A religião em Moçambique constitui uma grande fonte de manutenção da concórdia, segundo defendeu ontem em Maputo a pastora Felicidade Chirindza, da Igreja Presbiteriana, no debate sobre diálogo cristão/islâmico no fortalecimento da paz.
Uma das oradoras do tema, a pastora afirmou que se a paz continua hoje uma realidade no país grande mérito deve ser atribuído também às religiões, pela sua contribuição nos esforços visando a sua manutenção. Considerou o diálogo como um desafio em que uma das partes envolvidas deve estar pré-disposta para tal, acrescentando que Moçambique deu um passo gigantesco e importante na preservação da paz. Destacou a existência do Conselho das Religiões como sendo um exemplo que demonstra o compromisso dos moçambicanos para com a paz.
Disse que tanto a religião cristã como a muçulmana (islão) têm valores. No interesse da preservação da paz, o desafio deve ser o conhecimento dos valores que estas duas religiões encerram. Felicidade Chirindza acrescentou que as duas religiões têm as suas necessidades, defendendo que elas devem aproximar-se para se entenderem mutuamente.
Para além de necessidades têm também os seus interesses. Tanto que é necessário conhecer a Bíblia como o alcorão. Segundo afirmou, a julgar pelo diálogo existente entre os cristãos e os muçulmanos, não se deve esperar que haja uma crise entre estas duas religiões em Moçambique, tal como se verifica noutras partes do continente e do mundo.
Apelou para que se comece a fazer coisas concretas que ajudem o país a caminhar com passos firmes rumo à manutenção da paz.
O sheik Mussa Tamimo, do Conselho Islâmico de Moçambique, também um dos oradores do tema, disse, entre outras coisas, que tal como aconteceu com Jesus Cristo, houve campanhas visando desacreditar o islão desde o início. Também realçou a importância de se conhecer os valores defendidos por cada uma das religiões e afirmou que existem forças externas que querem deitar abaixo a dádiva da paz em Moçambique.
Defendeu que existe convivência, no país, entre cristãos e muçulmanos, que se consubstancia até na união matrimonial entre pessoas que professam estas religiões. Apelou para a necessidade de se diferenciar o carácter dum indivíduo dos princípios duma religião. Para o sheik Tamimo, a paz conquistada no país deve ser preservada, devendo os moçambicanos pedir a graça de Deus para o efeito.
Por seu turno, o bispo da Diocese do Maputo, Dom Francisco Chimoio, defendeu a necessidade da multiplicação daquele tipo de encontros para responder às exigências e os desafios da edificação da paz duradoira. Aludiu ao Acordo Geral de Paz, afirmando que o percurso que vai desde a sua assinatura não foi fácil, pois em muitas ocasiões foram registadas tentações ao retorno à guerra, entre outras situações.
Segundo Dom Francisco Chimoio, diálogo não é sinónimo de fraqueza, havendo necessidade do seu reforço e da reconciliação a todos os níveis. Para Chimoio, paz pressupõe também harmonia social.
Disse que os moçambicanos ainda não conseguiram manter a paz de forma democrática. Repressão de pensamento, a não aceitação de pontos de vista diferentes, entre outras formas, põem em perigo a paz.
Dom Francisco Chimoio enfatizou também as iniciativas de diálogo inter-religioso no país.
O debate foi organizado pela organização de prevenção de conflitos, a JUSTAPAZ.
Fonte: Jornal Notícias - 22.01.2011
Sem comentários:
Enviar um comentário