TRIBUNA DO EDITOR
Por Fernando Gonçalves
Acompanhei com algum interesse as últimas eleições na Grã Bretanha, e cheguei à conclusão de que mesmo no mundo desenvolvido, é difícil ter uma eleição 100 porcento perfeita. Segundo a própria imprensa britânica, dezenas de milhar de eleitores que chegaram um pouco antes do encerramento das urnas, à 22.00 horas locais, foram impedidos de votar em vários círculos eleitorais.
Em alguns postos de votação, a polícia foi chamada a intervir para dispersar eleitores revoltados com o facto de não poderem votar. Noutros postos os boletins eleitorais esgotaram-se.
Os incidentes foram de tal amplitude que a própria Comissão Eleitoral admitiu que os resultados corriam o risco de serem postos em causa em tribunal.
Enfurecidos com o facto, alguns políticos disseram que o incidente fez a Grã Bretanha parecer um país do Terceiro Mundo.
Num editorial, o diário Daily Mail descreveu o fiasco eleitoral da semana passada como um acontecimento típico em “Estados corruptos”, e atribuiu o caos ao que chamou de “13 anos de incompetência” do governo trabalhista.
Quando coisas como estas acontecem em democracias consideradas mais adultas, como foi o caso nos Estados Unidos em 2000, quando a eleição do Presidente George W. Bush teve que ser decidida pelo tribunal, a oportunidade abre-se para que os inimigos da democracia em outras partes do mundo apontem tais incidentes como o exemplo da imperfeição do modelo democrático nesses países, e com uma dose de oportunismo, podem usar este facto para justificar más práticas eleitorais propositadas.
Mas com todas as suas imperfeições, as eleições britânicas foram um modelo de transição pacífica que vale a pena emular. O resultado das eleições foi o que há semanas já se previa, ou seja, que nenhum dos três principais partidos obteria uma maioria confortável que lhe permitisse imediatamente formar governo. Teria que haver negociações entre dois partidos para a formação de um governo de coligação.
Finalmente, um acordo foi alcançado entre o partido Conservador, que obteve o maior número de votos, e o terceiro partido mais votado, os Liberais Democratas.
O Primeiro Ministro derrotado, Gordon Brown, não tinha outra alternativa senão apresentar à Rainha Isabel II a sua demissão, abrindo caminho para um novo governo. No seu discurso de despedida, disse que deixava o governo com a consolação de saber que ainda tinha o trabalho mais importante do mundo: ser pai e marido. No mesmo dia tratou de arrumar os seus bens pessoais e abandonar a residência oficial.
No dia seguinte, depois de ter sido convidado pela Rainha a formar governo, David Cameron anunciava a composição do seu gabinete ministerial, ao mesmo tempo que uma empresa de mudanças fazia a transferência dos seus bens pessoais para o número 10 da Downing Street.
Não será exemplar que tudo isto tenha acontecido num espaço de menos de uma semana, sem uma única gota de sangue, sem um único tiro?
Fonte: Savana Diário de um sociólogo - 14.05.2010
1 comentário:
Sem uma gota de sangue lá, mas não pensam duas vezes para fazer arder os países dos outros, Zimbabwe é um deles. Macacos que me mordam mesmo.
Zicomo
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