domingo, dezembro 05, 2010

BBC para África sobre a crise da Costa do Marfim

Thabo Mbeki na Costa do Marfim para mediar crise

Ex-presidente da África do Sul é visto como próximo de Gbagbo
O ex-presidente sul-africano Thabo Mbeki chegou este domingo à Costa do Marfim com vista a mediar um fim para a crise política no país após as eleições presidenciais da semana passada.
O presidente Laurent Gbagbo e o candidato da oposição Alassane Ouattara declararam-se ambos vencedores das presidenciais e tomaram posse no sábado em cerimónias separadas.
A confusão foi criada após o Conselho Constitucional do país ter alterado na quinta-feira o resultado anunciado pela Comissão Eleitoral Independente, que havia dado a vitória a Ouattara, com 54% dos votos.
Thabo Mbeki foi enviado à Costa do Marfim enquanto representante da União Africana, que avisou que a crise no país poderia ter "consequências incalculáveis".
A Costa do Marfim tenta recuperar da destruição provocada pela guerra civil entre 2002 e 2007.

Comunidade internacional

Ouattara tem o apoio da comunidade internacional, que pede a Gbagbo que aceite a derrota.
A ONU, os Estados Unidos, a França e o bloco de nações do oeste africano CEDEAO estão entre os que manifestaram apoio aos resultados anunciados pela Comissão Eleitoral Independente.
No entanto, no seu discurso de empossamento, Gbagbo, acusou a comunidade internacional de estar a interfer nos assuntos do país e alegou estar defender a soberania nacional.
Gbagbo, que tem o apoio do exército e controla os meios de comunicação do país, governa o país desde 2000.
Apesar do seu mandato ter terminado em 2005, as eleições presidenciais foram sendo adiadas sob o argumento de que não havia segurança para a sua realização.

Contenção

Num comunicado, a União Africana rejeitou "qualquer tentativa de criar um facto consumado ao ignorar o processo eleitoral e a vontade do povo".
O grupo pede que todos os envolvidos "mostrem a contenção necessária e evitem tomar acções que possam exacerbar a já frágil situação".
Mbeki, que quando era presidente da África do Sul ajudou a mediar um acordo de paz para pôr fim à guerra civil na Costa do Marfim, desembarcou no aeroporto da capital, Abidjan, na manhã deste domingo.
Mas, a sua presença gera desconfiança na oposição marfinense, que o vê demasiadamente próximo a Gbagbo.
O correspondente da BBC em Abdijan, John James, diz que é difícil ver qualquer abertura para a mediação de Mbeki, já que ambos os candidatos se mostram inflexíveis nas suas reivindicações de que venceram a eleição.
O temor no país é de que se não houver um acordo entre os dois, os grupos rebeldes do norte do país que apoiam Ouattara reiniciem a guerra civil em protesto.

Fraude

Durante a cerimónia de posse no início da tarde de sábado, Gbagbo voltou a repetir as acusações de fraude que levaram o Conselho Constitucional a rejeitar milhares de votos do norte do país e declará-lo vencedor.
"Vocês pensam que podem enganar, encher as urnas e intimidar os eleitores e que o outro lado não vai ver o que está a acontecer", disse Gbagbo.
Ele disse ainda ter notado "casos graves de interferência" nos últimos dias, numa referência às manifestações de apoio internacional a Ouattara.
“Nós não pedimos a ninguém para vir administrar o nosso país. A nossa soberania é algo que eu vou defender”, afirmou.

Crise

Poucas horas depois, Ouattara, um ex-primeiro-ministro proveniente da região predominantemente muçulmana do norte do país, tomou posse numa cerimónia num hotel de Abidjan protegido por soldados das forças de paz da ONU.
Ele afirmou que a eleição foi "histórica" e que estava orgulhoso, mas que os últimos dias tinham sido "difíceis".
"Mas isso é só um episódio breve. Quero dizer-vos que a Costa do Marfim está agora em boas mãos", disse.
Ouattara renomeou o primeiro-ministro Guillaume Soro para o cargo.
Soro havia pedido a sua demissão horas antes.

Violência

O primeiro-ministro, que é chefe de um grupo rebelde do norte do país, advertiu que a alteração dos resultados eleitorais ameaça as tentativas de estabilizar e reunificar o país após a guerra civil de 2002.
A crise política gerou protestos nas ruas de Abidjan e de outras cidades. Pelo menos quatro pessoas já morreram nos confrontos em Adidjan esta semana.
A Costa do Marfim também ordenou o encerramento das suas fronteiras e suspendeu a transmissão de notícias de meios internacionais ao país, além de estabelecer um toque de recolher noturno.

Fonte: BBC para África - 05.12.2010

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