domingo, setembro 12, 2010

Para não se dizer que não falei de flores...*

A talhe de foice

Por Machado da Graça

Do rio, que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem.
Bertolt Brecht

Há dias, conversando com um amigo, ele comentava a grande quantidade, e qualidade, de análise sobre a situação nacional a que foi possivel assistir nos debates televisivos. Isto comparado com a mediocridade das declarações oficiais, incapazes de analisar as causas dos acontecimentos e reduzindo as consequências aos aspectos de violência e vandalismo, deixando de lado o significado político e económico do protesto.
Comentava esse meu amigo que alguns dos nossos ministros, individualmente, um a um, até produziam reflexões interessantes mas, em conjunto, era aquela tristeza... Pouco mais tiveram a dizer para além de que está tudo no plano quinquenal, como se este fosse um livro sagrado, indiscutível. Pelo qual, como acontece muitas vezes nesses casos, se justificou o uso pela Polícia de armas de guerra com as quais foram mortos 13 cidadãos.
A resposta às críticas sobre a carestia de vida foram todas atiradas para a situação internacional. Para esses nossos iluminados dirigentes não existe culpa nenhuma no seu cartório doméstico. Esquecem-se, no entanto, que, das 3 subidas de preço deste início de Setembro, só uma se pode atribuir à conjuntura internacional, a subida do pão. As outras duas, electricidade e água, são assuntos internos.
Cahora Bassa é nossa, como o governo se fartou de gritar, e a água de Maputo e Matola vem do Umbeluzi, igualmente nosso. Não se trata, portanto, de subidas a que não possamos fugir, mas sim de subidas derivadas de opções políticas e económicas do executivo.
Ora é precisamente a essas opções que eu creio que temos que ir procurar muitas das causas dos actuais acontecimentos.
A propósito recordo que o actual Orçamento Geral do Estado, elaborado pelo presente governo, atribuiu as percentagens mais altas da distribuição do nosso dinheiro à Presidência da República (733 553 000 Mt) e aos Serviços de Informação e Segurança do Estado – SISE (689 717 700 Mt). Só a título de comparação o Ministério da Agricultura recebeu 125 328 000 Mt.
No primeiro caso imagina-se que fosse para pagar os rios de dinheiro que deve estar a custar a Presidência Aberta do Chefe de Estado, sempre a saltitar de um lado para o outro, com o seu cortejo de 6 helicópteros, alugados fora do país. E, recorde-se, esta verba não inclui a segurança do Chefe de Estado. Essa está num orçamento separado.
No segundo caso não se chega sequer a perceber para que serve tal verba dado que estamos num país em paz com o exterior e sem graves problemas de segurança internos. De resto, quando algo acontece neste sector, como foi o caso da semana passada, a ideia que dá é que o SISE, tal como acontece muitas vezes com os maridos enganados, deve ter sido o último a saber.
Mas, ao tentar desviar a nossa atenção para as causas externas da revolta popular, o Governo está-se a esquecer que as pessoas não estão de olhos e ouvidos fechados. É visível a forma como os membros do Governo e os dirigentes do partido Frelimo vivem, as mansões opulentas onde moram, os carros de luxo em que se deslocam, as regalias de todo o tipo a que têm direito, muitas vezes ultrapassando os já enormes salários.
Ainda recentemente foi noticiado que o Presidente do Conselho de Administração de uma empresa pública (os Correios, se bem me lembro) decidiu aumentar o seu salário para o dobro do muitíssimo que já ganhava. Alguém lhe chamou a atenção para a crise? É claro que não. Para essa camada de pessoas a crise não existe. A crise só existe quando se fala de melhorar a situação dos pobres. Para os já ricos há sempre mais e mais...
Há dias um jovem adulto afirmava que a revolta popular só veio confirmar a frase de Samora Machel, segundo o qual as crianças são flores que nunca murcham. De facto, segundo esse jovem, as crianças do tempo de Samora não murcharam e saíram agora à rua para lutar pelos seus direitos e por uma vida melhor.
É verdade, acrescento eu, que pelo meio das belas flores de jardim apareceram umas tantas selvagens, com picos agressivos, mas, há que reconhecer, nem umas nem outras estavam murchas...
P.S. – Já depois de este texto estar escrito surgiram as medidas do Governo para fazer baixar o custo de vida.
Medidas que são completamente de louvar.
Só me revolta que tenha sido necessário morrerem 13 pessoas, sido feridas muitas outras, e ter havido as destruições que houve para o Governo descobrir que era possível fazer aquilo que, antes, garantia a pés juntos que era impossível...
* Título roubado a Geraldo Vandré

SAVANA – 10.09.2010 in Mocambique para todos

27 comentários:

Abdul Karim disse...

