quinta-feira, setembro 16, 2010

Camponeses preguiçosos

Espinhos da Micaia

Por Fernando Lima

Não há muitos anos, hora de trabalho nos bairros periféricos era sinónimo de ruas desertas. Mas tudo mudou. Ociosidade e desemprego não diferenciam o movimento a qualquer hora do dia nas vielas poeirentas do subúrbio, espaço partilhado por montanhas de lixo e barracas coloridas com a música aos berros.
Era aqui que o presidente deveria ter feito o discurso dos preguiçosos, dos que levantam de manhã e já estão cansados, os que encostam debaixo da árvore ou na sombra da barraca.
Mas não foi. Foi na Zambézia, a província que já foi a mais rica do país. Pelas culturas de rendimento, pela agro-indústria, pela riqueza criada pelo trabalho assalariado. Pelo consumo de “whiskie” que era o mais elevado na província ultramarina. Pelo meio veio o dilúvio da guerra e os assalariados de outrora são os desempregados de hoje. Os filhos deles, que até foram à escola, gostariam de ter trabalho, mas nunca tiveram emprego.
Isso não é sinónimo de preguiça.
O sector familiar, o que o Estado assobia para o ar e faz que não vê, debitou colheitas recorde nos últimos dois anos. Num qualquer boteco mexicano as “quezadillas” são agora preparadas com milho “made in Mozambique” dos zambezianos, mas também dos camponses de Nampula e do Niassa.
Os tais preguiçosos mandam o seu milho – sem ficha de exportação registada pelos burocratas das estatísticas – para o Malawi. Umas vezes para matar a fome, outras vezes para alimentar as agro-indústrias rudimentares que os malawianos desenvolveram junto à longa fronteira que separa os dois países. Outras vezes ainda para fazer subir e baixar preços, especulação. Mesmo assim, é melhor exportar que ler notícias de cereais apodrecidos patrioticamente nos armazéns de Tete.
Os tais preguiçosos vendem o milho que as Nações Unidas utilizam para matar a fome aos súbditos do sr. Robert Mugabe, o regime que hipocritamente continua a ser apoiado pelos regimes da região.
Os preguiçosos da Zambézia poderiam matar a fome aos seus conterrâneos de Inhambane, de Gaza e Maputo, onde há bolsas de fome cíclicas. Só que os camponeses não podem substituir-se à rede de segurança alimentar, do mesmo modo que camionistas e comerciantes não se substituem ao instituto das calamidades, subsidiando o preço dos combustíveis e meios de transporte entre o Norte e o Sul.
Os preguiçosos da Zambézia têm um exército de bicicletas que compraram com o seu suor, que trocaram por milho, gergelim, feijão bóer. A bicicleta na Zambézia não é bicicleta, é camião. Podem baixar os vidros fumados dos 4x4 e ver os volumes incríveis que são empoleirados no veículo de duas rodas. Porque quase não há “chapa” entre Mocuba e Mugeba, entre Megaza e a Murrumbala, entre Chimuara e Mopeia, entre Mocubela e Pebane.
São os zambezianos que são força de trabalho em Marromeu e nas “farmas” dos zimbabweanos em Manica. Pelos melhores e piores motivos são os condutores e cobradores de “chapa” em Maputo, são vendedores ambulantes e empreendedores de “dumba-nengue”.
O problema não é a preguiça senão teremos que recuperar os velhos manuais sobre as técnicas do chibalo e o “imposto de palhota”, a porta de entrada para a salarização ou monetarização dos que teimavam em manter-se à margem da economia da modernidade trazida pelo colono.
O pessoal do campo precisa de estrutura e rede para produzir. Precisa de saber que o que produz é comprado, que pode produzir para comer em primeiro lugar e que pode cultivar também para o rendimento: gergelim, algodão, tabaco. O camponês precisa de ser sustentado pelo mercado e não pela subsistência que o transforma no elo mais fraco do ciclo de produção.
Que lhe dá o ferrete de preguiçoso.

Fonte: SAVANA - 27.04.2007, in Mocambique para todos

Reflectindo: Lembrei-me deste texto por um lado, por causa do trigo que está a apodrecer em Manica e por outro devido ao discurso do Presidente Guebuza em que disse:  Falta de hábito ao trabalho perpetua fome no país durante a sua visita na província da Zambézia, em Abril de 2007. De recordar que segundo Gustavo Mavie, o PR Armando Guebuza disse "sem eufemismos, que o que tem perpetuado a fome e a pobreza em Moçambique é a “falta do hábito pelo trabalho”, que tem feito com que haja muitos moçambicanos que “passam a vida a descansar até se cansarem de descansar”.



10 comentários:

Nelson disse...

O risco na verdade, segundo a notícia, corre risco de apodrecer se medidas não forem tomadas, parece que o títúlo enganou a muitos de nós

Reflectindo disse...

Pode ser isso, embora esse risco seja o mais provável. Mas esperamos esta informacão salve o trigo.

Anónimo disse...

Now I would' ve used ChickHen to flash custom firmware to his psp but he updated to 5.55. So I was wondering if the Half Byte Loader program would be able to run the 5.50 D3 installer at all, since I noticed the program is beta and apparently as many problems left, long enough to flash firmware without bricking his psp.

Anónimo disse...

Parem de mentir a população. Não ha trigo nenhum a apodrecer em Manica.

Mateus

Nelson disse...

Caro Mateus.
Mais do que chamar seja lá quem for de mentiroso, o mais certo e educado seria vires aqui trazer informações que contrariem oque foi publicado pela imprensa. Talvez estejas bem mais informado, farias um favor trazendo informações mais claras sobre o assunto. Enquanto não fizeres, fica-se com oque se sabe: HÁ TRIGO EM RISCO DE APODRECER. E isso nem seria novidade pois casos existem e muito de produtos que apodrecem por falta de mercado e ou escoamento. Como o meu amigo Mutisse disse num dos comentários no seu blog, esse caso não é primeiro nem único. Só ganhou visibilidade que ganhou por causa do actual problema do pão. Há problemas sérios de estradas nesse país que impossibilitam escoamento dos produtos. Quando no anos passado o PR foi a Morrumbala, os camponeses lhe perguntaram porque é que em Moçambique não lhes compravam o tomate e tinham que vendê-lo a preços irrisórios no Malawi. De tão "insatisfatória" que foi, me lembro da resposta do PR.

Reflectindo disse...

"Mateus"

Eu disse que neste espaco é para argumentos. E tu não trazes nada. Qual é a utilidade deste comentário? Aqui não é o grupo de choque.

Para ti quem mentiu é o Director Provincial de Agricultura.

Depois não reclama quando retiro os teus comentários. Este teu comentário deixo ficar, pois que todos podem saber quanto à tua educacão, ao tipo de comentários que fazes. E quando reclamas já isto serve de prova.

Um bom fim de semana "Mateus"

V. Dias disse...

Exemplar, Reflectindo.

Há gente como nome bíblico, mas com o coração de Judas...

Zicomo

Reflectindo disse...

Esses senhores que mudam de nome em nome para só atirar pedras como fazem nas campanhas serão por mim eliminados.

Que criem blog deles para tanta falta de educacão.

Anónimo disse...

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