Abidjan, - O presidente da Côte D'Ivoire, Laurent Gbagbo parece firme em sua posição de conservar o poder, neste domingo, reagiu à ameaça de intervenção dos países vizinhos afirmando que qualquer tentativa de derrubá-lo provocará uma guerra civil e denunciou um complô da França e dos Estados Unidos para afastá-lo do poder.
Em entrevista à edição eletrônica do jornal Le Figaro, Gbagbo também declarou que as ameaças africanas de intervenção militar em seu país devem ser levadas a sério, mas questionou principalmente a atuação dos embaixadores da França e dos Estados Unidos nos dias seguintes à polêmica eleição de 28 de novembro.
"Eles foram buscar Youssouf Bakayoko, o presidente da Comissão Eleitoral Independente, para conduzi-lo ao Hotel do Golf, que é o quartel-general de meu adversário" (Alassane Ouattara, reconhecido vencedor pela maioria da comunidade internacional), afirmou Gbagbo.
"Então nos inteiramos de ele disse a uma televisão que meu adversário havia sido eleito. Durante esse tempo, o Conselho Constitucional trabalhava e disse que Laurent Gbagbo foi eleito", contou.
"A partir daí, franceses e americanos disseram que foi Alassane Ouattara (que venceu as eleições). Tudo isso é o que chamamos de complô", afirmou.
Na próxima terça-feira, três presidentes africanos visitarão Abidjan em uma última tentativa de convencer Gbagbo, de 65 anos, a ceder o poder a Alassane Ouattara, que venceu as eleições de 28 de novembro. Caso isto não aconteça, o próximo passo das potências regionais pode ser uma intervenção militar.
Gbagbo, que alega ser o verdadeiro vencedor do pleito presidencial, parece irredutível em sua posição, e recusa-se a entregar o poder ao rival Ouattara - cujo triunfo nas urnas foi reconhecido pela ONU e pela comunidade internacional.
Partidários do presidente, entretanto, inverteram a situação, afirmando que uma eventual intervenção dos países africanos para tirar Gbagbo do poder será o estopim da guerra civil.
Ahoua Don Mello, porta-voz do regime, declarou que a ameaça lançada pela Comunidade Econômica dos Estados da África do Oeste (CEDEAO) de recorrer à força para tirar Gbagbo do poder é "um complô ocidental coordenado pela França", e disse que se esta intenção for concretizada, não se responsabiliza pela segurança dos milhões de imigrantes regionais que vivem neste país.
Mello afirmou "não acreditar de forma alguma" em uma intervenção militar na Côte D'Ivoire, justamente por haver milhões de cidadãos de outros países da África ocidental trabalhando nas lavouras de cacau do país.
"A Côte D'Ivoire é um país de imigrantes", argumentou. "Todos estes países têm cidadãos na aqui, e eles sabem que se nos atacarem o conflito se tornará uma guerra interna".
"Será que o Burkina Fasso está pronto para receber de volta os três milhões de habitantes que migraram para a Côte D'Ivoire?", indagou.
"O povo ivoirense irá se mobilizar. Isso aumenta nosso patriotismo. Isso fortalece nossa fé no nacionalismo marfinense", indicou Mello, que ocupa a pasta de Infraestrutura e Saneamento no ministério de Gbagbo.
"Estamos sempre abertos ao diálogo, mas dentro do respeito rígido às leis e regras da República", acrescentou.
O secretário-geral da ONU Ban Ki-moon e vários líderes mundiais já alertaram Gbagbo de que sua teimosia pode levar o país a uma nova guerra civil.
O governo britânico exigiu que Gbagbo abandone o poder e deixe que seu adversário Alassane Ouattara assuma o controle do país a fim de permitir uma transferência política pacífica.
"O Reino Unido está profundamente preocupado com a crise política atual e com os riscos sérios de instabilidade", afirmou o ministro das Relações Exteriores, William Hague.
A pedido de Ouatarra, a França requisitou à Suíça que bloqueasse o avião oficial de Gbagbo que se encontrava no aeroporto de Basileia-Mulhouse para uma revisão técnica.
Apesar dos dez anos de crise, este país ainda é uma economia importante na região. O país exporta mais de um terço do cacau consumido no mundo e mantém uma pequena, as promissora produção de petróleo, além de operar dois dos principais portos da região.
Em um comunicado divulgado após o fim da cúpula, a CEDEAO declarou que, diante da resistência de Gbagbo, "a comunidade não terá alternativa a não ser tomar outras medidas, incluindo o uso legítimo da força, para alcançar os objetivos do povo marfinenses".
Além disso, o Banco Central dos Estados da África Ocidental excluiu o atual presidente da administração das contas do país, entregando esta função a Ouattara.
Também a União Africana manifestou-se a favor da possa de Ouattara, deixando Gbagbo completamente isolado.
O Alto Comissariado da ONU anunciou no sábado que 14.000 marfinenses já fugiram do país para a vizinha Libéria, com medo da instalação de um novo conflito.
Ouattara e seus partidários continuam isolados em Abidjan, fortemente ocupada pelas forças leais a Laurent Gbagbo. O grupo é protegido por 800 soldados da missão de paz da ONU, mas está tecnicamente encerrado em um hotel da capital.
Fonte: Angolapress - 27.12.2010
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