A talhe de foice
Por Machado da Graça
O debate sobre a questão das gerações vai aceso. Com participações aos mais diferentes níveis, desde os textos educados e juntando argumentos sérios ao debate, como nos casos de Júlio Muthisse e de Amosse Macamo, até ao bolsar racista de Miko Cassamo e ao texto inqualificavelmente abjecto de Fernando Benzane.
No topo de todos, sem a menor dúvida, o texto do Fernando Gonçalves, no último Savana, procurando um significado para o fenómeno nas lutas internas no seio da Frelimo. Mais exactamente para as mãos de que geração vai o facho do poder quando chegar o momento de Armando Guebuza o entregar.
No seu texto, Julio Mithisse refere todas as diversas actividades, para além da militar, que caracterizam a chamada geraçãp do 25 de Setembro. E eu pergunto-lhe se a data do 25 de Junho não cobre melhor esse somatório de actividades. Queiramos ou não o 25 de Setembro está sempre associado ao Primeiro Tiro, isto é à componente militar da luta. Já em relação à dita geração da viragem, uma leitura mais atenta, por parte do Mais Novo, permitir-lhe-ía notar que me insurjo mais contra a designação, e seus possíveis significados, do que com a necessidade de a actual juventude ter que arregaçar as mangas para o trabalho duro, com o que estou completamente de acordo.
No Domingo, Amosse Macamo trouxe ao debate a importante componente do contributo das igrejas protestantes, nomeadamente da Missão Suiça. Estou plenamente de acordo com ele sobre essa importância, que foi enorme, e simbolicamente pode ser referida pela formação que deram a Eduardo Mondlane, entre tantos outros. Só não sei em qual das 3 gerações definidas essa participação das igrejas protestantes se insere.
Continuo a pensar que não há que cortar âs fatias um processo que foi longo e complexo. Às vezes, quando se pretende simplificar muito um processo, acaba-se por complicá-lo bastante mais.
Estou, neste momento, a ler o “tijolo” que o Sérgio Vieira nos entregou. Ela fala, muitas vezes, de gerações e, inclusive, cita explicitamente a do 8 de Março. Mas fá-lo de forma a que o leitor compreenda os contextos que se viviam em determinadas épocas e não de forma esquemática e simplista. Eventualmente o Chefe de Estado pretendeu o mesmo objectivo mas, na minha modesta opinião, não o conseguiu.
Mas, já que estamos a usar esta discutível ideia da divisão em gerações, sugiro uma outra sequência de gerações. Também heroica e trágica ao mesmo tempo.
Refiro-me à geração Carlos Cardoso, à geração Siba-Siba Macuácua e, agora, à geração Orlando José.
Homens de diferentes idades e profissões, também entre eles circulou um facho: A Chama da Honestidade, da Justiça e do Patriotismo.
E todos eles tiveram morte violenta por terem ousado carregar essa Chama ao longo das suas vidas.
Carlos Cardoso baleado mortalmente quando saía do seu lugar de trabalho e combate, do seu jornal. Em 2010 passam dez anos que isso aconteceu.
Siba Siba Macuácua também estava no seu local de trabalho e luta quando foi lançado para a terrível queda que lhe tirou a vida.
Agora temos o jovem Orlando José, baleado mortalmente no mesmo dia em que apresentou ao público três carros de luxo apreendidos quando tentavam entrar no país sem pagar os devidos direitos alfandegários.
Esperemos que a Chama que ele transportava não tenha caído ao chão e se apagado. Esperemos que alguém, seja de que geração for, lhe tenha pegado e a proteja, que ainda vamos precisar muito dela.
Quem mandou matar Carlos Cardoso ainda hoje não sabemos, 10 anos depois.
Não sabemos também quem contratou os assassinos de Siba Siba Macuácua.
Saberemos alguma vez quem ordenou os tiros contra Orlando José?
A polícia está a investigar.
Como fez também, nos outros dois casos...
Fonte: SAVANA - 30.04.2010
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