O sector privado e o Executivo ainda não se acertaram no compasso, e cada um dança a sua música. “Como produzir com eficiência?” - tema eleito pela CTA para a XII Conferência
Anual do Sector Privado - foi uma verdadeira exibição de contrastes. Se, por um lado, se revelou um sucesso pelo nível de adesão que teve, por outro, foi um “fracasso” no que respeita à qualidade do diálogo. O sector privado apresentou minuciosamente as enfermidades que afectam a sua actividade. Nada surpreendente, porque, afinal, é de velhos problemas que se tratava (custo de transacção elevado, reformas lentas, retorno do IVA...).
O Governo, por sua vez, ouviu atentamente as questões e respondeu de forma articulada, em jeito de contra-ataque, e com recurso à astúcia política para fugir das respostas. Clamou pelo pragmatismo dos empresários; pediu para que se exibisse produção e serviços de excelência, através de uma acção mais criativa e dinâmica; criticou a não divulgação das feitorias do Governo; deu lições de liderança; e provou não estar em sintonia com a ocasião. E não houve dúvidas. Estávamos a testemunhar não o ponto mais alto do diálogo entre o sector privado e o Governo, mas, sim, o alcance do estágio mais elevado de um diálogo de surdos.
Se as inquietações dos empresários são tradicionalmente conhecidas, e o diálogo entre as partes ocorre continuamente ao longo do ano, ao Governo cabia uma intervenção mais incisiva, um comprometimento em relação a algumas questões-chave. Com esta ausência de pacto, faz todo o sentido que os empresários digam que existe uma fraqueza na monitoria e avaliação do diálogo público-privado. Isto porque, dentre outras razões, o facto de não existir compromissos objectivos mata, à partida, qualquer hipótese de avaliação. Prometer fazer o que está ao seu alcance é política, Sr. Presidente, e os empresários querem mais...
Depois de dois anos, desde o último encontro, a expectativa era que o Governo apresentasse uma proposta clara de cura dos velhos problemas e não apelos a menções de escassos actos de sucesso ou aulas de liderança. Se o Governo não pode forçar a existência de um empresário, tão pouco pode ensiná-lo a comandar-se. Até porque os empresários surgem à medida que as condições do mercado assim o ditam. Por isso, a actuação do Governo deve incidir em tornar mais propício e apetecível o ambiente para a aparição de mais empresários.
Fonte: O País online - 26.11.2010
Sem comentários:
Enviar um comentário