Capitao,

Hao de vir ja atacar,

Machado da Graca 'e culpado, nasceu branco, nao pode, ele nao podia nascer branco, 'e culpado.

Hao de vir ja,

Os nhoca juniors, os filhos dos xiconhocas,

nao custumam demorar.

V.Dias disse...

Foi mal entendido na outra cronica. Muito mal entendido.

Zicomo

Abdul Karim disse...

Sim Viriato,

Tens razao, todos sao mal entendidos,

So eles os xiconhocas sao unicos que entendem bem,

Todos entendem mal, desde da independencia que todos entendem mal,

Ja entendiam mal antes,

Todos comecaram entender mal desde antes de independencia,

16 anos de guerra foi porque Renamo entendeu mal,

MDM foi "retumbada" nas ultimas eleicoes, porque entendeu mal,

So eles 'e que entendem bem.

Abdul Karim disse...

Viriato,

Soma a mola da presidencia e do sise, e compara a soma com a agricultura,

Ambas recebem 11.3 vezes mais que o ministerio da agricultura.

Como 'e queres que agricultura cresca, floresca, viste a analise do Mucavel, na reflexao da UEM ?

Como pode assim, depois dizer-se que sao todos pobres mentais, por isso o pais nao anda ?

Isso 'e matematica, e a nivel de gestao, esta ai mais um buraco.

E o engracado 'e que este investimento na presidencia e no sise, so serve para oprimir o Povo, axfixiar-se, matar-se,

E 'e financiado pelos G19 em nome da pobreza, matando o Povo,

V.Dias disse...

Sim, li o texto de Joao Mosca é excelente. Seria boa pergunta a cloccar ao PR. E mais? Porque é que em Conselhos de Ministros nao sao servidos tuberculos no lugar das deliciosas guloseimas? Isso é austeridade, ou nao???

Zicomo

Abdul Karim disse...

Vamos selecionar Mucavel ?

'E o mesmo Mucavel da guitarra ?

V.Dias disse...

Nao, fica acessor de alguma coisa...

As rolas viam...

Zicomo

Abdul Karim disse...

OK,

Mucavel Selecionado.

Vai pros Acessores Inviduais.

As Rolas Voam ! As Rolas Voam ! As Rolas Voam !

Reflectindo disse...

Viriato,

Primeiro, antes de eu ir dormir vou colocar aqui o artigo de João Mosca. Mas já sabes do que os mais patriotas pensam do Mosca, Machado e depois do Reflectindo, Karim...

Segundo, eles fingem que não entendem o que Machado da Graca escreve, mas o verdadeiro problema deles é de o Machado não o ter lhes seguido no capitalismo selvagem. Só isso. Então, eles dizem logo, não nos deixas roubar porque somos negros.
Repara que eles diziam o mesmo para com Carlos Cardoso quando lhes apertava por causa do dossier BCM.
Ora se é um branco ou de cor diferente dos M, ele é ocidental. Se for um negro a criticar-lhes é um vassalo do Machado da Graca (Ocidente).

Depois para eles atacarem os mocambicanos brancos, recorrem o discurso de que estavam bem servidos por Machel porque no governo dele havia muitos brancos e assim queriam continuar. Será???
Mas o mais interessante é quando alguém se questiona sobre a distribuicão dos recursos por região e grupos étnicos em Mocambique actual. Como reagem eles??

Reflectindo disse...

Karim,

Boa resposta ao Gabriel M. no Diário de um sociólogo.

Por acaso "I'm down" já passa mais que uma semana devido à minha mãe que se encontra muito doente. Então, não tanta concentracão para comentar ao que Gabriel M. escreveu.

Gostei do teu comentário porque contrariaste ao Gabriel M. quem partiu de abstracto e lá terminou e tu foste ao concreto e localmente e aí terminaste.

Reflectindo disse...

Meu Karim,

Sei muito bem, mas não vou e nunca irei abdicar-me na direccão da seleccão.
Sei ainda que neste momento eles estão com uma má disposicão por eu ter publicado algo sobre Castel-Branco.

