Por: Gento Roque Cheleca Jr., em Bruxelas
É mais fácil ir a Zumbo de tractor ou de canoas do que de Hyundai Azzera V6 Extracto da palestra com os meus sobrinhos
Quem já anda metido nessa difícil “aventura” de escrever crónicas para os jornais (não há jornais sem leitores, portanto, é para eles que também escrevo) sabe que não é tarefa fácil aguentar a “ressaca” das festas do Natal e do Final de Ano. A febre de inspiração desaparece, os bocejos e os arrotos, são descarregados às carradas, a “maternidade da mente” deixa de fecundar novas ideias (progressivas) e dão lugar a choros lancinantes provocados por uma comoção passageira, de duas semanas apenas, que embalsa os restantes dias do ano. A estiagem financeira deixa marcas dolorosas nos bolsos e cimenta no rosto cicatrizes de arrependimento, de facto, as coisas boas, para além de caras, duram pouco. Mas a ressaca não pode, de maneira nenhuma, adiar os nossos compromissos porquanto ainda há caminhos por trilhar, mato por desbravar, como dizia o escritor Paulo Coelho quando adiamos a colheita, os frutos apodrecem (…). Quando adiamos os problemas, eles não param de crescer.
Nas festas do Natal e do Final de Ano, salvo os infelizes do destino, os corpos são injectados por uma dose invulgar de emoção que apaga, temporariamente, da nossa mente, às guerras circundantes (que fazem do próximo carne para canhão); às tragédias (que reduzem a solidariedade humana); às fomes (que mutilam o nosso amanhã); às injustiças sociais e institucionais (que cambaleiam a esperança de um futuro melhor), enfim, são simples anestesias que não curam o “kilimanjarar” (de Kilimanjaro) das doenças do mundo. O luto que a SIDA semeia diariamente no mundo, é proporcional a acção destruidora dos políticos. Espero que, na descoberta de drogas para eliminar esta mortífera doença, alguém se lembre também de descobrir antídotos para acabar com a sacanagem dos políticos.
Se os políticos fossem menos hipócritas e pouco cínicos para com os seus povos (este mundo talvez não estaria a jorrar tanto sangue) seria um mundo diferente de manguços que chupam sangue dos mais fracos e, como se não bastasse, são proclamados pela “secretaria do crime”, de heróis nacionais.
Devo, felizmente, concordar com o pensador alemão, Walter Benjamin, Nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie. Terminaram as festas do Natal e do Final de Ano, mas as duas Coreias - do Norte e do Sul, respectivamente (de coreias só têm o nome) andam as pancadas e de relações cortadas há décadas. Ao ritmo de ‘kung fu’, vão demonstrando, as duas Correias, ao mundo, uma musculatura militar aterrorizadora. Nem os árbitros (EUA e a China) conseguem pôr fim aquelas mentes tacanhas.
No Egipto de Osman Mubarak continua as “cruzadas” de alguns radicais muçulmanos contra os cristãos. Filhos do mesmo Deus, os fundamentalistas islâmicos decretaram guerra total contra os seus irmãos cristãos no Médio Oriente.
Bem dizia o não menos controverso polílitico português, Almeida Santos.
Quase dois mil anos depois de Cristo ter pregado o amor universal, o amor do próximo e do distante, do inimigo, inclusive, através da alegoria da oferta
da outra face, a lepra do ódio continua a corroer o coração dos homens. Espero que o apelo do Papa Bento XVI encontre eco naquelas mentes destruidoras e entendam duma vez por todas que o radicalismo não é, nunca foi e jamais será, uma arma diplomática para impor apetites religiosos, etc. Este foi, seguramente, o grande pecado de Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal) quando expulsou e perseguiu, sem dó nem piedade, os jesuítas por volta dos anos 59 do século XVIII.
A “ressaca” fez-nos ver também que, na Costa do Marfim, os políticos vestiram luvas de pugilistas e já vai cerca de dois meses que o diálogo e a concórdia são pontapeados para o caixote de lixo. A luta pelo poder é tanta que o uso da força é aplaudido pelas duas partes em litígio. Os mediadores da CEDEAO nada podem fazer, porque é tudo farinha do mesmo saco. Ontem parceiros do tango, hoje bombeiros sem águas e sem meios para estancar a onda das manifestações. Há quem diga (exageremos um pouco) que África não terá prosperidade política nem económica nos próximos 500 anos. Os políticos africanos, na sua maioria, agem como ‘chicombas’, uma espécie de bichos abundante nas selvas de Kassakatiza, na “capital do calor” (Tete) que, a dada altura, na época de abundância alimentar, crescem mais do que o próprio peso e volume, até que, no tempo de estiagem, comem-se a si próprios.
