A descoberta de petróleo, recurso alvo de intensas pesquisas em Moçambique, pode tornar-se “numa maldição” para o país, se as elites monopolizarem as vantagens provenientes da venda do crude, alertou, nesta Terça-feira, o jornalista da Guiné-Equatorial, Donato Bidyogo.
Várias multinacionais estão actualmente envolvidas na pesquisa de petróleo no centro e norte de Moçambique, onde a existência de grandes quantidades de hidrocarbonetos é encarada como indício da existência do crude.
Com base na experiência do seu próprio país, a Guiné-Equatorial, o terceiro maior produtor de petróleo na África Subsaariana, depois da Nigéria e de Angola, Donato Bidyogo afirmou que “o petróleo pode trazer desgraça, tornar-se numa maldição e não no maná que muitas vezes se pensa que é”.
“Por má fé, as elites dominantes empreendem uma má gestão, uma má administração dos recursos petrolíferos e outros hidrocarbonetos, para serem os únicos a apropriar-se dos benefícios, tornando-os numa maldição”, sublinhou o jornalista, exilado em Espanha, quando falava numa palestra sobre “Petróleo e Subdesenvolvimento na Guiné-Equatorial”, promovida pelo Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE) de Moçambique.
Apesar de vir de um histórico de tirania e repressão desde os anos da independência nos anos de 1960, a Guiné-Equatorial viu a ditadura do Presidente Teodoro Nguema a incrementar o esmagamento dos direitos humanos e a perseguição aos opositores políticos, quando foi descoberto o petróleo no início dos anos de 1990, recordou o jornalista e também docente universitário.
“A democracia que o regime estava a ensaiar antes da descoberta do petróleo transformou-se logo numa paródia, quando o país se viu com petróleo. As liberdades que se começavam a respeitar foram logo suprimidas”, enfatizou.
Para Donato Bidyogo, a tortura e a intimidação podem ser usadas para reprimir qualquer tentativa de alguns sectores da sociedade de exigir transparência nas receitas de petróleo e assim deixar o campo aberto para o enriquecimento das oligarquias no poder ao tempo da descoberta do crude.
“Na Guiné-Equatorial é normal inventarem-se golpes de Estado e alegados crimes contra a segurança do Estado como pretexto para colocar fora de acção opositores incómodos”, acrescentou.
Ainda segundo o jornalista, apesar de o petróleo ter permitido à Guiné-Equatorial ter um rendimento anual per capita de 50 mil dólares, acima de muitos países ricos, a produção do crude não evitou, entretanto, que o país tivesse mais de 50 por cento da sua população a viver com menos de um dólar por dia.
O meio ambiente degradou-se, a inflação disparou e a maioria da população perdeu a auto-suficiência na agricultura artesanal, passando a depender de produtos agrícolas importados dos países vizinhos, e os problemas ecológicos agudizaram-se, observou Donato Bidyogo.
Fonte: SAVANA - 30.04.2010
2 comentários:
E de que maneira.
Zicomo
Comecemos a pensar positivo.
Quando Moçambique começar a produzir crude, as "multis" vão querer quadros para gestão.
É lógico que prioritáriamente irão moçambicanos, mas com uma diferença-COMPETENTES.
Tirem o "cavalinho da chuva", pensando que vai trazer "complicações".
Acredito que não vá.
A acreditar, então teríamos de fechar TODAS AS UNIVERSIDADES-18-porque não estavam a fazer NADA.
Educação para quê?Formar?
Moçambique precisa anualmente cerca de 2/2.5 USDBN-investimento público e infra-estruturas sociais, num período de 10 anos , para torná-las eficientes e operacionais, infra-estruturas essas que são a componente estratégica para o combate da fome e desemprego.
Não é modernização, mas sim NECESSIDADE MÍNIMA para funcionamento do Estado e o tecido económico.
Para isso tem de arranjar receita.
Só pode ser do subsolo.
MINERAIS.
Daqui a 4/5 anos a par com o carvão, é expectável que Moçambique consiga fazer face com essas receitas, o apropriado investimento, sem imposições financeiras externas.
Cabe ao Governo actual em total consciência futura delinear estratégias e criar ferramentas legais para que essa INDÚSTRIA tenha progressos a par com um sistema de tributação e comercialização adequadas.
E também repensar o modelo de sistema de exploração mineiro, e pôr de lado "o garimpeirismo cowboy", OBRIGANDO LEGALMENTE a criação de cooperativas, reforçando o controlo do Estado nesse domínio( porque o subsolo, pertence a todos e assim será o benefício).
HÁ QUE ORGANIZAR O SECTOR MINEIRO DE ÍNDOLE INDIVIDUAL, PARA NÃO VIRAR UMA NOVA SERRA LEOA OU CONGO.
Quem sabe o País com alguns recursos financeiros (alguma receita própria), os políticos deixem de pensar só no próprio umbigo.
A penúria convida fácilmente à corrupção, o que motiva descontrolo na sociedade civil.
Hoje, como nunca Moçambique deve preparar o futuro por este caminho-DESENVOLVIMENTO DOS PRÓPRIOS RECURSOS MINERAIS-, para consolidação da democracia, caso contrário algum "bandalho" se intitula de "novo libertador" e põe em risco os cerca de 18 anos de paz consolidada.
Para terminar...
Há uma tradição na terra do meu pai-Ndau, em que não se pode falar mal da noiva, antes dela apresentar a confecção da sua primeira refeição/almoço.
Pode ser feia e sem jeito, mas se cozinhar bem, já é um bónus.
ACREDITEMOS NO FUTURO, PARA QUE OS INVESTIDORES ACREDITEM NOS JOVENS MOÇAMBICANOS DE AMANHÃ.
HÁ QUE DEBATER OS PROBLEMAS COM IDÉIAS, A FIM DE NOS EDUCARMOS A TER PRINCÍPIOS DE ENCONTRAR VÁRIAS SOLUÇÕES VIÁVEIS PARA PROBLEMAS DE VÁRIA ESPECIFICIDADE.
Só assim MOÇAMBIQUE vencerá a pobreza-primeiro do ESPÍRITO, e segundo do ESTÔMAGO.
Pelo menos sejamos sómente pobres do ESTÔMAGO.
RESUMINDO:
Não procurem o ladrão dentro do poço, quando ambos ainda não existem.
Zacarias Abdula
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