A Polícia da República de Moçambique disse esta terça-feira que desconhecia a deslocação dos mediadores de paz à Gorongosa, para se avistarem com o líder da Renamo e insistiu que as Forças de Defesa e Segurança podem movimentar-se em todo o país.
"Esta informação [sobre o encontro de mediadores internacionais com o líder do maior partido da oposição] não era do nosso domínio", disse o porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM), Inácio Dina, falando durante a conferência de imprensa de balanço semanal das atividades policiais.
O coordenador da equipa de mediação internacional nas negociações de paz em Moçambique, Mario Raffaeli, deslocou-se à Gorongosa na semana passada para tentar falar com o líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), Afonso Dhlakama, mas o encontro não aconteceu, devido a alegadas movimentações das tropas governamentais no local onde estava prevista a reunião.
"Houve uma forte troca de tiros. Levaram porrada. Eu comecei a ouvir os estrondos a partir daqui e eram 08:00 [07:00 de Lisboa]. Eu Liguei para [Mario] Raffaelli e disse que as Forças de Defesa e Segurança vieram para fazer uma emboscada", declarou Afonso Dhlakama, em entrevista ao semanário Canal de Moçambique.
Raffaeli, mediador indicado pela União Europeia, começou por negar aos jornalistas a tentativa de encontro com o líder da Renamo, mas posteriormente acabou por confirmá-la, embora não tenha visto as movimentações militares alegadas por Dhlakama como causa para o falhanço da reunião, que devia ter decorrido algures na Gorongosa, província de Sofala, a 22 de outubro.
Na conferência de imprensa de hoje, o porta-voz da PRM reiterou que as Forças de Defesa e Segurança "têm mandato para se movimentar em todo o território moçambicano" e que as suas deslocações não podem ser interpretadas como tentativas de emboscadas.
Os últimos dias têm sido marcados pela intensificação da violência contra dirigentes políticos, com os assassínios do chefe da bancada da Renamo na Assembleia Provincial de Sofala e de dois secretários de círculo da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) no distrito de Dondo, também em Sofala.
Sobre estes casos, Inácio Dina disse que investigações estão em curso, à semelhança de outros episódios recentes e sem resultados conhecidos.
"Condenamos este tipo de episódios e estamos a trabalhar para capturar os atores deste tipo de crime", declarou o porta-voz da polícia moçambicana.
A região centro de Moçambique tem sido palco de confrontos entre o braço armado do principal partido de oposição e as Forças de Defesa e Segurança, além de denúncias mútuas de raptos e assassínios de dirigentes políticos da Renamo e da Frelimo.
As autoridades moçambicanas acusam a Renamo de uma série de emboscadas nas estradas e ataques em localidades do centro e norte de Moçambique, atingindo postos policiais, e também de assaltos a instalações civis, como centros de saúde ou alvos económicos.
A Renamo, por sua vez, acusa as Forças de Defesa e Segurança de investidas militares contra posições do partido.
O maior partido da oposição exige governar em seis províncias onde reivindica vitória eleitoral nas eleições gerais de 2014, acusando a Frelimo de ter cometido fraude no escrutínio.
Apesar da violência política, as partes iniciaram negociações de paz, na presença de mediadores internacionais, e que se encontram suspensas até 10 de novembro.
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