Abuja, Nigéria (PANA) – Os líderes da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que realizam sexta-feira a sua segunda cimeira extraordinária sobre a Côte d'Ivoire em um mês, têm poucas opções à sua disposição para pôr termo à degradação da situação neste país em crise, segundo analistas.
Durante a sua primeira cimeira extraordinária em Abuja (Nigéria), a 07 de Dezembro último, os chefes de Estado da CEDEAO suspenderam a Côte d'Ivoire e exprimiram o seu apoio a Alassane Ouattara, declarado vencedor da segunda volta das eleições presidenciais de 28 de Novembro pela Comissão Eleitoral Independente (CEI) diante do Presidente cessante, Laurent Gbagbo, cuja vitória foi declarada pelo Conselho Constitucional.
Estas são as sanções mais fortes que podiam ser impostas à Côte d'Ivoire no quadro do Protocolo Adicional da CEDEAO sobre democracia e boa governação.
Quando os dirigentes da África Ocidencal se reunirem no salão presidencial do Aeroporto Internacional Nnamdi Azikiwe em Abuja, sexta-feira, quais outras medidas poderão tomar para obrigar Laurent Gbagbo, insensível à pressão da maioria da comunidade internacional, a deixar o poder ?
« Talvez poderão impor um embargo militar à Côte d'Ivoire no quadro dos esforços para pressionar Gbagbo, mas é pouco provável que tal medida tenha um impacto imediato sobre Gbagbo e lhe obrigue a abandonar o poder », declarou à PANA em Abuja sexta-feira um analista dos assuntos internacionais.
« Mas a medida mais eficaz atualmente será o uso da força, como pediu o primeiro-ministro de Ouattara, Guillaume Soro, mas quem tomará a iniciativa ?", interrogou-se este analista.
Interrogado se os chefes de Estado da CEDEAO pretendiam o uso da força para fazer partir Gbagbo e instalar Ouattara, que tem igualmente o apoio da União Africana (UA) e das Nações Unidas, o porta-voz da Comissão da CEDEAO, Sunny Ugoh, declarou que não havia nenhum plano neste sentido.
« Não tenho nenhuma informação sobre este projeto ( o uso da força), mas é preciso esperar para ver o que os dirigentes vão decidir hoje (sexta-feira) », declarou Ugoh.
Mas, o porta-voz reconheceu que a CEDEAO tinha a autoridade de impor um embargo militar à Côte d'Ivoire.
A PANA soube que os Estados Unidos consultaram os chefes de Estado da CEDEAO sobre a possibilidade de reforçar a Operação das Nações Unidas na Côte d'Ivoire (ONUCI), que conta atualmente 10 mil homens, para fazer mais pressão sobre Gbagbo e obrigá-lo a partir.
Um analista militar nigeriano declarou que parecia que a potência regional (a Nigéria) era objeto de pressões para desdobrar tropas na Côte d'Ivoire e levar a cabo um eventual golpe de força contra Gbagbo, mas esta informação não foi confirmada.
Embora a Casa Branca tenha reconhecido quinta-feira que o Presidente americano, Barack Obama, apelou o seu homólogo nigeriano, Goodluck Jonathan, para o felicitar sobre o papel de líder da Nigéria - que ocupa presidência rotativa da CEDEAO - na gestão desta crise, nada filtrou sobre um eventual desdobramento de tropas.
Mas, analistas indicaram que cabia à ONU, que tem tropas no terreno, conduzir um eventual uso da força para fazer Gbagbo abandonar o poder.
« O Conselho de Segurança da ONU, que tem a responsabilidade de manter a paz e a segurança internacionais, reexaminou prudentemente o mandato da ONUCI para que ela possa operar nos termos do Capítulo 7 (que autoriza o uso da força, se necessário, para a manutenção da paz e da segurança internacionais) », afirmaram.
« Contudo, cabe à ONU, que tem tropas no terreno, a tomar as medidas necessárias para obrigar Gbagbo a partir », declararam, acrescentando que o tempo era curto, tendo em conta a degradação da situação na Côte d'Ivoire, país da África Ocidental primeiro produtor mundial de cacau.
A comissária adjunta das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Kyung-wha Kang, revelou terça-feira que pelo menos 173 pessoas foram mortas durante as violências desde as eleições ivoirienses.
Quinta-feira, a ONU anunciou que houve pelo menos 471 detenções entre 16 e 21 de Dezembro e pelo menos 90 pessoas foram torturadas ou tratadas de maneira desumana, enquanto 24 outras desapareceram.
Esta situação faz recear que a crise pós-eleitoral possa desencadear uma guerra civil como a de 2002-2003.
Fonte: Panapress - 24.12.2010
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