Por Torres
Vários sinais foram sendo ignorados pelo Governo, não apenas desde 2008 aquando do 5 de Fevereiro, mas desde que o actual PR chegou ao poder em Fevereiro de 2005.
1. DIALOGO
O PR actual praticamente rompeu o diálogo com as forças vivas da sociedade, fora da sua Frelimo. O Conselho de Estado praticamente foi convocado muito poucas vezes. Os presidentes dos partidos da oposição nunca mais se encontraram com o PR, salvo dias depois da posse deste, num acto tipicamente cínico. O PR preferiu dividir os moçambicanos em gerações, numa artimanha cuja intenção era, primeiro, legitimar as acções de certos jovens bajuladores, e depois, premia-los com benesses e cargos.
A opinião pública foi suficientemente forte, que hoje tal discurso das gerações ficou confinada a pessoas da Frelimo e certos membros do Governo. O povo comum simplesmente faz graça da expressão “geração da viragem”. O PR acredita que falando muito, gritando, vai acabar com a pobreza. Não há nenhuma evidencia empírica, nem teórica desse modelo de desenvolvimento assente em “gerações” e em “discursos”.
De resto, o PR preferiu dialogar com os membros do seu partido, tanto em intermináveis reuniões de nível central, como em comícios disfarçados de presidências abertas, nos distritos. É a esses que ele prefere ouvir, esquecendo-se que a maioria dos moçambicanos nem sequer tem partidos e nem milita em formações politicas.
A composição do Conselho do Estado e mesmo do Governo é mais para acomodar e agradecer velhos amigos e favores antigos. O PR (embora seja seu poder descricionario) não conseguiu ver mais ninguém fora da Frelimo. Lamentável!
2. DESPESISMO
Acredito que reduzindo as mordomias dos PCAs das empresas publicas, dos seus inúmeros e desnecessários administradores executivos e não executivos; diminuindo as regalias dos membros do Governo, tanto a nível central, como local pode poupar recursos ao Estado pode-se poupar muito mais dinheiro do Orçamento do Estado.
Os resultados pouco claros dos tais 7 milhões de meticais nos distritos, em que ao juízo do povo servem para financiar membros da Frelimo ou para comprar consciências de alguns da oposição, para que abandonem seus partidos e filiem-se ao partido Frelimo, deveriam ser largamente discutidos e imparcialmente avaliados.
Mais, o PR não precisa tanta pompa, helicópteros, viaturas em terra. Pode prescindir desse luxo e fazer passar a sua mensagem. As poupanças dai resultantes serviriam para subsidiar os preços de agua e pão, pelo menos.
3. DELAPIDACAO DOS BENS PUBLICOS
Muito recentemente, e num processo que ainda esta para dar seus resultados, a população da cidade da Beira saiu a rua para contestar uma alegada sentença que retirava as sedes de bairro do Conselho Municipal para a Frelimo. Ânimos se levantaram e criticas foram feitas. A Frelimo não aprendeu e, acto seguinte, vem anunciar que vai alienar o Museu da Revolução em Maputo.
Praticamente todas as empresas rentáveis tem acções dos membros do Governo, das empresas da Frelimo, e muito em particular do seu Presidente. Porque e que isso acontece? Não e ilegal misturar Estado, partido e negócios privados?
A memoria colectiva regista tudo isso e muita raiva foi sendo contida. Julgo que a fúria popular que vandalizou tudo e todos pode ser vista na lógica de que os que detém o poder, bens moveis e imóveis fazem parte do sistema actualmente montado, tendo sido, deste modo, eleitos como alvos a abater (não estou a concordar com vandalismos; estou apenas a procurar uma hipótese para essa questão).
4. ARROGANCIA, MANIPULACAO E INTIMIDACAO
Julgo que estas três palavras são poucas para descrever o actual poder politico. Querem mudar a Constituição da Republica, não dizem o que e porque. Se a Constituição da Republica é do povo, é do pais, deveriam ao mínimo e em respeito ao povo, anunciar os pontos chaves dessa mudança. Não estamos em situação de guerra em que determinados princípios podem ficar suspensos. Mas, para quem olha atentamente para o cenário politico em Mocambique, há-de perceber de que trata-se de uma acção “manhosa” para surpreender o povo e os partidos de oposição. E para evitar um debate, um dialogo.
Na minha modesta avaliação, após estes acontecimento não há espírito para mudanças significativas da Constituição da Republica. Não repitam a trafulhice e vergonhice eleitoral de 2009, por favor.
O Governo, em apenas poucos meses após as eleições, “agradeceu” o povo com politicas injustas, cínicas, e sem sentido: o BI, documento base de qualquer cidadão, viu o seu preço agravado sob alegação de inclusão de dispositivos de segurança, nomeadamente a componente biométrica. Idem para o passaporte. Houve reclamações e protestos pacíficos e, claro, o Governo não ouviu.
Os estrangeiros não foram poupados e o preço do Dire simplismente “escandalizou-se”: o resultado de todas essas complicações serão, dentre outras, o aumento de motivos para praticas corruptas pelos agentes da migração e de identificação civil. Em tudo isso esta envolvida uma empresa, a “Semlex” de cuja legalidade é largamente contestada.
