Por Gento Roque Chaleca Jr.
“Epahu yohiya miri, eri n’atthu” (Aforismo popular macua) - “A desgraça deixou a selva, agora vive com a gente” (tradução livre).
“Epahu yohiya miri, eri n’atthu” (Aforismo popular macua) - “A desgraça deixou a selva, agora vive com a gente” (tradução livre).
A culpa é da “Geração da Viragem”! Dizem os anciões da minha terra, em Chivule, nas margens do grande Zambeze (lá onde a tecnologia humana não chega e a qualidade do ar que se respira é sadia, tal qual Deus fez, puro) que, quando um governante decide por si atribuir epítetos às coisas públicas, sem o devido consentimento dos anciões (guardiões dos tradicionais valores da comunidade), a alma dos veladores da terra, revoltada com a petulância cometida, aplica, contra o infractor, o pior dos piores venenos que há neste vale de lágrimas.
Nem sequer há espaço para pedidos de condescendência espiritual.
A alegoria vivida em Chivule, no seio daqueles anciões de sabedoria invulgar revelando-se uma autêntica universidade humana pode ser, na minha maneira de ver, uma prova de que o “banho baptismal” do Presidente da República Armando Guebuza à geração dos moçambicanos (da era pós-Independência Nacional) em “Geração da Viragem”, ignorando as “fronteiras tradicionais” (as crenças mitológicas) que comandam a vida de um país, inclusive a nossa, porque, como dizia um historiador contemporâneo “As pátrias têm a sua mitologia e quando renunciam a mitologia, renunciam também a uma parte da sua alma”, conduz o País a uma situação catastrófica.
Reza a tradição africana em geral e a moçambicana em particular que, perante situações do género, há duas saídas imprescindíveis a cumprir: a primeira é resignar-se da alcunha até então atribuída a essa geração pós-Independência Nacional em “Geração da Viragem”, e a segunda consiste em estabelecer um pacto amigável com os antepassados, por via desses anciões, para expulsar os maus espíritos que acompanham o actual governo. Ignorar estes procedimentos é um pecado mortal no esplendor da tradição moçambicana. Não é à toa que em períodos de campanha eleitoral os líderes comunitários têm uma agenda mais carregada e apetitosa.
Na esteira dessas tradições, e no incumprimento dos seus rituais, pode estar a chave do problema do País. Os mizimos (espíritos) devem estar zangados com o governo e, porque não, com o Presidente da República? Não sou senão um pigmeu insaciável em matéria das ciências sociais e humanas, mas acredito “maningue” nos valores tradicionais. Não faço deles (dos valores tradicionais) tabus. A tropicalidade africana (e Moçambicana) ensinou-me que, acima de tudo, há valores tradicionais que devem ser respeitados pois, sem eles, é como se tivéssemos uma estrada sem semáforos.
É preciso ter a coragem e qualquer coisa a mais para assumir que a governação do presidente Guebuza não é nada animador. Sem querer fazer desta crónica um “Estado da Nação” (quem sou para tal?), a governança de Guebuza começou com o rebentamento dos paióis de Malhazine, em Maputo, e na Beira, seguido das violentas manifestações de 2008. E como não há um sem dois (disse o músico ‘pimba’ MC Roger), 2010 a capital do país (Maputo) voltou a ser a capital das manifestações (o centro do furacão dos protestos contra o elevado custo de vida).
E como não há três sem quatro, a jafrofa e a revolução verde, dois trunfos da campanha eleitoral de Armando Guebuza e do seu partido (Frelimo) foram dados como fracassados. Já nem se fala da jatrofa, da revolução verde! Deixou saudades.
Diz o ditado que o azar nunca vem só.
De facto. Em junho deste ano, a Casa Branca comandada pelo “nosso irmão” Barack Obama nomeou o empresário e proprietário do Maputo Shopping Center (MBS) Momade Bachir Sulemane como um barão da droga. O “dom” Bachir, filantropo e altruísta do partido Frelimo, quão cinismo de um homem que não chora ao ver os seus empregados famintos feitos bestas de carga dos tuaregues no Norte de África, desatou, na TVM (televisão pública), lágrimas de crocodilo. Parecia o diabo a fugir da cruz. No fundo é o que tenho dito nas palestras com os meus sobrinhos, Matusalém houve apenas um, ainda assim, o seu criador, Deus, para mostrar o seu voto, o mortalizou. Os males que fazemos cá na terra, nesta plateia em que todos participamos, são pagos com juros bem altos. Esta situação vergonhosa manchou não só a Frelimo mas também a todo o povo Moçambicano.
Meses depois da Administração Obama ter colocado o País na rota do tráfico de drogas, eis que o nome de Moçambique voltou a estar em maus lençóis. Desta vez, talvez por um erro informático ou falha humana, diversos órgãos de comunicação social, do País e do mundo, noticiaram que a conta bancária da embaixada de Moçambique nas terras do tio Sam tinha sido bloqueada por suspeitas de lavagem de dinheiro. Foi apenas um susto! Tudo não passou de um falso alarme. Isto faz-me lembrar o saudoso presidente Samora Machel (fiscal nato da honra nacional) não deixaria passar esta notícia sem que houvesse explicações plausíveis do governo americano. Mais do que isto: teria punido exemplarmente os malandros “domésticos” que se escondem nos belos fatos e gravatas, quão Pilatos manhosos. Grande parte destes males teria sido pulverizada.
“Quando o feiticeiro entra em nossa casa é porque alguém o convidou (abriu a porta), dizia. “Gato é sempre gato, o rabo fica de fora.” É preciso descobrir o “gato” que anda metido nisso. Andam por aí…
Voltando ao fio da meada, ao contrário do que tem sido hábito quando os ventos não sopram a favor do partido Frelimo, não vimos o brilhante Edson Macuácua (que muitas vezes confunde a função que exerce de Secretário para a Mobilização e Propaganda no partido Frelimo com o de porta voz do governo) dizer uma única palavra sobre o assunto como também não ouvimos, até à data, um comunicado oficial do Conselho de Ministros a defender a honra e soberania nacional.
Só para se ter uma ideia de que a situação política, económica e social de Moçambique é notícia em todo o mundo, um grupo de colegas da academia, de todos os quadrantes do mundo, logo que tiveram acesso à aludida informação, não tardaram em me contactar, estavam preocupados com eventuais consequências que a notícia iria trazer para o País. Não só me comoveu saber que Moçambique é notícia em Timor, na Colômbia, na Grécia, na China, na
Austrália, ou na Nigéria, etc., como exerci, pela primeira vez, o papel de “advogado de circunstância”, do “meu” País. Apesar de não colocar a mão no fogo pelas acções do governo, faço minhas as palavras de um desconhecido poeta português: “A pátria é duas vezes nossa mãe, morrer por ela é morrer bem”, tinha que travar a batalha do prestígio pelo país, afinal, também sou moçambicano com todos os títulos.
Os Estados Unidos não devem continuar a mutilar o futuro de Moçambique. Mas a dependência económica do nosso País faz com que Moçambique se torne numa bola de bilhar dos países que alimentam o nosso orçamento. Justamente como os dados confirmam enquanto esta situação prevalecer, se continuarmos a viver de mãos estendidas como se fôssemos eternos inaptos, Moçambique continuará a ser notícia por péssimas razões. Esteriliza-se duma vez por todas o mal odioso cortando a dependência económica ou então, meus senhores, somos linchados para sempre com este tipo de notícias.
‘Kochikuro’ (Obrigado).
WAMPHULA FAX – 24.11.2010
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