....o que aconteceu foi que Feizal Sidat anunciou o que sugeriu ao GCCC, no sentido de o processo voltar para a FMF, para ele ser o juiz-presidente de um caso que envolve o clube de que (ele) é sócio nº1 e os seus irmãos (...) Rafik e Shafi Sidat. Oh, meu Deus, que mundo tão invertido!
C ertamente que o caro leitor do “Exame de Consciência” estranha algo. Com toda a razão, não é normal esta coluna sair sem título, desde 2005. Não se trata de um erro, de esquecimento, nem de mera opção. É que não encontrei palavras adequadas, finas ou grossas, próximas ou distantes do assunto, para qualificar a baboseira de Feizal Sidat, última quarta-feira, em conferência de imprensa organizada para anunciar um suposto acordo entre a Federação Moçambicana de Futebol e o Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC), para que o caso de corrupção desportiva despoletado por Arnaldo Salvado fosse resolvido internamente – pelos conselhos de Disciplina e Jurisdicional da Liga Moçambicana de Futebol (LMF) e da Federação Moçambicana de Futebol (FMF), respectivamente. O título fica para a sugestão do leitor.
Embora reconheça o profissionalismo e isenção de Filipe Johane, António Chambal e Baptista Bonzo, a FMF e o seu respectivo presidente, Feizal Sidat, confundem-se, em semelhança e até em detalhes, com o clube (a Liga) e as pessoas em causa no mesmo processo. Na minha língua materna, há um ditado que diz: A hlampfi yinwe yi bolisa hinkwato (um peixe podre contamina os restantes).
As baboseiras de Feizal Sidat espelham, sem dúvidas, a forma como a máfia desportiva, à semelhança da famosa máfia ciciliana, Cosa Nostra, movimenta a sua cintura no sentido de, por vias políticas ou financeiras, inviabilizar ou destruir os processos. Não tenho mínima dúvida que desde o primeiro dia em que este caso saiu à rua, nunca mais a máfia parou de se movimentar política e financeiramente, aliciando as fontes no sentido de desvirtuar a verdade. Foi sintomática a forma como Feizal “obrigou” os jornalistas a engolir uma tamanha inverdade de que houve acordo para que o caso fosse dirimido ao nível da Liga e da FMF, “justamente” por ser um caso de foro desportivo.
Pouco depois da conferência de imprensa, recebi uma série de chamadas e sms de amigos. Curiosamente, todos manifestavam a mesma preocupação: “a máfia (o sistema) esá a funcionar”; “o GCCC devolveu o processo e libertou a corrupção”. E já havia encontrado o título desta coluna, caso tal fosse verdade: “GCCC libertou corrupção no futebol”.
À hora do fecho, depois de várias reflexões e chamadas, eis que a resposta que, para mim, já não era novidade - porque era o óbvio - cai: não há nenhum processo devolvido. O que aconteceu foi que o GCCC aconselhou a FMF e a LMF a continuarem com trabalhos internos de âmbito desportivo, no sentido de as provas desportivas não ficarem reféns dos resultados do GCCC, pois a investigação deste tipo de casos leva anos, dando exemplo do “Apito dourado” em Portugal, cujo processo iniciou em 2004 e só teve os primeiros resultados em 2008.
“Nós dissemos que este caso é desportivo. Deve juntar-se todo este processo desportivo ainda na LMF, porque esta tem um conselho de disciplina. Se a LMF não conseguir resolver, ou se achar que é um pouco mais delicado, poderá submeter ao Conselho de Disciplina da FMF. Foi isso que eu transmiti à directora da brigada anti-corrupção: que este caso deve esgotar no âmbito desportivo. Depois disso, nós vamos separar o trigo do joio (?). Se houver um caso criminal, nós vamos entregar isto às instâncias competentes. Para o caso desportivo, nós também sabemos como resolver. Devo dizer que nós temos o nosso regulamento disciplinar. Sabemos como actuar. Nós temos essa competência. Foi uma conversa bastante salutar que tive com a directora. Gostaria de saber se (o GCCC) tinha competência ou legitimidade para resolver este assunto. É preciso também saber se há competência e legitimidade da própria brigada anti-corrupção e também se há legislação. A FMF e LMF vão trabalhar para que este caso seja rapidamente encerrado”, disse Sidat. Quer dizer, o que aconteceu foi que Feizal anunciou o que sugeriu ao GCCC, no sentido de o processo voltar para a FMF, de modo a (ele) ser o juiz-presidente de um caso que envolve o clube de que é sócio nº1 e os seus irmãos, ou seja, ele investigaria e acusaria, através de um órgão por si tutelado, e daria a sentença ao seu clube e aos seus irmãos (Rafik e Shafi Sidat). Oh, meu Deus, que mundo tão invertido! Já concordo com a escritora Isabel Ferreira quando diz que “Jesus Cristo devia ser novamente crucificado”.
Sidat disse que “O País” escreveu (quarta-feira) que “eu fui intimado. O que diz o jornal é uma pura mentira. Está aqui o senhor da brigada anti-corrupção que pode dizer que nós não fomos intimados. Aliás, os tais senhores que o jornal ‘O País’ escreve não foram chamados para vir cá e isto é absurdo”. É absurdo, de facto, que o presidente de uma federação cometa um erro de leitura só ao nível de um aluno do ensino primário, ao confundir “chamar” e “notificar”. Em nenhum momento escrevi que Sidat foi notificado. o que escrevi foi que “O GCCC, um órgão da Procuradoria-Geral da República, chamou (...) os representantes da FMF e da LMF, (...) Feizal Sidat e Simango Júnior, respectivamente”. Igualmente, nunca disse que os dirigentes da Liga foram notificados. O que disse foi: “Ao que apurámos, nos próximos dias, serão notificados os dirigentes da Liga Muçulmana citados por Arnaldo Salvado como sendo autores de tentativa de corrupção: Cássimo David, Rafik e Shafi Sidat”. Mais uma vez, Feizal confundiu o futuro do presente.
Na verdade, para Feizal a corrupção desportiva é diferente de outra corrupção, daí a necessidade de uma lei específica. Uma revelação de bradar os céus.
Fonte: O País online - 03.12.2010
Reflectindo: Eu tirei Feizal Sidat do sério desde que em 2008 ele foi para Nampula fazer campanha da Frelimo em nome de Federação Moçambicana de Futebol. Todos esses indivíduos oportunistas e mafiosos vão se desmacarando pouco a pouco.
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