A água, a luz, a comida, o gás de cozinha, viram seus preços agravados em poucos meses, adicionando uma factura alta a agregados pobres das Cidades de Maputo e Matola, numa altura em que se refaziam dos 1.000 MT despendidos numa oportunista e burlesca inspecção obrigatória de automóveis.
Para acabar de vez com a moral dos moçambicanos os aumentos salariais de Abril foram estrategicamente tão baixos, e o pouco poder de compra que detinham foi simplesmente arrasado com esta escandalosa depreciação do metical face ao rand e ao dólar dos EUA.
A arrogância dos que estão no poder, exercida constantemente pelas palavras excludentes do SG da Frelimo (por exemplo, “quem não e da Frelimo não pode ocupar cargos públicos”) ou mesmo nos tons e nas expressões verbais do jovem Edson Macuacua, são vistas pelo povo, e interpretadas como insensibilidade e desprezo. Dizer, por exemplo, que os manifestantes são marginais (palavras do Ministro do Interior, José Pacheco) foi a prova dos nove desse desprezo.
Aliás, nas vésperas das eleições, membros proeminentes da Frelimo já diziam tudo o que hoje estamos a viver. Quando Matsinhe disse que “na Frelimo era normal fuzilar” e o Chipande dissipou dúvidas de que a Frelimo (não) poderia aceitar uma eventual derrota eleitoral quando disse, primeiro, que “os combatentes tem direito a ficarem ricos porque libertaram o pais” e, depois, “não sairemos do poder nem com eleições”, estava tudo dito. Hoje mata-se a qualquer pessoa que critica, incluindo as camadas pobres e criancinhas que ora se manifestam.
Cinicamente, nas eleições de 2009, montaram uma CNE/STAE e um CC claramente para participar desta cilada contra o povo moçambicano. Para não variar, uma silenciosa PGR que se fecha perante crimes cometidos pelos membros do partidão, mas é implacável em deter professores, contabilistas, agentes das alfandegas, das financas, administrativos, etc, que tenham desviado fundos do Estado. Não haveria motivo de escrever isto se a PGR tivesse a mesma pujança para com os membros do Governo, Governadores, ou PCAs.
A Renamo e o seu lider, e os desmobilizados de guerra e seu lider servem para ilustrar que não é possível uma manifestação civilizada em Moçambique. Os dois lideres, assim que quiseram gozar de um direito constitucional, foram ameaçados e encurralados em suas residências por forças policiais, a mesma policia que não consegue deter criminosos que matam e saqueam, impunes. O presidente dos desmobilizados foi mesmo detido e julgado, tendo sido ilibado, aliás o que toda a gente ja clamava.
Recentemente, quando se discutiu a despartidarização dos orgãos do Estado, os deputados da Frelimo e a Ministra da Função Pública apareceram, cinicamente, a mentirem, perante factos que toda a gente sabe, porque vê no dia-a-dia. A Frelimo julga que o povo não sabe analisar, não tem capacidade de fazer coisas. Infelizmente, pensam errado.
5. INCOMPETÊNCIA E MÁ SORTE
Não sei se chamaria incompetência ou ma-sorte do actual PR. Desde que chegou ao poder diversos factos negativos acontecem. Comecemos pelas inúmeras inconstitucionalidades detectadas pela bancada da Renamo, na altura, e que, felizmente, o PR teve a humildade (ou obrigação?) de as sanar em tempo útil.
Recentemente o caso do mecânico de Muecate, que demonstrou que alguns dos administradores distritais abusam dos seus cargos. Graças a solidariedade dos moçambicanos, o jovem mecânico não teve que vender a sua casa para pagar uma suposta indemnização ao então Administrador. Observe-se o espírito de solidariedade que existiu na altura! Isso para frisar que os moçambicanos podem ficar juntos em momentos de manifesta injustiça e abuso do poder. Dai que não concordo, em absoluto, com a tese da “mão estranha” nestas e noutras manifestações.
Aliás, já se fala da tal mão estranha desde 2008, mas nunca se revela o que é, quem é, onde está, se no país ou no exterior. Serão partidos da oposição? São embaixadas dos países Ocidentais, sistematicamente apontados pela Frelimo como estando a se imiscuir em assuntos internos? Será que a SISE não a consegue desvendar? A tal mão estranha é apenas hábil em organizar manifestações em Maputo e Matola, mas não consegue mobilizar toda essa massa de eleitores para derrubarem a Frelimo nas eleições? Elaborem bem as vossas teses.
Mas, voltemos ao assunto: ainda há pouco, discutimos o caso de Alto-Molócuè, em que num espírito de puro lambebotismo e arrogância, o CM de Alto-Molócuè ia multando comerciantes que não encerraram as actividades no dia do comício do Governador da Zambezia. Ironicamente, o apelo do Governo no rescaldo destas manifestações de 1, 2 e 3 de Setembro, e que aumentemos a produção! Pura hipocrisia! De que modo aumentaremos a produção, se sempre que os dirigentes da Frelimo vão as vilas e localidades as actividades económicas devem estar paralisadas?
