Notícias - 25.11.2010
5 comentários:
se fosse decretado o fim dos discursos estariam fritos. Nao pensam nao escrevem so dao ordens e repetem os discursos de outros. E so estar atentos alguns nem falar portugues correcto sabem. Nao ouviram ha dias o melhor aluno de cuba no governo dando entrevista a jornalistas? era incapaz de diztinguir masculino do feminino...tentem para ver sera o fim da palhacada.
"Nao ouviram ha dias o melhor aluno de cuba no governo dando entrevista a jornalistas? era incapaz de diztinguir masculino do feminino". Risos
Queface faz uma abordfagem interessante. Penso que é dessas coisas, à prior parecem pequenas, mas que tem um grande significado para o país. Digo, para a nossa moçambicanidade.
De facto, ouvir Obama, Sócrates ou Lula da Silva a falar (acrescento o professor José Hermano Saraiva) é de brandar os céus. Os seus discursos (quase sempre sem o recurso ao uso de papel)são obras fulgurantes. É um chamariz.
Os nossos são uma pena. Um autêntico festival de loucos. Aqui o Mabunda têm razão: "há muita contradição neste governo". O pior é que o ancião Guebuza desconhece esta realidade porque, ou está cego ou é o professor destas inicitaivas.
O meu primeiro discurso foi em Nacala. Lembro-me como se fosse hoje, não precisei de usar o papel. Penso que quem tem a consciência tranquila, que sabe que não mente, não tem nada a temer. Não procura esconder-se no papel. Fi-lo tranquilamente. De lá para cá, em reuniões, colóquios, etc não preciso de papel e só raramente uso powerpoint.
Zicomo
Pode-se e deve-se usar todos os meios auxiliares possiveis desde que o bjectivo seja o de melhorar a comunicacao. A maioria de pessoas sempre vao precisar algumas notas (headings) ou outline para ajudar a memoria e melhorar a qualidade discursiva. Esses casos de Samora Machel de falar todo o dia sem recorrer a um papel sao doms raros que divido que sejam desenvolvidos via escolaridade. Ha tantos escolarizados que nao sustentariamm um discurso sem notas previas de 5 minutos de forma continuada. O mais importante e que o que os discursantes leem em papel deve apostar na sua concretizacao e nao apelas jogar palavras vazias para agente tais como: pobreza absoluta, presidencia aberta ou inclusiva, distrito como o polo de desenvolvimento, geracao de viragem, etc. Estes constractos, por exemplo, nao deveriam ser usados em discurso que o escrito quer o improvisado sem que fossem definidos operacionalmente.
Nem todos os políticos têm o dom da palavra, é confrangedor ouvir muitos deles, com ou sem papel. O discurso repentista apenas revela o dom da palavra, não significa necessariamente que é melhor, muitos ditadores usam também esse método, recordo por exemplo o caso de Hitler que arrastava multidões com os seus discursos repentistas. Há também uma diferença entre declarações políticas e discurso político, mesmo Samora frequentemente usava notas nos seus discursos. Todos os líderes usam uma equipa de redactores que preparam minuciosamente os discursos.
Penso que devemos questionar seriamente o conteúdo dos discursos, com ou sem papel, grande parte desses discursos estão cheios de bajulação, demagogia e mentiras!
O artigo de Tomás Queface é interessante e que se quisermos podemos fazer um bom debate. Aliás, esse debate já está em curso entre nós aqui.
Na minha opinião, a questão que se pode levantar é se o discurso sem papel, longo e que arrasta multidão é por si útil à uma sociedade ou um país. O José dá um exemplo muito importante, os discursos do Hitler.
Portanto, concordo que a importância de um discurso deve ser no conteúdo, clareza e simplicidade e se possível no tamanho (curto). O discurso dum bom dirigente não tem que procurar em escamotear a verdade com o uso de artimanhas linguísticas.
Quanto ao caso do melhor aluno de Cuba, penso que pode ser que ele tenha mais bases em espanhol que em português. Há muitos moçambicanos que foram para Cuba com apenas 4ªclasse. Por outro lado, devido a muitos factores, há muitos moçambicanos com boa formação, boas ideias, provavelmente bons dirigentes, mas com muita lacuna na língua portuguesa.
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