Editorial SAVANA
Independência ano 35
35 anos na vida humana são, claramente, capital adquirido em maturidade e experiência.
Não é assim na vida dos países e das nações.
Por isso Moçambique é um país muito jovem. Para se ser mais exacto, gatinha ainda.
As suas instituições são débeis, os processos organizativos estão a meio caminho. No questionamento da herança, nas experiências que se puseram de lado, na coragem do por em causa e do recomeçar de novo.
Os mulheres e os homens de que o país é feito passam também por estes processos. E é natural que as curvas e contra-curvas provoquem interrogações e perplexidades.
Dos levantados do chão promovidos à categoria de humanos com direito à palavra. Dos que compraram o sonho igualitário de um país novo cheio de utopias de paraíso da terra.
Dos esventrados por guerras e disputas que deixaram as famílias exangues, exaustas e exasperadas.
Dos crentes e levados à crença do deus mercado, do percurso circular ao ponto de partida sem o algoz colono. Mas com outros algozes, também para aqueles que nasceram depois de 1975, que do passado têm de recorrer à memória dos outros.
35 anos são um corolário de sinuosidades.
Felizmente para todos, o percurso escreve-se hoje com várias cores e matizes. Embora haja um coro de convictos que tentam vender óculos, lentes e binóculos para que todos vejamos a realidade da mesma maneira, as marcas que carregamos connosco não nos permitem ver assim. E de cada certeza que nos anunciam, cultivamos as nossas dúvidas e resistências.
Se nos tentam calar com os números da educação massificada, devemos questionar a qualidade do ensino, dos métodos de aprendizagem, da qualidade e condições dos professores, dos formandos que queremos habilitados para enfrentar o mercado do emprego e do trabalho.
Se nos dizem da medicina para todos, devemos ripostar com o olhar crítico às bichas nos centros de saúde que pagam a preços de mercado fixados pelo próprio Estado que clama despudorado igualitarismo.
Se a habitação agora é que vai ser, devemos questionar a preguiça em pensar por cima de uma parque imobiliário herdado do colono e que permitiu o balão de oxigénio a que se chamou venda de chaves, para alavancar as novas urbanizações à volta das cidades tradicionais.
Se nos dizem que nos devemos todos agarrar à bandeira da unidade nacional, devemos com a mesma energia refutar chauvinismos e velhas fobias exigindo a pedagogia que nos foi transmitida por Samora, para com sucesso afastar a divisão que os nossos invernos de carências e assombrações nos espreitam a cada esquina, a cada dia que saímos à luta para cimentarmos o barro de sermos país e nação em construção.
35 anos são também 20 anos de multipartidarismo e liberdades individuais.
No amanhã que queremos, não cabem as visões estreitas, feitas apenas de slogans e cartões vermelhos de acesso directo à grande caverna de Ali Babá Das siglas e emblemas que ditam exclusores e excluídos.
A unidade nacional que alimenta marchas simbólicas e orçamentos faraónicos no reverso da mão estendida à solidariedade internacional, a unidade deve ser cultivada nas capacidades de todos e de cada um de nós que quer um país diferente, avançado, moderno.
Para isso temos de fazer um pacto. Um exorcismo contra as velhas crenças que nos continuam a dividir e nos atrasam nas nossas ambições.
O nosso pacto na diversidade é pelo desenvolvimento e pela prosperidade.
Um pacto em que os moçambicanos sejam todos sujeitos e que acreditem de novo, como acreditaram em 1975, que este é um país de todos e para todos.
Fonte: SAVANA - 25.06.2010
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