A Côte d'Ivoire corre o risco de conhecer um outro conflito enquanto o Presidente censsante, Laurent Gbagbo, se prepara para prestar juramento este sábado para um novo mandato e o líder da oposição, Alassane Ouattara, também foi declarado vencedor da segunda volta das eleições presidenciais de 28 de Novembro.
Este país da África Ocidental mergulhou sexta-feira na confusão e na incerteza quando o Conselho Constitucional anulou a vitória de Alassane Ouattara proclama pela Comissão Eleitoral Independente (CEI) e declarou o Presidente Laurent Gbagbo vencedor.
Após 24 horas de suspense, o maior produtor mundial de cacau, onde uma guerra civil que começou em 2002 dividiu o país em dois após o controlo pelos rebeldes do norte do país, viu dois presidentes proclamados por duas instâncias diferentes.
O presidente da CEI, Youssouf Bakayoko, sob alta segurança num hotel de Abidjan, declarou quinta-feira o veterano político Alassane Ouattara vencedor do escrutínio com 54,1 porcento dos votos.
No entanto, o Conselho Constitucional, que valida os resultados das eleições, anulou os resultados da Comissão Eleitoral em várias regiões chaves do norte, feudo de Alassane Ouattara, e proclamou o Presidente Laurent Gbagbo vencedor com 51,45 porcento dos votos.
O presidente do Conselho Constitucional, Paul Yao N'Dre, e aliado de Laurent Gbagbo, disse que irregularidades nestas circunscrições do norte justificaram a invalidação dos resultados.
No entanto, a Missão das Nações Unidas na Côte d'Ivoire discorda do presidente do Conselho Constitucional.
O representente especial das Nações Unidas na Côte d'Ivoire, Yong Jim Choi, disse que após a validação dos resultados em todas as 20 mil assembleias de votos, concluiu-se de Alassane Ouattara era o vencedor.
Explicou que mesmo considerando os pedidos de anulação de Laurent Gbagbo, Alassane Ouattara continuava a ser o vencedor.
Adiantou que após ter ido à fonte do voto, analisado todos os boletins das 20 mil assembleias de votos e verificado um por um graças a vários métodos, concluiu-se que todos confirmavam a vitória de Alassane Ouattara. "Tenho apenas uma convição, é que após os apuramentos apenas há um vencedor que é Alassane Ouattara".
Entretanto, em plena noite, a televisão anunciou que o Presidente Laurent Gbagbo, no poder há 10 anos com o apoio do Exército e da Gendarmaria, prestaria juramento neste sábado ao meio-dia (TUC).
Este anúncio suscitou uma viva reação de Alassane Ouattara, que anunciou igualmente a vitória do seu campo e advertiu que a atitude do Presidente Laurent Gbagbo era uma fonte potencial de caos e de conflito.
Esta situação confusa coloca a Côte d'Ivoire em confronto direto com as Nações Unidas e a comunidade internacional, que investiram importantes recursos humanos, financeiros e materiais para reconciliar o país e que consideravam esta eleição como um ponto final do roteiro. Um total de 400 milhões de dólares americanos foram consagrados ao processo eleitoral ivoiriense.
As autoridades ivoirienses advertiram o representante especial das Nações Unidas a propósito das suas declarações e ameaçaram expulsá-lo.
Elas indicam que a ONU não tem o direito de declarar o vencedor duma eleição, sublinhando que na Côte d'Ivoire apenas um órgão está habilitado a declarar os resultados eleitorais – nomeadamente o Conselho Constitucional - e que declarou o Presidente Laurent Gbagbo vencedor.
A União Africana (UA) e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidenta (CEDEAO) apelaram as duas partes à contenção.
O Presidente da Autoridade dos Chefes de Estado da CEDEAO, o Presidente nigeriano Goodluck Jonathan, disse sexta-feira estar "muito preocupado" com a situação e convidou todas as partes presentes a respeitarem plenamente o veredito do povo ivoiriense.
O Presidente Jonathan explicou que a CEDEAO e a comunidade internacional esperam de todos os atores envolvidos, nomeadamente do Governo atual, a sabedoria política necessária para respeitar a vontade popular manifestada pela Comissão Eleitoral Independente.
Convidou igualmente os dois candidatos, Alassane Ouattara e Laurent Gbagbo, a pedirem aos seus partidários para se acalmar e abter de qualquer ação que faria recuar os progressos no quadro do processo democrático.
O Exército fechou quinta-feira as fronteiras terrestres, marítimas e aéreas do país até nova ordem e os canais de informação internacionais da cadeia francesa Canal + foram suspensos na noite de quinta-feira pelas autoridades ivoirienses, que os acusaram de divulgar os resultados da segunda volta do escrutínio.
Num comunicado lido na noite de quinta-feira na televisão nacional, as autoridades pediram aos responsáveis do canal privado Canal + Horizons para suspender os canais da televisão francesa do seu pacote na Côte d'Ivoire.
A tensão continua a subir enquanto os partidários de Alassane Ouattara com raiva queimam pneus nas ruas de Abidjan e os partidários de Laurent Gbagbo festejam.
Fonte: panapress - 04.12.2010
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