CRÓNICA
Por: Gento Roque Cheleca Jr., em Bruxelas
Cada tempo histórico possui o seu manifesto político. É preciso compreender os sinais do tempo, pois nem todas às tocas são esconderijos de ratos, ‘Andjovu’, antigo combatente da Luta de Libertação Nacional
O termómetro não pára de demonstrar por (A+B) que a febre do País, ao contrário do que disse muito recentemente o chefe do Estado, Armando Guebuza, no seu informe à Nação, é alta e requer cuidados intensivos. Não tardou muito para que a bala saísse pela culatra, ao ouvirmos que a Universidade Eduardo Mondlane (UEM) decidiu, na segunda sessão ordinária do Conselho Universitário realizada no passado dia 16 de Dezembro, agravar as taxas de propinas em mais de 400 porcento.
Até onde sei, é que as propinas foram criadas essencialmente para responder a necessidades específicas das universidades, como é o caso, por exemplo, dos problemas sociais ligados às próprias universidades e não para pagar salários e outras despesas afins das universidades (entenda-se aqui universidades públicas). Para isso existe o Orçamento Geral do Estado. Devido ao desfasamento entre a Lei do Ensino Superior e os interesses do dia, na minha modésta opinião, é que o ensino superior no País virou candonga e as consequências desse descompasso, aparecem agora às carradas e à vista de todos. O caso da UEM é apenas uma “ponta de icebergue” numa fauna de vários casos camuflados. Carne pobre não se esconde por muito tempo, cedo ou tarde virá à tona.
Não tardará muito para que (o diabo seja surdo e mudo) o País volte a conhecer momentos de crispação social, uma hemorragia sempre difícil de conter. O ano está prestes a terminar, acredito que o presidente da República, querendo, ainda pode emendar no seu informe anual a “memorável” frase segunda a qual “o Estado Geral da Nação está no bom caminho.” Os políticos podem tudo, desde que a emenda não os prejudique e, acima de tudo, não cesse às refeições em suas casas. É uma questão de preceitos, valores que dificilmente fazem parte da “ementa moral” dos políticos.
Desde há algum tempo a esta parte que o Governo parece baloiçar num daqueles baloiços de infantário de órfãos, que precisam, quase sempre, de outro alguém para puder ganhar balanço (alturas altas). Sem “txovas” de terceiros, aqueles malditos baloiços não vão longe. É a desgraça de ser órfão num país órfão de políticas sociais. Mesmo quando estão em movimento, ao contrário de outros baloiços, criam ferrugem e, portanto, não são confortáveis para as nossas crianças.
Quando não são problemas dos freios (quase os “imortaliza”, ali, no infantário) a objectos de museu, é a sirene dos bombeiros que tem de vir, às pressas, para a emergência da tragédia. Para um bom entendedor, meia palavra basta.
- Que o 2011 seja melhor para o País do que foi o ano de 2010 e que traga, acima de tudo, um bom baloiço. E não nos venham com promessas de descobertas de petróleo, de ouro, de diamantes, de tesouros perdidos, quando na verdade, na prática, isso não passa de contos de fada.
Já dizia o poeta que “a enunciação da morte é pior do que a própria morte”.
Quantas vezes não esfregamos as mãos, embalados pelas promessas suculentas do amanhã, ou seja, de um futuro melhor que tarda em chegar? Portanto, guarde-se as promessas para o tempo de campanha, altura em que os políticos se transformam em mágicos por excelências: prometem chuvas no verão e calor intenso no inverno.
E mais: prometem baixar ou aumentar as temperaturas caso vençam as eleições.
- Que o 2011 seja o ano de expurgar os “resíduos tóxicos humanos” que pululam e abundam feitos adamastores da razão.
Andam por aí, no Governo e também na oposição, indivíduos cujo raio de pensamento não vai para além dos interesses pessoais. Passam a vida a inventar reuniões e a produzir relatórios cuja utilidade técnica é de todo evasivo, aliás, compara-se com o próprio pensamento do dia: “o cabrito come onde está amarrado”. Acabaram-se com os ‘ChicoNhocas’, mas surgiram tantos gorilas. São piores do que um só ‘tiriricas’ que, mesmo sabendo ler e escrever, não sabem tomar decisões. É só os chefes tocarem o apito para logo de seguida aparecerem em catadupa. Felizmente alguns deles já foram “saneados da praça” e respondem agora em julgamento. Nem mesmo os “desmaios em carradas” invocando estado de inocência, os iliba da prisão.
- Que o 2011 seja o ano de “enterrar o passado”: as manifestações de 1 e 3 de setembro devem ser resguardadas (o que não quer dizer, em minha modesta opinião, que devamos esquecer as lições do passado, nada disso); que o caso do barão da droga seja depositado no banco do passado (temos que aprender a perdoar, por muito que isso nos custe); que as revelações da WikiLeaks sejam enviadas à Lúcifer no quinto dos infernos (mas não devemos, idem, ser complacentes à droga); que o caso dos helicópteros presidenciais seja adormecido (para não desmoralizar a quem nos governa), enfim, é preciso captar novas energias e sinergias e lançar novas redes de franco desenvolvimento modo a que todos aqueles que tombaram (e os que ainda tombam e tombarão pela causa nacional) tenham orgulho da Nação que os acolheu do ventre da mãe. Não há melhor presente que ser filho da sua Pátria.
- Em relação a Nampula, espero que o 2011 faça ressuscitar dos escombros as fábricas tombadas durante as guerras: de libertação nacional, civil e a mais perigosa de todas elas: a guerra contra os roedores das coisas públicas. Fica aqui este apelo ao executivo de Felismino Tocoli (conheço-o, homem bastante culto, mas rodeado de “veteranos insaciáveis”) não basta tocar trombone e vuvuzelas contra os corruptos ou prometer acabar com a estiagem se não acabar com dois problemas crónicos de Nampula: primeiro, remodelar o seu executivo e fazer descansar os cansados. Não se pode ganhar as guerras de hoje com pessoas que ainda pensam como se estivessem no paleolítico inferior. Há “Gente” que ocupa cargos executivos desde a independência nacional em 1975, caíram na rotina e não são capazes de ver o erro e, pior, fazem teias de aranhas (ilhas) para que ninguém os substitua (um pouco à semelhança de Cabo Delgado); segundo (é mesmo pessoal) apostar mais nas áreas das artes, da cultura e do turismo. Nampula é das províncias do país que poderia viver sem donativos, sem ajudas suplementares, porque é toda uma geografia de potencialidades. A aposta seria nas das novas tecnologias de informação e comunicação (TICs), um instrumento que é pouco usado, porque a nível do governo provincial há “leprosos” em matéria das TICs. As TICs ligam distâncias onde a estrada não chega e vence barreiras seculares.
Finalmente uma última palavra ao WamphulaFax: que o ano de 2011 traga ao vosso jornal um espaço reservado a entrevistas com as mais diversas figuras do país e de Nampula em particular. É preciso trazer à ribalta vozes que, sem dar muito nas vistas, não se cansam de fazer o bem por Nampula, nessa província onde fui recebido e hospedado como filho da terra que regressava à casa depois de longos anos de ausência, portanto, não encontro aqui palavras para expressar o meu profundo agradecimento a esse airoso povo. Continuem assim, WamphulaFax, a fazer com que o mundo passe todos os dias pelo vosso jornal, porque vos também sois o mundo, com todas as qualidades jornalísticas que vos é reconhecida. Boas festas e até o próximo ano de 2011, se Deus quiser. ‘kochikuro’ (obrigado).
WAMPHULA FAX – 30.12.2010
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