domingo, janeiro 16, 2011

Novo presidente interino promete Governo de unidade sem exclusões

Tunis - O novo presidente interino da Tunísia, Fued Mebaza, prometeu no sábado criar um Governo de "união nacional" para conduzir um processo de transição no qual ninguém será excluído, enquanto o país permanece sob tensão e com dúvidas sobre a capacidade das autoridades de controlar a situação.
Os distúrbios e saques voltaram a acontecer no sábado na capital e várias regiões, embora diversas fontes atribuam a maioria dos incidentes a milícias e partidários do regime do presidente foragido, Zine el Abidine Ben Ali, em uma tentativa de desestabilizar o processo de transição.
O Conselho Constitucional anunciou no sábado a designação do presidente do Parlamento, Fued Mebaza, como novo presidente interino do país, descartando assim qualquer possibilidade de um retorno de Ben Ali ao poder.

O Conselho - a maior autoridade legal em questões constitucionais - proclamou um "vazio de poder" e nomeou Mebaza presidente interino em substituição do primeiro-ministro, Mohamed Ghannouchi, que na sexta-feira havia assumido a chefia do Estado.

O período fixado pela Constituição para a Presidência interina é de até 60 dias, quando devem ser convocadas eleições presidenciais às quais o líder interino não poderá concorrer.

"O interesse superior do país é a formação de um Governo de união nacional", disse Mebaza durante o seu juramento como presidente, no qual também encarregou Ghannouchi, confirmado como primeiro-ministro, da formação do novo Executivo.

Além disso, o novo governante interino prometeu defender o pluralismo e a democracia e jurou fidelidade aos princípios da Constituição.

Ahmed Brahim, secretário-geral do movimento Etajdid (Renovação), o único partido da oposição tunisina com representação parlamentar, reivindicou a "ruptura definitiva com os fundamentos do regime despótico" de Ben Ali e o julgamento dos responsáveis pelas mortes registadas durante as revoltas e dos envolvidos em esquemas de corrupção.

Embora o estado de excepção continue vigente, o espaço aéreo tunisino e todos os aeroportos do país, que haviam sido fechados na sexta-feira, foram reabertos no sábado.

No entanto, os transportes públicos como comboios e autocarros não funcionaram e a estação ferroviária de Tunis foi parcialmente incendiada por grupos não identificados.

O Exército tomou as ruas do centro da capital e vários tanques se posicionaram no início da avenida Habib Burguiba, embora em alguns bairros, especialmente nos arredores de Tunis, a presença militar tenha sido menor e inúmeros incidentes tenham ocorrido.

Vários supermercados, lojas e concessionárias automobilísticas foram incendiados na capital e seus arredores, onde foram escutados disparos isolados.

Em La Goulette, perto de Túnis, dezenas de moradores saíram às ruas armados com barras de ferro para ajudar a conter os distúrbios que, segundo denunciaram à Agência EFE, estão a ser provocados por membros dos serviços de inteligência do regime de Ben Ali.

Mas os factos mais graves ocorreram em Monastir, no centro leste do país, onde dezenas de pessoas morreram - pelo menos 42, segundo algumas fontes - no incêndio de uma penitenciária causado quando os detentos atearam fogo às camas das suas celas.

Vários dos reclusos conseguiram escapar, enquanto dezenas ficaram presos na cadeia e morreram ou se feriram gravemente, alguns por disparos das forças de segurança.

Também nas prisões das regiões de Gafsa e Kaserin, no centro-oeste, e nas de Bicerta e Mornaguia foram registados motins e tentativas de incêndio por parte dos detentos, assinalaram fontes do Governo.

Em Gafsa e Kaserin os motins foram controlados, enquanto na prisão de Bicerta, no noroeste de Tunis, e na de Mornaguia, a 17 quilómetros da capital, dezenas de presos conseguiram escapar.

Fonte: Angola Press - 16.01.2011

2 comentários:

V. Dias disse...

No primeiro mês promete-se tudo. Guebuza até prometeu acabar com os corruptos. Mas se esqueceu que os corruptos estavam nas vestes dele. Com a história dos paios, viu-se que afinal de contas eram discursos açucarados e mais nada.

Zicomo

Anónimo disse...

"Um processo de transição no qual ninguém será excluído"???

A realidade de hoje afirma o contrário. O Partido Comunista Operário da Tunísia (PCOT, oficialmente proibido pela ditadura de Ben Ali) e o partido islamista Ennhadha, (igualmente proibido) foram excluídos pelo Presidente interino, Foued Mebazaa (do partido no poder, RCD), do processo de formação de um governo provisório, porque os líderes dos partidos considerados legais pela ditadura (incluindo o RCD) receiam a competição dos “ilegais” no nível nacional e nas 24 províncias do país. Vamos ver se os “ilegais” conseguem mobilizar a população, em protesto contra a exclusão. Na manha de hoje os partidos da “oposição ilegal” contra-atacam e exigiram a exclusão do partido de Ben Ali

Um abraço
Oxalá