Abdul Karim disse...

Melhoras pra mama, antes de outros assuntos, Capitao.

Entao vamos fazer uma coisa,

Vamos esperar opiniao do Selecionador Viriato,

Eu punha o Castel Branco a inicial no teu lugar, e tu passas a adjunto do Selecionador Viriato,

Tens mais tempo para cuidares da mama, e Castel Branco passa a inicial, e ficamos com mais uma vaga nos 22,

Uma Vaga 'e de Saude e outra Vaga fica pra Educacao, pra compensar a tua saida,

O que dizes ?

Se aceitas e o Selecionador confirmar, Actualizo os 22 e equipe tecnica do Selecionador.

OK ?

Ximbitane disse...

Hehehee, admiro esse teu humor mordaz, Karim. Com que então ja a mexer na selecção? Sim senhor, equipas ganhadoras são dinâmicas!

PS: A minha solidariedade para com o Reflectindo pela doença da mãe dele que também é minha (pode ser, né Capitão ou Seleccionador-Adjunto?).

V. Dias disse...

Concordo, Karim.

Melhoras para a tua mãe Reflectindo.

Zicomo

Abdul Karim disse...

OK, Viriato,

Vo ja actualizar.

O Nome do Professor de Macro 'e Silvestre, dava aulas na UEM, deu no Isctem tambem, era Mauricias.

Jonathan McCharty disse...

Reflectindo,

Votos de rapidas melhoras a esta mulher que trouxe ao mundo um Grande Patriota, que por nada deste mundo, algema as suas ideias e pensamentos!!

Abdul Karim disse...

Seleccao Actualizada,

Caste- Branco no 11 inicial,

Confirmado.

Abdul Karim disse...

Mana Ximbi,

Temos que andar,

Nao temos outra saida,

Pra frente 'e o caminho,

As Rolas Voam ! As Rolas Voam ! As Rolas Voam !

Julio Mutisse disse...

O Machado não foi nada mal entendido. E, please não transportem os chorrilhos do outro lado para aqui, nem a mesma argumentacão racista que tentaram introduzir lá.

Repito aqui, não há nada contra a racca do Machado, apenas para aquilo que ele diz.

Já agora, respondam os meus escritos e não ao PRETO que ousa vos questionar.

V. Dias disse...

Mutisse,

Desculpa-lá, eu acho que precisas de um banho de personalidade.

Um banho de humildade, isto silm.

Os acólitos que te apoiam no teu blogue, quase todos eles usam a cor para atacar a machadada à Machado da Graça, nem sequer aventas a possibilidade dele estar certo.

Chamuale, veja lá de arrefeces este teu ódio por aquela alma. Só o título que usas já em si é um luto...

Zicomo

V. Dias disse...

Mutisse,

Desculpa-lá, eu acho que precisas de um banho de personalidade.

Um banho de humildade, isto silm.

Os acólitos que te apoiam no teu blogue, quase todos eles usam a cor para atacar a machadada à Machado da Graça, nem sequer aventas a possibilidade dele estar certo.

Chamuale, veja lá de arrefeces este teu ódio por aquela alma. Só o título que usas já em si é um luto...

Zicomo

Abdul Karim disse...

Mutisse Pah,

Voce existe de Verdade mesmo,

Aqui nao separa as questoes por cor,

Voce 'e livre de questionar aquilo que voce quizer, agora se voce se sente discriminado por sua propria cor, nao lhe da o direito de discriminar outrem pela cor,

Embora seja compreensivel que voce discrimine a si proprio, por isso, e como reflexo natural dessa discriminacao colorida interna tua, voce tenha o eixo do pensamento em funcao de racas,

Isso 'e curavel, basta quereres,

O Bom 'e que admites que nao ha nada de raca no que Machado disse,

E o mau 'e que voltas com auto-vitimizacao, em funcao da cor,

mas, 'e curavel, nao te preocupes, cura-se isso,

Todos os dias demanha, acorda, e pensa:

Ninguem 'e superior ou inferior em funcao a sua cor da pele, nao tenho que discrimininar a mim proprio em funcao da minha cor, senao pelo que penso e faco, ou seja, pelo meu pensamento e minhas accoes,

Vais- te sentir melhor, vais ver.

Anónimo disse...