Tomando o exemplo concreto do nosso País, o governo da Frelimo, depois da “ressaca” das manifestações de 1 e 3 de Setembro, anunciou um plano de austeridade que durou cerca de três meses, apenas! No lugar de dar refeições aos pobres, oferece nova frota de viaturas aos membros da CNE. E eu pergunto:
Porque é que não se ofereceu barcas ou canoas, no lugar de viaturas de luxo, para rasgar o Zambeze de lés-a-lés? A frota que passa agora a engordar a garagem dos sortudos servirá (como tem sido hábito no nosso País) de viaturas para o desfile (deles e dos seus) nas principais artérias das principais cidades do País. É mais fácil ir a Zumbo de tractor ou de canoas do que de Hyundai Azzera V6. Quase todos os contemplados na “Lotaria da sorte” já são “madalas” (velhotes) em receber prémios do Estado. Em cada “Comissão de Serviços” ganham novas viaturas do Governo. De facto, “o cabrito come onde está amarrado”. Assim vai o nosso maravilhoso País, assim vai o Mundo.
‘Kochikuro’ (Obrigado)
PS: Um bom ano a todos os leitores do Wamphula Fax, aos seus colaboradores, articulistas, ao meu bom amigo - Hipólito Fernando Iampita (da ADPP de Nacala-Porto) de quem tenho uma maior admiração e uma grande “ressaca” de saudades. Esta crónica é dedicada a ele.
Fonte: Wamphula Fax – 06.01.2011
13 comentários:
Fabuloso Sr Chaleca!
Ainda bem que é lido em Nampula.
Agora devia comentar o seguinte...
.. que a história ACTUAL de comprar castanha pelo triplo do preço-30MT em vez de 10 MT, pode ser lavagem de dinheiros da droga!
Fungulamasso
Barco ou tractor, Chaleca? E o status?
Tem que ser um Hyundai Azzera V6 anualmente e 19 000 Mt/mês mesmo quando não se faz absolutamente nada.
Akuna matata!
Estou a rir em flecha.
Não digo mais nada.
Que o diga o Dr. Carlos Coelho e o amigo Fernando Gil.
Zicomo
PS: Karim onde é que anda?
Karim deve estar de férias, mas com certeza volta.
Selecionador e Adjunto,
Obrigado por se terem lembrado de mim,
Amigos sao para isso mesmo,
Estou ca, na India, congelado com Zero graus em Delhi,
Tambem achei graca e principalmente a "mencao" do Paulo Coelho.
O 2011 esta so a comecar, e parece que vai ser animado,
É que ele, Karim, andou sumido.
O Chacate também anda sumido.Como há muito sismo por aí, na Índia, pensei que tivesses sido levado por um vulcão.
Também pensei na hipótese de estar na fila na embaixada à espera do passaporte.
Este ano, Karim, temos que criar condições para visitar o nosso mais velho, Reflectindo.
Reflectindo: vai metendo "cunha" ao Picasso para me hospedar em sua casa dele. Risos
Zicomo
Tudo Bem Selecionador,
Vamos visitar o Reflectindo,
Vou ver se dou uma cunha na embaixada pra arranjarem um passaportezinho,
Ou entao vou pedir emprestado a quem tem 5 passaportes, hain ? o que que acham da ideia ?
Estão bem-vindos!
Peça ao amigo Mutisse,
Ele deve ter cinco,já que o governo trata muito bem os seus filhos legitimos.
Zicomo
Mutisse,
Bro, por favor, veja se me arranja um passaporte, ja estamos em 2011,
Pode ser emprestado, se me perguntarem pela diferenca na foto ( entre a minha e a tua ), vou dizer que es meu irmao de sangue e de terra,
Nao vai haver problema, vou explicar isso na migracao de cada pais que eu entrar,
Selecionador,
Nas ruas de Johanesburg, nao emitem 'a distancia ? ouvi que custa 400 rands.
Convido o Reflectindo, Karim e Viriato Dias a visitarem a minha palhota e o meu burgo. Karim pode aproveitar para tratar do passaporte aqui, 400 randes e bom preço.
Thank You Jose,
Retribuo o convite,
Venham a India,
O Taj Mahal 'e pra se ver,
Welcome at anytime you may wish to come, im here, you will be in home away from home, for sure.
Risos,
Olha lá, estou na sala de aulas e estou a rir feito maluco com as tuas pauladas. O professor e colegas pensam que eu sou demente... Risos
Grande José, um dia desses para por aí.
Epá, não me aguentei com essa do passaporte à distância.
Zicomo
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