quinta-feira, janeiro 06, 2011

Cólera em Cabo Delgado: O papel do régulo na (des)informação (1)

Por Pedro Nacuo

Volta ao debate um tema que em Setembro de 1995, foi levantado na província de Nampula, sobre se a integração de régulos ou de outros líderes tradicionais no poder institucional não seria mais um erro.
Receava-se na altura que tal poderia não vir a resolver na globalidade a problemática em torno da participação das autoridades tradicionais no processo de democratização e descentralização, se bem que, tal como no período colonial, a ascensão ao cargo estava a ser feita por indicação e com alguma conveniência à mistura, razão porque poderiam não estar a representar a sociedade tradicional a que se dizem servir.Uma pesquisa conduzida pela então Associação para o Desenvolvimento da Província de Nampula (ASSANA), com um envolvimento activo da Cooperação Técnica Alemã (GTZ) trazia ao de cima as condições em que, nos meados da década 60, a administração colonial colocou à frente de algumas regedorias, cipaios e outros homens da sua confiança, uma vez que os legítimos donos haviam sido presos pela PIDE, por suspeita de colaborarem com a FRELIMO.
Em 1995, logo depois de anunciado que se estava a preparar a base legal da integração da autoridade tradicional, tinham sido identificados pela referida pesquisa, casos de gritantes influências políticas na actuação e escolha de régulos, sendo que em alguns distritos, como foi o caso de Nacarôa, haviam nas mesmas regiões uns da Renamo outros da Frelimo.
A pesquisa avançava que poderíamos estar perante uma realidade em que o Governo estaria a voltar a cometer um erro, tal como o fez quando foi para o desmantelamento das estruturas tradicionais, cujos efeitos estão a custar caro ao tecido social, impondo-se, logo a seguir à independência, a uma geração inteira a negação ao poder tradicional, e agora fazendo o mesmo em relação a uma outra geração, esta para, desta feita, aceitar o mesmo poder.
Receava-se, por isso, que o retorno ao regulado pudesse vir a ser contra a vontade popular, devido a uma aparente pressão política por detrás da exagerada flexibilidade do Executivo para tão intrincado assunto de importância transcendente.

Continua...

Fonte: Jornal Notícias - 06.01.2011

2 comentários:

V. Dias disse...

Nacuo VOLTOU...

Zicomo

Reflectindo disse...

Nacuo voltou com um artigo que põe a reflectir sobre a génese dos últimos conflitos e daí procurar(mos)-se uma solução sólida.