sábado, janeiro 08, 2011

Cólera em Cabo Delgado: O papel do régulo na (des)informação (3)

Por Pedro Nacuo

LÍDER DETIDO EM ANCUABE

No dia 30 de Novembro do ano passado um surto de diarreias e vómitos assolou a aldeia de Nacaca, distrito de Ancuabe, vizinho de Montepuez. Localiza-se no posto administrativo de Mesa, a poucos quilómetros da Escola Secundária de Mariri. A doença mata 11 pessoas e as autoridades sanitárias correm a socorrer a população, mas esta, tendo à testa um líder reconhecido recusa a montagem de um centro de tratamento.

As autoridades distritais, incluindo quase a totalidade do Governo, por duas vezes vão a Nacaca pedir para a montagem da tenda para o tratamento dos doentes e encontram a mesma recusa.

Por detrás está o facto de que o régulo da zona, não é da mesma linhagem do líder e o chefe da localidade, sediada na aldeia Campine, Luís Romão Muanga, tenta em vão resolver a contenda silenciosa, mas mortífera, como é no caso vertente, que parece não terminar.

O líder, Simão Auca, esteve na já referida reunião dirigida pelo governador provincial, onde foram dadas orientações contra a desinformação. Chegado a Campine e no fim de uma missa na Igreja Católica local, pediu a palavra para acusar o chefe da aldeia e da localidade de estarem por detrás da doença que já havia feito 11 mortos.

A mensagem pegou e foi sendo retransmitida para os que não estiveram na igreja, incluindo jovens que decidiram fazer uma campanha de desinformação, em barracas e outros locais de lazer e convívio. Simão Auca mais dois jovens, Eusébio Luís e Pedro Mwito, estão detidos, ora na cadeia distrital de Ancuabe.

Campine e Nacaca, são separadas por cerca de cinco quilómetros, com palhotas relativamente maiores, ruas largas e muita criação de suínos. Na terça-feira passada, eram na verdade aldeias fantasmas, onde era difícil avistar viva-alma e as poucas pessoas presentes denotavam um receio de falar com estranhos.

O medo reina naquelas aldeias, porque apesar de muitas pessoas se terem recolhido às machambas, outras razões não justificam o facto de estarmos em plena campanha agrícola, mas sim, têm explicação no receio que há de serem associadas ao fenómeno que resultou da desinformação e consequente detenção do líder e os dois jovens.

Fonte: Jornal Notícias - 06.01.2011

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