domingo, novembro 06, 2016

SAÚDE: HCM revê tarifas da Clínica Especial

A direcção do Hospital Central de Maputo (HCM) decidiu há dias rever em alta o preçário dos serviços prestados na Clínica Especial daquela unidade sanitária tendo em vista angariar fundos para a manutenção dos equipamentos recentemente adquiridos, das infra-estruturas e manter o padrão de qualidade no atendimento.
A actualização em causa foi ponderada por representantes de todas as unidades funcionais do HCM tendo em conta a presente conjuntura económica, uma vez que quase todos os consumíveis e equipamentos usados são importados.
Dados em nosso poder indicam que a direcção daquele hospital acredita que será possível incrementar a receita entre 30 e 40 por cento, tendo como ponto de partida os actuais 25 milhões de meticais que factura, hoje, por mês.
Segundo fonte bem colocada no HCM, dos 25 milhões mensais, quase 22 milhões são aplicados no pagamento de salários, aquisição de medicamentos, consumíveis, manutenção e parte considerável é usada para o pagamento de salários de provedores de serviço que são contratados ou que estão em processo de absorção pelo Aparelho do Estado.
Temos cerca de 320 provedores que estão a ser pagos pela clínica. Por outro lado, os proveitos da Clínica Especial também são usados para o arrendamento, ao preço do mercado, de 50 residências para o pessoal médico estrangeiro”, sublinha.
Neste contexto, apurámos que nas condições actuais, a Clínica Especial funciona sem margens para realizar qualquer investimento e perdeu a capacidade de servir de fonte alternativa de renda para o suporte de despesas do hospital-mãe, que é o HCM.
A nossa fonte apontou que o cerne da revisão tarifária é angariar recursos para garantir a manutenção dos grandes investimentos que foram feitos nos últimos quatro anos através do Orçamento do Estado e poder adquirir os consumíveis e as refeições dos doentes internados na Clínica.
Entre os tais investimentos consta a aquisição de equipamento de última geração para os serviços de Estomatologia, Otorrino (onde já são feitas cirurgias a laser), Oftalmologia, Radiologia e na Sala de Operações da Maternidade.
O HCM também beneficiou de investimentos nos laboratórios, nos serviços de Anatomia Patológica e na Esterilização onde hoje temos um padrão de categoria internacional. Mas, para garantirmos o pleno funcionamento de todos estes meios precisamos de ter e manter a capacidade de fazer a manutenção que tem os seus custos”, referiu a fonte.
A questão central é que os acessórios para estes meios novos devem ser importados e, feitas as contas, chegou-se à conclusão de que contando apenas com os fundos do Orçamento do Estado seria impossível manter os meios activos.
Aliás, a pior coisa seria chegarmos a uma fase em que gradualmente um e outro equipamento começasse a falhar. Isso iria prejudicar de alguma a qualidade de serviço do hospital como um todo e da Clínica em particular”, disse.
Apesar de a actividade da Clínica ser de pequena monta e situar-se entre 10 e 15 por cento do volume de atendimento de todo o HCM, esta unidade consegue gerar rendimentos que permitem suportar parte significativa do défice financeiro que o maior hospital do país enfrenta.
A presente actualização está abaixo do que se pratica nas outras clínicas porque beneficiamos do facto de termos instalações próprias. A partir de agora vamos passar a ter uma melhor distribuição da renda produzida através da Clínica, pois antes havia situações em que duas unidades que prestavam o mesmo serviço praticavam preços diferentes. Por isso tentámos equilibrar”, afirma. 
CONSULTAS NO ESTRANGEIRO
No quadro da busca de explicações sobre a actualização tarifária na Clínica Especial do HCM apurámos que a nova tabela indica que para o atendimento com médico privado os doentes deverão passar a desembolsar 10 mil meticais.
A fonte que ouvimos refere que os médicos que fazem as urgências na clínica são pagos por cada doente que atendem, mas a condição para que estes médicos possam atender a doentes na Clínica é que também atendam no serviço normal. “Quem não trabalha no serviço normal não pode ir à Clínica”.
Entretanto, devido a alguns desvios comportamentais de alguns funcionários, alguns médicos só eram chamados para prestar serviços na Clínica nas noites ou em horários difíceis. “Verificámos que durante o período da manhã alguns não eram chamados porque outros eram favorecidos para atender no período diurno. Já tomámos medidas tarifárias que vão desencorajar estas práticas”.
Mais adiante, a nossa fonte aludiu que os investimentos feitos no HCM e naquela clínica vão ajudar a reduzir a saída de divisas do país para o pagamento de despesas médicas, mas reconhece que ainda há serviços que não estão disponíveis no país.
Há alguns recursos que não temos aqui. Um exemplo claro é o transplante que ainda não fazemos por motivos técnicos e também por motivos legais. A Lei de Transplante ainda não foi aprovada. Também temos o caso de doentes que devem ser atendidos na área de Oncologia, sobretudo quando devem passar pela Radioterapia”, sublinha.
Porém, refere que nos casos de Oncologia, há investimentos em curso no HCM, nomeadamente a conclusão da montagem do equipamento que poderá terminar nos próximos três meses. “A partir daí vamos começar a tratar os primeiros doentes aqui. Isso vai reduzir muito a necessidade de transferir doentes para fora”.
Aliás, aquando da recente visita do Primeiro-ministro da Índia, alguns membros do Governo que o acompanhavam visitaram o Hospital Central de Maputo e, no final, sentenciaram que “este hospital é funcional, pode não ter a comodidade e luxo como alguns hospitais de topo, mas como hospital funciona”.
ENFERMEIROS PRECISAM-SE
Num outro momento, procurámos ouvir o director do HCM, João Fumane, que se limitou a confirmar os dados a que tivemos acesso e a sublinhar que a grande necessidade que esta unidade sanitária tem relaciona-se com os recursos humanos, particularmente no ramo da enfermagem.
Temos um défice de 50 por cento de enfermeiros. Só temos 700 quando devíamos ter pelo menos 1400. Para colmatar essa falta, estamos a promover a formação orientada para a ocupação destas vagas e a criar uma série de incentivos não monetários para os enfermeiros visando garantir entradas e reduzir as saídas por falta de motivação”, disse João Fumane.
Entre os incentivos não monetários consta a possibilidade de os enfermeiros no activo beneficiarem de formação média na área de enfermagem e progredirem para a licenciatura e especialização.
Apesar do défice, João Fumane afirma que tem estado a concentrar os poucos enfermeiros existentes em áreas críticas, nomeadamente nos Cuidados Intensivos, Banco de Socorros (que é o local de maior pressão – atende até 1100 pacientes por dia), Serviços de Urgência, Pediatria, Medicina e por aí em diante. No que se refere aos médicos, João Fumane referiu que, “em geral, o número é satisfatório e responde àquilo que é o padrão”.
Por Jorge Rungo
jorge.rungo@snoticicas.co.mz

 Fonte: Jornal Notícias - 06.11.2016

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