Pelo bem-estar do povo moçambicano
– Dom Jaime Gonçalves, falando no âmbito do 7 de Setembro em que se comemora o Acordo de Lusaka pela Independência Nacional
“Moçambique deve seguir a consciência profunda por que se pautam os africanos, alargando as liberdades e direitos humanos, por forma a que futuramente os moçambicanos usufruam dos progressos do Estado de direito”. São palavras do Arcebispo da Beira, Dom Jaime Pedro Gonçalves, no quadro das festividades de 7 de Setembro, assinalado ontem em todo o País.
Dom Jaime, que falava minutos após o substituto do governador de Sofala, Carvalho Muária, ter depositado uma coroa de flores no monumento aos heróis moçambicanos, na zona da Chota, na Beira, afirmou ser necessário que se aprofunde a democracia no país, alargando-se as liberdades e respeitando-se os direitos fundamentais na perspectiva de os cidadãos obterem ganhos com tais progressos fundados na democracia.
Na opinião de Dom Jaime, os africanos têm uma grande consciência sobre os direitos fundamentais, o que os levou a se unirem em prol da libertação das então colónias africanas, guiados pela Organização da Unidade Africana.
Apesar de hoje estar a ser subvertida essa consciência dos Direitos fundamentais, ainda hoje ela se mantém profundamente radicada entre os seus povos, como uma tradição que Moçambique deverá seguir na perspectiva do progresso e desenvolvimento dos cidadãos.
“Os africanos são sensíveis à opressão, de modo que esta ditou a consciência de libertação, daí que a restrição das liberdades e direitos humanos mexe com a consciência deste povo”, disse o prelado, tendo acrescentado que tal inspirou os moçambicanos à busca da independência, cujo grande passo foi dado com o 7 de Setembro de 1974.
Questionando sobre o que pensa das manifestações que tiveram lugar no país, intensamente nas cidades de Maputo, Matola, e muito timidamente, nas cidades de Macia, Chibuto, Chókwè, Maxixe, Beira, Tete e Nampula, Dom Jaime afirmou que para a consolidação da independência é necessário o alargamento das liberdades e direitos, sem os quais será difícil alcançar-se o progresso pelo qual os nacionalistas juntaram-se e lutaram, obrigando os colonialistas a capitularem e a reconhecerem a independência através de 7 de Setembro.
Todavia, numa alusão implícita a Frelimo, Dom Jaime Gonçalves afirmou que “há pessoas que assumiram a responsabilidade de promover o bem-estar do povo moçambicano e a estes toca cumprir e fazer com que os moçambicanos usufruam desse bem-estar”.
Alguns segmentos de opinião não são favoráveis à ideia das manifestações, mas nas palavras do Arcebispo, é um direito consignado pela Constituição da República, daí que há que fazê-lo de melhor forma.
Uma cerimónia diferente
Este ano, na Beira a cerimónia de 7 de Setembro ocorreu de forma diferente relativamente aos outros anos. Logo depois da deposição da coroa de flores esperava-se por discursos dos políticos, mas tal não sucedeu. Nem Muária, governador interino da província de Sofala, nem Daviz Simango, presidente do Município da Beira (este recebido de forma apoteótica pelos populares que se encontravam na Praça do Heróis) discursaram. Aconselhou-se a que cada partido falasse na sua sede.
A Frelimo juntou-se na sua sede, ao passo que outros partidos se dispersaram imediatamente.
Justificando o facto, Muária afirmou que tal visa dar lugar à cerimónia do Estado.
O governador Carvalho Muária foi bastante breve no contacto com a comunicação social, tendo apenas exaltado o engajamento dos moçambicanos cujo suor deu lugar à libertação da pátria.
Por seu turno, o presidente do MDM, Daviz Simango, que também é presidente do Município da Beira, lamentou que a Frelimo tivesse decidido confinar seus correligionários na sua sede, pois, argumentou, “é uma festa de todos, pelo que dever-se-ia dar espaço a que o povo convivesse entre si, porque tal é importante para a unidade nacional”.
Daviz Simango, filho do Reverendo Uria Simango que foi vice-presidente da Frente de Libertação de Moçambique quando Eduardo Mondlane era presidente, recordou o 7 de Setembro como uma data da exclusão de parte dos moçambicanos com um pensamento diferente do Partido Frelimo. A Frelimo ao propugnar a entrega pelo colonialismo de Moçambique à Frelimo como “representante único e legítimo do povo moçambicano abriu caminho às situações difíceis que dividiram os moçambicanos durante vários anos”, como se subentende da guerra civil e da emigração massiva dos nacionais que se viram obrigados a abandonar a sua própria Pátria.
“É importante que se reflicta nesta situação, para jamais abrirmos caminho a uma situação semelhante. Os moçambicanos não podem se pautar pela exclusão social, pois a construção da nação depende da união de todos os nacionais, sem exclusão social. Todos os nacionais devem ser chamados a fazer parte das soluções dos problemas do povo”, defendeu Daviz Simango. (Adelino Timóteo)
Fonte: CanalMoz - 08.09.2010
Sem comentários:
Enviar um comentário