Por Adelino Buque
Por aquilo que se escreveu nos vários jornais da praça com tendências diversificadas, sobre a não saída do presidente cessante da casa protocolar consignada ao presidente da AR, penso que seria altura de o Dr. Eduardo Mulémbwè ponderar sobre a sua vida pública. É verdade que durante os longos quinze anos, desempenhou, e bem, a função de presidente da Assembleia da República, isso não está em questão. está, sim, o seu comportamento individual no período pós-presidência. a sociedade moçambicana não pode estar refém de uma gestão pouco conseguida da vida privada dos seus dirigentes. dirigir uma instituição é uma actividade efémera; os dirigentes devem ser capazes de lidar com a vida pós-dirigismo. Pode não ser o caso, mas parece que o Dr. Eduardo Mulémbwè não está a conseguir gerir a vida pós-presidência da Assembleia da República, o que é grave. na verdade, transmite uma mensagem desagradável à juventude. Se como presidente da Assembleia da República teve um bom desempenho, todo esse mérito será absorvido por esta “guerra” sobre a casa que, definitivamente, hoje é pertença da nova titular da AR, a também mulher de méritos Dra. Verónica Macamo Ndlovo. Aliás, uma mulher que o coadjuvou na presidência da Assembleia da República, e que hoje ascendeu à presidência.
No lugar de facilitar a sucessão, parece estar decidido a enfernizá-la! Pelo menos é a imagem pública da questão, porque, ao que parece, não estava nada preparado para deixar a cadeira de presidente da Assembleia da República. e aqui, muitas vezes, mobilizam-se artifícios inimagináveis, que passam pela interpretação subjectiva de cada um.
Nesta “guerra” sobre a casa, existe um dado que, a meu ver, parece estar a ser descurado. qual é o papel do partido Frelimo na persuasão do seu quadro para que não “achincalhe” a sua imagem por causa de uma simples casa! Será que, a nível interno, o partido Frelimo não poderia encontrar uma forma de chamar à razão o seu membro sénior, ou haverá razões bastantes para que a imagem de Mulémbwè se coroe o máximo possível?
Partido à parte, será que Mulémbwè não tem amigos de café, confidentes a quem se possa aconselhar sobre este assunto? ou será que todos preferem vê-lo no chão, como dizem os nossos amigos brasileiros. para agravar a situação, a AR anunciou a aprovação de uma verba para mobilar a futura casa do ex-presidente. que interesse tem essa informação para o público, numa altura em que meio mundo condena Mulémbwè por não sair da casa e cedê-la a Verónica Ndlovo?
Será mais um pouco de pimenta! Escrevo este artigo inspirado no que vi na terça-feira, por volta das 7h45, na Portagem de Maputo, com os batedores da polícia a se insurgirem contra os automobilistas, como se aqueles tivessem culpa de coincidirem com Sua Excia. Na passagem pela portagem, para a minha felicidade, fazia o trajecto contrário, Maputo-Matola. aquilo que era um autêntico embaraço para alguns, era um autêntico espectáculo para mim.
Um polícia até deixou a mota para levantar a cancela da portagem que funciona automaticamente após o pagamento do dinheiro. Vi aquilo e pensei nas pessoas que, por azar ou felicidade, coincidem de forma sistemática com a escolta da presidente da Assembleia da República. Enquanto olhava para aquela cena toda, veio-me à memória que aquilo acontece porque Mulémbwè não deixa a casa protocolar, e a AR não consegue uma intermédia. Mas intermédia porquê, se Mulémbwè já não é presidente da AR? Eu, porque estimo o Dr. Eduardo Mulémbwè, aconselho-o a deixar o mais rapidamente possível a casa que ocupa, que é pertença da AR, a favor da nova titular, ainda que tenha de viver numa modesta “flat” alugada, que existem nesta cidade aos montes. recursos não lhe faltarão, senão seremos obrigados a considerá-lo péssimo gestor. foram quinze anos de presidência da AR, com direito a todas as mordomias, justamente, e claro, terá poupado algum, ou não? Definitivamente, algo está errado, neste cenário todo...
Fonte: O PAÍS online – 27.05.2010
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