O Conselho de Ministros formou uma comissão de alto nível
com mandato para investigar a ocorrência ou não da violação dos direitos
humanos. A esta atitude do Governo alguns chamaram de juiz em causa própria,
mas, acima de tudo, mostra o seu distanciamento de tais actos, por isso,
independentemente de a Human Rights ter “convidado” o Governo a investigar,
ele, o Governo, agiu na certa ao criar a tal comissão para apurar os factos no
terreno. Provavelmente, não tenha sido feliz na indicação das personalidades
que transformaram o seu mandato num acto de “publicidade” e de demonstração de
“serviço”, quanto a mim dispensável. Igualmente, isto na minha opinião, não
terá sido feliz ao indicar pessoas de ministérios directamente relacionados com
as actividades a investigar no terreno, como foi o Interior e Justiça. Esta era
uma missão para titulares de pastas fora das FDS e mais ligados à humanidade,
casos da Educação, Género e Acção Social, Cultura, Juventude, entre outros
pelouros, de forma a confrontarem os seus colegas dos pelouros no terreno das
operações.
Por isso, na minha modesta opinião, o próprio vice-
-ministro da Justiça “exagerou” nas suas múltiplas aparições públicas para se
referir aos resultados, à partida fazendo antever o desfecho do caso,
constituindo um “espectáculo” gratuito, despropositado e sem interesse, numa
semana em que o semanário Savana publicou uma longa entrevista sobre a
existência de “esquadrão de morte” no seio das Forças de Defesa e Segurança
nacionais, uma notícia que carece de esclarecimentos de quem de direito, sob
pena de aplicar-se a máxima segundo a qual “quem cala consente”.
Definitivamente, se não for esclarecida a publica- ção do semanário Savana de
forma convincente, julgo que todas as explicações sobre a violação ou não dos
direitos humanos serão recebidas com reticências pela sociedade. Não pode
existir maior expressão de violação que a reproduzida nas páginas do Savana. Por este andar, os inquéritos jamais
irão parar!
Adelino Buque in Correio da Manhã – 21.03.2016
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