Recuando um pouco e para alistar alguns dos factos que marcam o mandato do actual PR, encontraremos as explosões de bombas na Catembe, quase que antecedendo a famosa tarde em que Maputo parou por causa das explosões do paiol de Malhazine. Muitos mortos, feridos, amputados, destruição, trauma.
Os incêndios estavam apenas a começar. Meses depois, dois incêndios devoraram, misteriosamente, parte do edifício do Ministério da Agricultura, e meses depois parte de um edifício do Ministério das Finanças, na Av. Vladimir Lenine. Depois houve o incêndio na zona militar, no sector de Logística das FADM.
Nunca se viu tanta morte nas estradas como estas, desde o fim da guerra, em 1992. Espíritos? Feitiço? A verdade é que o Presidente Chissano ainda governou mais de 10 anos após o fim da guerra, mas não nos lembramos de tanta carnificina nas estradas (excepto “caso Tenga”, com locomotivas dos CFM). Podem dizer que o parque automóvel esta a crescer de ano para ano, mas “africanamente” falando, a má-sorte acompanha o actual PR.
Só para não mentir, vejamos a onda de assaltos a bancos que, quase que todas as semanas, varriam e semeavam pânico no Grande Maputo há poucos anos. Nas perseguições aos criminosos, policias foram se matando e foram sendo mortos, numa saga que ainda continua. Pelo meio, inúmeras “balas perdidas” ceifaram vidas de inocentes e pacato cidadão.
Não nos esqueçamos, ainda, do recente caso “By-Pass da Mozal” agora nas mãos dos deputados da Assembleia da Republica, que pode muito bem provocar manifestações e tumultos. Vejam o estado em que a Cidade de Quelimane, na Zambezia, esta hoje. Aquilo não é motivo de revolta? Se, a qualquer momento as pessoas saírem a rua, vão alegar falta de civismo, ou será justamente por civismo que se protestara?
CONCLUINDO
Saibamos ler os sinais e prevenir crises. O Governo não foi eleito para esconder-se em justificações de “crise internacional”, “crise de combustível”, “crise de alimentos”. Governo foi eleito para encontrar soluções para os problemas. O actual PR já criticou funcionários do Estado que apresentavam, justificações. Ele dizia: “não apresentem justificações, façam o trabalho”. E para dizer “feitiço virou-se contra o feiticeiro”. Então, o PR deve ser coerente.
Aliás, membros do Governo deste PR já tinham aparecido na imprensa a dizer que a crise mundial nunca iria afectar o pais. Hoje, porque é que querem aldrabar o povo? Elaborem melhor as justificações.
E ainda querem mandatos de 7 anos! E para adiarem o tempo do julgamento do povo nas urnas?
Fonte: Moçambique para todos
6 comentários:
Um artigo excelente e que espelha a realidade do que se vive em Moçambique.
Este governo tem demonstrado que de democrata nada tem, porque estariam então interessados no diálogo? Talvez estivessem se fosse um diálogo em que todos dissessem 'amen', mas como sabem que esse não é o caso, a via do diálogo está posta fora de questão.
Ainda estamos a tempo de aprender que este governo não representa o Povo, mas simplesmente uma minoria de bajuladores e oportunistas.
Maria Helena
Torres
Em relacao ao artigo, acho que solucoes propriamente ditas, para os problemas do Povo, nao acredito que venham do actual governo,
Uma coisa 'e que as solucoes deviam vir, e outra 'e se vem ou nao e explico:
Este Governo nao tem capacidade de gerar solucoes, o QI 'e baixissimo em media, todos ou quase todos tem um passado violento, a ideologia que eles idolatram e um falhanco completo, capacidade de dialogo 'e enexistente, o controle sobre os centros de producao de saber limita a capacidade do governo em solucoes, e por fim o focal point esta em beneficiar e acumular a nivel pessoal, nao no produzir solucoes reais.
Assim, esperar solucoes deste governo, 'e como esperar que uma cobra, va parir uma vaca.
Selecionador,
O Torres esta andar bem,
eu tenho Barnabe Knomo, Torres, jornalismo mocambicano e pensar diferente que vou adicionar,
OK ?
Avante Karim.
Zicomo
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tem alguns spelling errors, ja corrigidos, no proximo up-date serao visisveis,
Como : Knomo do Barnabe Ncomo.
As pessoas devem aprender que a solucao pacificas dos problemas em democracia estao no VOTO.Se um homem pretende conquistar uma mulher, apresenta-se limpo, com traje bonito e generoso, mas cabe a essa mulher procurar saber se a roupa que esse homem apresenta lhe pertence ou pediu emprestado; se a generosidade que mostra é real ou nao.Quando estivermos no periodo eleitoral os preços vao baixarem. Nessa altura o POVO terá produzido? Um partido que ficam mais de dois mandatos no poder se torna arrogante porque se acha dono de tudo, e tenta a todo o custo ridicularizar os seus opositores perante o povo, se beneficiando da falta de formacao e informacao das pessoas.
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