Viriato,
se tens falta de argumentos para atacar o texto do Mutisse, então fique calado. Esses insultos, como falta de personalidade, xiconhoca, etc etc etc, não ficam bem a quem o profere.

Afinal não estamos numa sociedade democratica, que admite uma multiplicidade de ideias.

É sempre assim, quando os argumentos rareiam, partem para ataques pessoais.

Ja agora,em bom português não se escreve acessor, mas sim assessor.

Reflectindo disse...

Mutisse

Deixa-me dizer uma coisa. Não quero me dedicar às tuas intenções de desviar o debate actual. Mas mesmo se eu quisesse nada mais faria do que repetir o que o Jonathan escreveu. No teu texto te colocas moçambicano e Machado da Graça não moçambicano. Isso está claro.
Tu podes interpelar a quem quer que seja e o que está em questão não é interpelar a Machado, mas nos extremos em que te colocas e colocas o Machado da Graça e os seus “acólitos”. E nem somos nós apenas que interpretamos-te, mas os teus aliados nos comentários com os quais concordas, expressam claramente o DISCURSO PURAMENTE RACISTA.

Também quisesses solidarizar-te com os camponeses, achando o termo de Machado da Graça uma redução deles a simples conhecedores de enxada de cabo curto, o farias sem insinuações com um discurso de Nós e os Outros. Muito menos tinhas que tentar insinuar que todos os moçambicanos são camponeses. Pelo que sei Mutisse não é camponês, mas sim jurista. Mas essa solidariedade aos camponeses devia estender-se também ao discurso de Armando Guebuza, quem em 2007 os chamou de preguiçosos.

Podiamos discutir sobre os objectivos e o impacto dos seis discos voadores para as aldeias, entretanto, o teu discurso representa a negação desse debate.

Quanto ao insulto a todos moçambicanos, devias revoltar contra aqueles que os moçambicanos, portanto nós, não temos iniciativa criadora, não podemos combater um regime, não reagirmos às dores, não podemos criar um partido, não podemos pensar em manifestação, etc, e sempre que o fazemos é porque há uma mão externa. Isto é um insulto total à nossa inteligência, meu caro Mutisse.

Estou acostumado que isso tem sido a tua maneira de debater. Para ti há moçambicanos com mais direito e outros não em debates. Lembra-te que quando começámos a falar de nacionalismo bacoco foi pelos teus discursos. Para ti os moçambicanos não residentes em Moçambique, por exemplo, não têm o mesmo direito de debater os problemas de país enquanto não forem os teus aliados.

Nota: vou postar um texto de Machado da Graça publicado no Correio da Manhã, Diário de Moçambique e no Moçambique para todos, em que ele questiona se há sequer um deputado na Assembleia da República que seja camponês. Não achas que tu e eu, que nunca questionámos isso?

Um abraço

JOSÉ disse...

Estes ataques a Machado da Graca tresandam a racismo e partem de uma interpretacao bizarra e tendenciosa do texto em causa. Todos podem observar que Machado nao e tratado como mocambicano, e aquela velha historia de pensarem que alguns sao mais mocambicanos do que outros, dependendo da cor da pele, local de nascimento, ideologia, local de residencia, etc., etc., num esforco titanico para excluirem compatriotas.
Eu continuo a questionar porque atacam o Machado e nao comentam textos bem mais duros de outros jornalistas. Estas artimanhas ja foram usadas, por exemplo, contra Philip Gagnaux e Mia Couto. Se Cardoso fosse vivo tambem seria atacado e nao tenho duvidas que Mosca e Castel-Branco incomodam muito esta gente.
Outro pormenor que acho ridiculo e o de apontarem sempre o passado frelimista do Machado. Porque nao questionam outras figuras frelimistas? Todos os frelimistas sempre foram a favor da democracia? Todos os frelimistas sempre foram a favor do capitalismo selvagem?
Tambem questiono se estes ataques nao sao uma manobra para nos desviarmos dos assuntos importantes focados nessas cronicas.
Estamos atentos e avisados!

SELECAO UNIDA JAMAIS SERA CONFUNDIDA

Reflectindo disse...

Obrigado Xim, Karim, Jonathan e Viriato. Os meus irmãos estão numa batalha para ver se a mãe recupera.

Reflectindo disse...

José,,

Carlos Cardoso foi também já foi atacado enquanto vivo como morto. A exigência para investigacão do assassinato foi racializada.