Fahed Sacoor
Quando
se realiza um acontecimento cultural, político, principalmente desportivo de
nível mundial e a Grã-Bretanha participa nele, existe entre os cidadãos
britânicos um orgulho exacerbado de patriotismo, pois, esporadicamente,
participam nele sem convites. É tudo ao natural. Fazem colorir as ruas, as suas
casas, a cidade até carros, colocando neles aquilo que consideram o mastro
mais elevado do seu país – a sua bandeira nacional. É uma cultura e um hábito
de se elogiar que me faz uma certa inveja!
Então
agora que é tempo dos Jogos Olímpicos a azáfama é ainda maior. Os ingleses têm
essa (boa) mania de pendurar a sua bandeira nas janelas das suas casas,
hasteá-la no seu mastro, dentro dos seus quintais ou jardins, ostentam-na presa
aos seus automóveis. Por isso, eu também decidi acompanhar o ritual e colocar
a bandeira de Moçambique pendurada no alto da janela da minha casa em
solidariedade com os JO. Muitos mirones que passam por lá observam-na com
atenção e perguntam-me (alguns) a minha nacionalidade e depois a razão de uma
arma exposta na bandeira! Primeiro pensei que fossem apenas perguntas curiosas
de inocentes, mas quando fui ao estádio com a bandeira para assistir a um dos
jogos de futebol, a mesma questão foi-me posta muitas e muitas vezes, o que
sinceramente deixou-me sem jeito.
A
única coisa que chama a atenção das pessoas é, de facto, a arma que aparece
nela. E aí, de repente, parece que fui acossado por um soco e despertei de um
sono profundo! Nunca tinha pensado profundamente sobre isso. De facto, o que
está a arma a fazer na nossa bandeira? A guerra já acabou há muito tempo! A
nossa bandeira é uma das únicas (a par da de Guatemala, cujo emblema engloba um
rifle) neste planeta que traz estampada uma arma (AK-47). Fui verificar isso
mesmo no Google. Se o problema foi a guerra, então países como Vietnam, Rússia,
Alemanha, França, Ruanda, Congo e outros que tiveram batalhas mais sangrentas
ou iguais à nossa teriam razões mais que suficientes para exporem armas ou
outros objectos contundentes nos emblemas das suas bandeiras.
Exmos
senhores deputados, como terão reparado, tenho vindo a falar da bandeira que é
um dos símbolos nacionais importantes de um país. Como é sabido, a nossa
bandeira e o hino haviam sido criados num contexto político diferente. Hoje,
com uma enorme transformação social, económica e política no país, seria justo
que a bandeira se ajustasse à realidade do país, aliás como aconteceu
recentemente com o hino nacional, outro símbolo importante da nação.
Por
isso, senhores deputados da Assembleia da República, se este cidadão não
estiver a cometer nenhum sacrilégio “lesa-pátria”, gostaria de apelar no
sentido de Vossas Excelências enquadrarem nos vossos próximos programas (se é
que não o fizeram ainda), um debate sobre a viabilidade de mudança ou
transformação da actual bandeira nacional, para uma mais consensual a tudo e
todos, independentemente da convicção partidária, cor, religião, raça, cultura
ou outras. A arma é um símbolo repugnante por mais guerras sangrentas que a sua
história tenha para contar. Ela, de facto, deve ser extinta como um símbolo
nacional.
Caros dignatários do povo, gostaria de vos fazer
lembrar que o processo de mudança da bandeira nacional nem é virgem para nós,
pois, já foi feito no passado e por mais de uma vez. A primeira bandeira usada
no período de transição entre 5/9/1974 e 25/6/1975 foi a bandeira da FRELIMO,
que é praticamente igual à actual sem qualquer emblema inserido nela. Entre
25/6/1975 e Abril de 1983, criou-se uma bandeira “quadricolor”, por sinal muito
bonita com as mesmas cores da anterior, expostas paralelamente, inserida nessa
altura, por um emblema com figuras da referida arma/bayoneta, livro, enxada e
uma estrela em volta de uma circunferência. Nova mudança, mas curta, entre
Abril de 1983 e Maio de 1983, novamente a bandeira da Frelimo, mas já com o
emblema da imagem da arma e de outros objectos inseridos nela. Finalmente, a
partir de 1 de Maio de 1983 até aos nossos dias, mais uma troca, continuou a
ser usada a mesma que acima descrevi, apenas deu-se um melhoramento ao emblema,
tudo o resto manteve-se igual.
Caros deputados, se não for pedir muito, acho que
esta questão também deve ser submetida a um debate público na sociedade, em
particular a classe estudantil e intelectual e observar-se a opinião dos
cidadãos para juntos encontrarmos uma plataforma que vá ao encontro daquela que
seja uma verdadeira bandeira nacional, que mesmo que o país
mude de regime um dia, ela não seja afectada.
Eis
algumas das sugestões que me ocorrem:
–
que se mude a bandeira nacional na totalidade por uma mais abrangente e que
dure eternamente.
–
que se mantenha o actual padrão, mas sem a imagem da arma que está fora de
qualquer contexto e que expressa uma violência absurda, em pleno Sec. XXI.
–
que se mantenha tudo igual, apenas que se substitua o emblema por uma pomba ou
outro objecto de concenso.
–
finalmente e a mais agradável para mim seria trazer de volta a bandeira
“quadricolor” que se usou após a independência, claro sem qualquer emblema
imbutido nela.
Caros
deputados, eu sei que as vozes do burro não chegam ao céu, mas ao menos
zurram...
Fahed
Sacoor - fsacoor03@yahoo.com.br
In
Moçambique para todos – 10.08.2012
1 comentário:
apoio, pois a imagem simbolica que transparece com aquele simbolo e que somos um pais apologista da violência...
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