Por Pedro Nacuo
“ENCONTREI muitos problemas, que precisam de esforço para resolvê-los”, disse o Presidente da República, Armando Guebuza, em Mueda, no balanço da sua visita de quatro dias à província de Cabo Delgado. O nosso Jornal, que acompanhou a visita presidencial tenta aqui buscar nominalmente os problemas encontrados pelo Presidente.
Na cidade de Pemba: o comício terá sido relativamente concorrido quando posto perante a realidade que se assiste nos últimos tempos, quando as pessoas são convocadas para as mangueiras do bairro do Alto-Gingone. Todos esperavam pela vez em que alguém fosse falar do Conselho Municipal, simplesmente porque a cidade de Pemba e o país em geral já sabiam que naquele encontro “atacar-se-ia” em moldes muito específicos o Presidente do Conselho Municipal, alegadamente porque haveria quem estivesse a preparar a cabala há dois meses.
E o assunto foi o tribalismo. Primeiro por parte de quem se levantou e disse ao Presidente que, tendo estado nas mesmas condições que os antigos combatentes, pois sofreu durante muito tempo nas masmorras da PIDE-DGS, tudo para libertar a pátria, trazendo a Independência Nacional, não beneficia, entretanto, da pensão destinada aos combatentes, apesar de muitos pedidos nesse sentido. Concluiu dizendo que achava que o facto de não falar a língua maconde e não ser de Mueda, atrasava a solução do seu problema, pois no planalto até netos de antigos combatentes recebem a pensão.
Seguiu-se a intervenção de uma mulher que disse ter perdido emprego no Conselho Municipal por não ser macua, pois o presidente da edilidade, bastas vezes, manifestou o seu lado tribal quando posto perante a necessidade de solução de alguns problemas e pediu ao presidente que levasse Sadique Yacub, no dia 16 de Junho, a Mueda, para ir ver o lugar onde os macondes foram massacrados, dia a partir do qual os moçambicanos decidiram pegar em armas para a libertação nacional.
Na verdade, estas duas intervenções são um problema, que um antigo combatente disse tratar-se do ressurgimento duma velha questão que dá mais razão ao povo moçambicano de todos os dias falar da necessidade da manutenão da Unidade Nacional. De acordo com ele, se calhar aqueles intervenientes não se aperceberam que eles mesmos são tribalistas ou simplesmente divisionistas, por pensarem que o que acontece com eles é por serem de determinada etnia ou tribo, ao assumir que sendo de grupos étnicos diferentes merecem tratamento diferente. É o problema que ficou para todos. Que precisa de um esforço suplementar para resolvê-lo, e não de forma tribalista, etnicista ou regionalista!
Ironicamente no mesmo comício, mas em privado alguém afirmou que a grande empresa de Cabo Delgado chama-se Direcção dos Antigos Combatentes, que mais movimenta pessoas e dinheiros, fonte de muitos problemas. Na circunstância, um antigo combatente apresentou um documento do Tribunal Administrativo que fixa a sua pensão em 7 mil meticais, desde 1988. Apresentou-se ao director provincial que terá dito que era muito demais e que não lhe merecia, tendo passado muito tempo, até que decidiu pedir uma audiência ao governador provincial, Eliseu Machava. Antes, o director provincial terá dito que mesmo com esse recurso a resposta seria a mesma, pois o governador não resolveria o problema antes do seu parecer. Na verdade, segundo o orador, há mais de um ano e meio que o governador não tem tempo para me receber…
No fim pediu ao Presidente da República para que o devolvesse ao Tribunal Administrativo, informando-o que, de acordo com o director provincial dos Combatentes, de Cabo Delgado, o documento não tem valor. E o presidente recebeu-o!
Mapupulo: Um desfile de muitos problemas documentados, mas foi infeliz o funcionário da Saúde que diz ter sido expulso por abandono do lugar, quando esteve doente, na sua terra natal, onde depois não conseguiu dinheiro para retornar ao seu posto de trabalho. Infeliz porque estava a apresentar um velho problema de quem para além de tudo isso foi por muitas vezes admoestado por cobranças ilicitas, quando trabalhava em Mueda. E havia muita gente que sabia do caso no comício…
Problemas de energia eléctrica foram levantados amiúde, apesar de Montepuez estar a beneficiar da rede nacional e coincidentemente, na tarde em que o Chefe do Estado esteve em Montepuez, registou-se um corte que viria a estragar todo o programa, desde o encerramento dum curso de instrução básica militar (que teve que recorrer ao gerador do quartel) à reunião que teve que acontecer à luz de velas. Já alta noite, viemos a saber que a explicação estava num cidadão que estava a destroncar uma árvore, numa mata a 25 quilómetros de Metoro, que caiu numa das fases da linha de Montepuez, tendo arrebentado e posto fora de isoladores um cabo, em cinco vãos e dois isoladores danificados.
Para os escribas, não havia como enviar os seus despachos, se bem que para além da falta de energia, dois factos estranhos não foram evitados pelas Telecomunicações de Moçambique: era domingo e como muitas vezes reclamamos, as lojas das TDM, em Montepuez e Mocímboa da Praia, não abrem naquele dia. Não pode haver comunicações no domingo, pelo menos quando for para utilizar as infra-estruturas das TDM. E mais: afinal as TDM em Montepuez desactivaram a internet, alegando ser um serviço pouco utilizado! Deu para ficar boquiaberto, numa cidade com uma universidade e que ia receber o Chefe do Estado…
Mucojo: este posto administrativo parecia ter organizado os intervenientes, pela coincidência de que 40 porcento deles falaram da necessidade de elevá-lo à categoria de distrito para beneficiar dos “sete milhões”; da antena da telefonia móvel; de Escola Secundária, como se esta fosse a premissa para haver condições para a instalação de todas estas infra-estruturas.
Em Ntamba, distrito de Nangade, aconteceria a maior surpresa da viagem: para além da maior enchente de sempre, um pedido para que a província de Cabo Delgado fosse dividida, no sentido de que nasceria mais uma cujo nome proposto é Rovuma. Então, no actual espaço geográfico-territorial de Cabo Delgado, nasceria outra província (Rovuma), igualmente para beneficiar de Uuniversidade, escolas secundárias apetrechadas, meios de transporte para a Polícia e número suficiente de enfermeiros, o que hoje não acontece. Deu para preocupar o pensamento, que não foge muito daquele de Mucojo, bem como deu para algumas gargalhadas de quem se achava longe da tribuna.
Mas uma desatenção das TDM, em Mueda: não há nenhuma cabine das TDM, mesmo sabendo que o Chefe do Estado iria para ali e com ele muita informação necessária de ver, confirmar e despachar. Diz-se que desactivaram por falta de rendimento… num municipio! E no dia 16 de Junho, de novo, haverá muita gente, mais um acontecimento de dimensões nacionais. São alguns dos problemas que devem ter ficado na retina do chefe do Estado e que ficaram como tarefa para todos com vista senão à resolução, pelo menos à sua minimização.
Fonte: Jornal Notícias - 17.05.2010
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