Por: Gento Roque Chaleca Jr., em Bruxelas
“O mundo está estragado! O mundo está cheio de ladrões! A mim, furtaram-me a carta de recomendação que eu trazia para a vida. A culpa foi do porteiro da vida – que me indicou uma porta que não era a porta da minha vida.” – Aguinaldo Fonseca, poeta cabo verdiano.
Depois das revelações “bombásticas” da WikiLeaks, que pesam sobre os dois estadistas moçambicanos, respectivamente, Joaquim Chissano e Armando Guebuza, o governo moçambicano em geral e o partido Frelimo em particular ficam mais órfãos de valores morais. Já o disse noutra “atmosfera da comunicação social” (no Wamphula Fax), não sou de atirar pedras a ninguém, mas quando se está perante uma situação dessa natureza em que os 20 milhões de moçambicanos que somos corremos sérios riscos de sermos catalogados, pelo mundo fora, de filhos de drogados, há que levar o dedo à testa e reflectirmos o tipo de governantes que queremos ter e o futuro que queremos dar ao nosso belo e maravilhoso país.
Diz o povo que “conhece-se a árvore pelo fruto” o que quer dizer, em outras palavras, que somos todos dirigidos por uma barca cujos tripés são sustentados pela droga!
Esta notícia, independentemente de ser ou não verdade, não criou surpresas para muitos dos moçambicanos atentos à condução da barca, até porque as gestas da História de Moçambique têm vários exemplos que ligam o partido Frelimo com o “reino” da droga.
Não é de séculos as imagens pomposas de um empresário da praça, Momed Bachir Suleman (patrão do grupo MBS, o mesmo que em horário nobre, numa televisão pública, desatou lágrimas de crocodilo – atitude que não toma quando os seus irmãos moçambicanos, ‘a porca da sorte’, reclamam por aumentos de salários e são por ele enxovalgados!) a oferecer dividendos do seu “negócio” ao partido Frelimo e, pior, o exibicionismo exacerbado de comprar um cachimbo ao actual chefe do Estado para depois oferecer ao “vendedor”, por um preço que daria para quebrar o jejum dos nossos patrícios cujo estômago não conhece cardápio apreciável senão a eterna dieta de ratos e tubérculos arrepiantes. Isto é demais!
O que é que os políticos não fazem quando querem ludibriar o povo? Nessa altura o nosso irmão Bachir era uma espécie de empresário de sucesso (que se recomendava).
Era a bússola. “Os caminhos da perdição são bonitos e promissores, apenas no início. Mas a colheita é tão infrutífera como amarga.”
Bachir levou o partido Frelimo à sarjeta. A WikiLeaks vem provar exactamente isso: de facto, na vida, há amizades coloridas, mas até durar a primavera! O caso de Bachir nos permitiu recuar no tempo e no espaço e visitar tantos outros processos que flutuam nos arquivos mortos dos nossos tribunais. Nossos não, deles…
Este caso, parecendo que não, corre o mundo. Quantas vezes (amigos do mundo inteiro) quiseram saber de mim mais esclarecimentos sobre este caso?
Questionam, por exemplo, a integridade de Joaquim Chissano (mas não a bitola da sua diplomacia) e se Armando Guebuza (não questionam a sua poesia, esta, sejamos honestos, é “maningue fixe”) teriam ambos estofo para digerir esta notícia e colocar a barca a andar para a frente?
Portanto, não basta um simples comunicado de imprensa (lido por terceiros) que pode apaziguar a onda de suspeitas e de suposições que pesam sobre os dois estadistas. É necessário, porém, que sejam os visados, somente eles, a se pronunciarem sobre o caso.
Uma coisa é Joaquim Chissano e Armando Guebuza, a outra é aquilo que eles representam para o país. Para muitos, verdade seja dita, constituem um farol. Por isso mesmo aconselho que guardem os princípios do Direito nas gavetas (a velha máxima de que cabe ao acusador provar a acusação e não o acusado à inocência). Em política não se brinca, é preciso estar sempre em alerta máximo. De qualquer modo, acho que um Conselho de Estado ou uma comunicação à Nação seria um bom antídoto para, no caso de vir a ser um boato, evitar a propagação da chama.
Em todo o mundo a WikiLeaks anda a destruir: “lares”, “velhas amizades”, “relações fraternas”, etc, dirão alguns. Sim. Mas do que acusar a WikiLeaks de ser uma ‘vuvuzela intraquilizadora’ do momento, é fundamental perceber também que não há segredos absolutos. Tudo quanto fazemos na vida é uma arqueologia. Até partirmos para o outro reino (lá onde Lúcifer, Judas e Caim são alvos de julgamentos eternos) somos todos alvos de constantes observações quer por Deus, quer pelos insaciáveis investigadores (curiosos das letras).
Seja-me permitido um desabafo: nas palestras com os meus sobrinhos, socorrendo-me de uma frase de Bobo Keita, procuro transmitir-lhes a seguinte mensagem: “Um homem deve ter princípios que é fundamental: é preferível viver na miséria, mas com dignidade, porque, ao fazê-lo, o seu próprio adversário acabará por reconhecer um dia o seu valor”.
Fonte: O AUTARCA – 16.12.2010
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